Capítulo 9

276 18 1
                                    

Com isto tudo estou cheia de fome, ainda nem jantei... O dia foi logo, estaciono e enquanto caminho para o prédio ouço uma batida forte de música. Noto que a porta de entrada está aberta, o que não é normal, a música definitivamente vem dali e já cálculo de onde seja.
À medida que subo as escadas há uma rapariga sentada no 1º andar encostada à parede num estado miserável. Continuo a subir , a cada nível o som intensifica-se e ao chegar ao meu andar (5º) tem um grupo de jovens a fumar e com bebida nas mãos, a porta do apartamento está entreaberta mas a música está bastante alta, entro e há uma multidão de gente na minha sala de estar, apenas há algo que emite luzes de várias cores a girar pelas paredes e pelo tecto, a música agora é uma batida trance psico, porra estes gajos não sabem parar... Há pessoas a dançar, outras a fumar, a beber ou a "namorar".

 A sorte é que somos praticamente os únicos moradores do prédio, tem um casal que tem dois apartamentos  no 2º andar mas que apenas os têm como arrendamento para férias... No rés de chão há uma senhora velhota, mas fora isso o prédio é nosso.

Procuro entre a multidão a Danny mas não encontro, então avisto o Jake do outro lado da sala e tento o alcançar com muito custo. Ele está com a mesa de misturas da Danny em cima da mesa da cozinha, a passar som com a sua coluna enorme ao lado.

- Jake!!! - grito quando o alcanço mas ele não me ouve, tem os fones de ouvido metidos- JAKE!!!
Ele olha e ao perceber que sou eu faz uma festa, literalmente.
- God sake Jake, TOUNR IT DOWN!
- WHAT? - Ele pergunta ao não entender.
- TOURN THE FUCKING MUSIC DOWN! – grito farta da loucura dos meus colegas de casa.
Ele como resposta ri-se e abraça-me, tresanda a macona, de seguida desliga a música. Por momentos pensei que ele ia me obedecer mas depois pega no microfone e grita para a multidão.
- PEOPLE PETRA IS HERE!

As pessoas gritam aparentemente contentes, eu desisto. Começo a me dirigir para o meu quarto, a música volta com uma nova batida, algumas pessoas ao me ver dão me pancadas nas costas e cumprimentam, ou apenas chamam o meu nome como se eu conhecesse desde sempre, alguns sim, outros apenas de vista, outros nunca vi na vida...
Finalmente chego à porta do meu quarto, abro e vejo um gajo sentado na minha cama com as calças para baixo a receber um broche da tipa romena que conheci hoje mais cedo...
A minha reação é gritar "Saíam daqui caralho!" E instintivamente pegar em algo que tenho em cima da cómoda e atirar para os enxotar, um livro voa pelo quarto e a lombada bate mesmo sob a zona H do jovem... Wow 20 pontos para Grynfindor! Tenho cá uma pontaria.
O rapaz grita encolhendo-se e a romena assusta- se, parece que estava tão concentrada na sua tarefa em mãos, literalmente, que nem se apercebeu que tinha entrado...
- FORA DAQUI! - grito aproximando-me e puxando a gaja pelo cabelo para se levantar, não quero saber, eles estão a foder no meu quarto, na minha própria cama!!!
A rapariga grita agarrada à cabeça o rapaz levanta-se e veste os boxers à pressa, ainda com uma expressão de dor diz.
- Que foi isso?
Eu já não podendo os ver na frente não sou de remessas e dou um soco na cara do estúpido, pois ele não sabe que eu até aos 16 anos pratiquei Kempo ensinado pelo meu pai, uma arte marcial de auto defesa.
Ele tomba para trás, não estava à espera, a romena grita qualquer coisa que não entendo e agarra-me no ombro, viro-me para ela, não venhas tu também...
- FORA! - grito pegando no braço magro dela e levo até à porta, olho para o rapaz que está apoiado na minha cómoda com a mão na cara, pego no seu colarinho da blusa e também o meto lá fora - FORAAAA! - grito fechando a porta violentamente e trancando de seguida.
Ok acabei por perder o apetite, tiro a roupa da cama e atiro para o chão, que nojo! Não é que eu nunca tenha visto, ou melhor que nunca tenha feito mas...
Aeg só de pensar...

Pronto ok é verdade, é óbvio que já estive com rapazes, quando tinha 15 anos namorei com um tipo que era 3 anos mais velho que eu, o Rúben, ele era fixe, o gajo da terra que era visto como o gingão que todas queriam e adivinhem só com quem ele foi se encantar... a mazona Petra... A verdade é que sempre andei na companhia de malta mais velha que eu, tinha 15 mas aparentava ser já maior de idade, era alta e bem constituída então nunca tinha daqueles problemas chatos de me pedirem cartão de identificação para entrar em bares ou comprar álcool ou tabaco. Eu e o Rúben namoramos durante 2 anos, andávamos os dois na mesma escola, não era de surpreender que a minha mãe o adorasse... Aos olhos dela ele era um rapaz de ouro, bonito, bem-educado, boa família, com carro, tinha boas notas... e não me refiro só às notas dos testes...
Mas o que ela não sabia era como ele era fora do olhar das pessoas que pensavam o conhecer, a sua postura de lindo menino caía por terra e virava um bad boy, era isso que me atraía nele, tínhamos o mesmo feitio, modo de pensar, a adrenalina e loucura, diversão sem querer saber de nada. Mas não sei explicar porquê nunca o vi como namorado mas sim um melhor amigo, companheiro de aventuras.
Muitas vezes ficava na casa dos seus pais, jogávamos PlayStation a noite toda e víamos filmes de terror, nada daquilo que seria de pressupor quando um casal de namorados adolescentes fizesse quando passa uma noite juntos...

Mas uma noite depois de uma festa, chegamos à sua casa e ele começou com aquele seu gingar meloso, não sei se por efeito do álcool, eu também estava tocada, então acabei por cair na cama e ele inclinado sob mim a dizer que era linda, acabamos por esquentar o ambiente, lembro de ter ficado a pensar para mim enquanto ele ajeitava o preservativo "Tu consegues Pet, tu consegues... Sê normal...". Resumindo os minutos seguintes numa só palavra: Horrível.

Doeu, durou pouco tempo para poder ter sentido alguma coisa chamada prazer e no fim sentia lágrimas a me escorrer pela cara, em silêncio não me pronunciei mais, ele acabaria por adormecer e eu fiquei desfeita, imóvel metade vestida metade despida na sua cama... Lembrava aquilo que a minha mãe me dizia vezes sem conta "Petra quando chegar a altura de tu e o Ruben darem o passo seguinte lembrem-se de ir com cuidado". Que cuidado? Ele apenas tinha acabado de me atropelar sem ter dó, mesmo eu estando na passadeira... (Ironias)

Nos tempos que se seguiram ele tentava ter alguma coisa, mas eu sempre metia um travão. Veio o verão e as férias grandes, e chegou à terra as netas de uma vizinha que estavam em França.
Uma delas com a mesma idade que eu na altura (16 anos) a Louise começou a se dar comigo. Íamos para todo o lado juntas, à praia, ao shopping, cinema... Um dia quando estávamos em minha casa, beijei-a e para minha surpresa levamos o verão inteiro nos beijando... (Ironias)
O Rúben passava os dias a trabalhar no restaurante do pai e eu não sentia necessidade de lhe contar aquilo que nós tínhamos, eu gostava dela como nunca tinha gostado dele, não queria o magoar. Mas comentários começaram a aparecer, os meus amigos começaram a falar coisas, pois tinha deixado de me dar com eles passando o tempo todo com a minha nova "amiga" até que um dia eu e o Rúben nos encontramos e ele perguntou se era verdade que existia algo entre mim e a imigrante. Ele deixou de me falar, aliás praticamente todos deixaram de me falar, apenas os amigos verdadeiros continuaram a meu lado, como a Danny, que já naquele tempo era uma Gay Pride, e mais alguns.
O verão acabou e a Louise foi embora, mas a partir daí tornei-me num bom prémio para ser conquistado não só por rapazes mas também por raparigas, andei com mais umas que eram da minha escola mas nada de especial. Mas Foi por causa da Louise que ganhei coragem para contar para os meus pais que era homossexual, o resto da história já se sabe... Mais tarde na faculdade vim a gostar de uma rapariga mas isso fica para depois...

Dispo-me e deito-me na cama, está calor apesar de estar em Maio... A música escapa para dentro do quarto mesmo com a porta fechada que abana de vez em quando.
Me viro na almofada, com essa barulheira é óbvio que não consigo dormir.
Mas que dia este... Foi o drama com Diana, o seu noivo... Pergunto-me o que terá acontecido quando ele chegou em casa... Hum... Na verdade não quero saber!
Depois aquela situação no metro, Luna... Gostei muito de a conhecer, uma rapariga meiga que não merece o namorado que tem... Por momentos lembro da tarde com a Mónica, mas decido descartar logo as imagens da minha cabeça, como eu consigo continuar nisto com ela? Por amor da santinha Pet, ela fode bem sim... Mas tenho que parar de brincar assim, ainda acabo com VIH!
A porta do quarto estremece, vejo que alguém tenta abrir mas está trancada, oh boa mais um casal à solta.
- Vão embora! Não há quarto para ninguém! – Grito.
Naquele momento o meu telemóvel vibra em cima da mesa-de-cabeceira, alcanço e me admiro de ver quem é naquela hora da noite...
Atendo tapando a orelha que não tem o telemóvel para poder abafar o som da música.

- Luna? – Pergunto, admirada pela sua chamada.
- Oi – Sua voz é abatida – Espero não te ter acordado...
- Não, não, tudo bem! – Respondo logo tranquilizando – Que se passa? Estás bem?
- Não... - Luna responde num sussurro que quase não consigo perceber.
- Luna? Que foi? Que aconteceu? – Ela está a me preocupar.
- Dá para vir ter comigo? – Ouço soltar um soluço, está a chorar.
- Sim! Sim claro! Me envia o endereço que vou ao seu encontro! – Neste momento estou de pé, pronta para vestir qualquer coisa e sair.
- Ok – Ela responde a custo, como que sem forças.
- Até já – Digo e a chamada caí.

Olho fixamente para o telemóvel, são 04:00h. 


Por favor não se esqueça de deixar o seu voto e comentar. Isso me dará motivação para continuar ;)

Apenas ela, só ela...Onde histórias criam vida. Descubra agora