Em 20 minutos chego à casa da minha mãe. Toco a campainha e uma senhora baixinha, de 1,60m de altura, cabelo preto apanhado em coque e roupas muito sofisticadas abre a porta.
- Onde está ela? - Pergunto sem sequer cumprimentar a minha mãe, e como resposta à minha pergunta uma menina franzina desce disparada as escadas a gritar o meu nome e salta para os meus braços. Ouço a minha mãe a dizer algo como "Sofia não corras, acabas-te sair do hospital!" Mas nós não nos importamos. Ah como eu adoro esta pequena.
- Como estás princesa? - Pergunto animada por a ver novamente.
- Melhor agora - ela aperta tanto o meu pescoço quando me abraça.
Eu abraço-a forte de volta. Está mais crescida, noto que está um pouco mais pesada, o que é bom e o espaço que lhe faltava de um dente já está quase preenchido por um dente definitivo.
- Vá já chega, a Sofia tem que descansar - diz a minha mãe aproximando-se e tenta tira-la dos meus braços, felizmente a minha pequena não me larga, nem eu a ela.
- Mas eu quero estar com a Petra! - A menina retoca abraçando-me com mais força.
- Sofia... - Quase que saltam os olhos à minha mãe de raiva.Suspiro, coloco a minha irmãzinha no chão e ela mostra desagrado.
- Não, não... não quero que vás já embora! - Diz a menina agarrando as minhas mãos e implorando.
- Sim meu amor eu não me vou embora. Vai só para a caminha e eu já lá vou ao quarto sim?
Ela acena com a cabeça e desaparece a correr pelas escadas acima.Ficamos a sós, eu e a minha queridíssima mãezinha...
- Podias não ser tão bruta com a menina? Sabes o quanto gosto dela - digo com um tom de voz nada agradável.
A minha mãe bufa, senta-se no sofá e olha para mim com ar depreciativo.
- Estás cada vez mais com ar ainda mais desgraçado- diz me com arrogância.
- E tu mais velha- respondo na mesma moeda.
Ela ri com desdém. Arg como eu odeio que ela faça isso...A relação com a minha mãe não é das melhores, ou por outras palavras, é péssima, tudo isso se tornou assim quando ela descobriu que eu era lésbica.
Na altura tinha 16 anos, os meus pais tinham-se separado há 2 anos e a minha mãe passado tão pouco tempo já se encontrava grávida da Sofia e com o Jorge, o seu atual companheiro. O meu pai? Coitado, teve que lidar com uma traição, um divórcio e um cancro. Infelizmente fiquei à guarda da minha mãe porque o tribunal declarou que o meu pai não iria ter posses para cuidar de uma menor por causa da doença.
Lembro-me de num dos fins-de-semana que estava com ele, lhe ter dito que gostava de raparigas e que ele me abraçou e disse que ficava feliz por ter tido coragem em contar-lhe, juntos conversamos acerca do assunto e que ele iria dar todo o seu apoio como tinha feito sempre na minha vida, fosse que circunstância fosse. Como eu amava-o.
Já a minha mãe terá reagido de forma muito diferente, estávamos aqui, nesta mesma sala de estar, a ver a novela quando eu lhe disse precisamente as mesmas palavras que tinha dito ao meu pai.- Mãe? - Perguntei a medo, chamando a sua atenção.
- Sim? - Ela não desviou sequer o olhar da televisão.
- Tenho uma coisa para te contar... - Falei mas ela nem se mexeu - Eu... eu gosto de raparigas! - Completo aquilo que me estava atravessado na garganta fazia tempo.
Se o apocalipse existisse um dia, seria uma cena daqueles instantes que se seguiram, a minha mãe desatou aos berros comigo, a dizer que estava louca, que isso eram as companhias com que eu andava, ela referia-se à Danny, que era uma vergonha, que não tinha sido educada daquela forma, devia ter vergonha na cara...
Bem eu não tive reação, sei que fiquei a ouvir tudo e mais alguma coisa, barbaridades vindas da minha própria mãe... e quando eu tentei contra-argumentar na minha santa inocência dizendo "mas eu não tenho culpa, nasci assim...".
Bem digamos que foi aí que o melhor do espectáculo sucedeu, ela começou a se sentir mal, a berrar que o bebé não estava bem, o Jorge apareceu entretanto e agarrou-a que bracejava e respirava compulsivamente como que o ar não fosse suficiente, enquanto tentava gritar aos poucos que se perdesse o bebé a culpa era minha.
Bem chamou-se a ambulância e só no momento em que a vi a ser levada numa cadeira de rodas tive a reação de me aproximar dela, queria pedir desculpas, dizer que não queria que ela ficasse assim, que não queria que o bebé ficasse mal... Mas ela apenas preferiu proferir as palavras que nunca esquecerei, preferiu me impedir de a alcançar dizendo "Não te atrevas a chegar perto de mim! Tenho nojo de ti! Nunca mais me apareças na frente!".
Senti o meu corpo gelar. Dali vi-os entrar na ambulância e ir embora.

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Apenas ela, só ela...
RomansaPetra é uma garota mazona, que pensa que tem o controle sobre tudo, mas um dia conhece Luna... Ela não é como as outras... É diferente, especial? "Apenas ela, só ela..." é um romance lésbico totalmente fictício, uma históri...