Capítulo 10

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Parece que levei um choque, caminho de um lado para o outro no quarto, pego umas calças pretas, uma sweatshirt qualquer... Ela ligou-me. Está mal... Pego as minhas botas pretas, ela estava a chorar... Vou até à cama e tomo o telemóvel nas mãos, recebo a mensagem apenas a mencionar o parque central da cidade... Estranho. A essa hora da noite ela está no parque da cidade? Me olho no espelho, realmente minha mãe tem razão, olha só essas olheiras Pet? Tento passar as mãos pelo cabelo mas não dá em nada, por isso ato.
Pego as minhas chaves de casa, minha mochila de couso preto onde guardo a carteira e o tabaco. Vou para sair mas volto atrás, pego os lenços de papel, recordei que ela chorava por isso acho que vai dar jeito.

Quando abro a porta sou praticamente teletransportada para um festival de música, na sala as pessoas continuam a festejar como se não houvesse amanhã... Tranco a porta do quarto, não quero intrusos novamente na minha cama, caminho aos empurrões até ao outro lado da sala tentando alcançar a porta mas é difícil no meio de tanta gente. Vejo a Danny no sofá a "comer" uma qualquer. Oh ela nunca se cansa? Enfim, é a Danny...
Saio porta fora, nas escadas estão dois rapazes, um deles tenta dar cantada para mim mas eu passo sem importar, apenas quero chegar ao parque, chegar a ela. Talvez se não fosse assim com o atrevimento do estupor, em outras circunstâncias talvez já estaria a dar um soco ou patada no convencido, mas hoje não... Ele não merece a minha atenção, tenho que chegar ao parque depressa.

Em +/- 12 minutos estou a estacionar o carro perto do parque, envio uma mensagem a Luna a perguntar em que parte do parque está.
"Junto à fonte ☺" responde.

Estranho ela enviar um emoji de uma carinha feliz, quando presumo que feliz deve ser o que menos deve estar neste momento. Tranco o carro e sigo a passo apressado. O parque não é propriamente o lugar mais iluminado da cidade, desconfio que até seja perigoso para ela estar ali sozinha naquela hora da noite, ou estará acompanhada? Se calhar contou ao namorado que fomos almoçar e agora quer acertar contas! Mas só foi um almoço...
Finalmente a avisto, está sentada num dos bancos de jardim. Tem um gorro bege na cabeça e um sobretudo verde tropa, tem ainda um cachecol ao pescoço. Noto que tem um saco desportivo junto de si, que terá acontecido?

Continuo a caminhar ao seu encontro, noto que ela não está bem, quando me vê Luna corre para mim e me abraça! Não sei quanto tempo aquele abraço durou, talvez foi apenas um minuto, mas por mim podia ficar naquele abraço apertado a noite toda.
Tem a cabeça no meu peito mas mesmo assim consigo ouvir os seus soluços abafados.
- Shhh, está tudo bem – Digo fazendo carinho nas suas costas – Vai ficar tudo bem.
Luna não diz nada, apenas continua a chorar. A noite está gelada, é primavera mas as noites continuam frias.

- Olha porquê que não vamos até ao meu carro e falamos? – Pergunto esperançosa que a faça reagir, mas não, ela continua a chorar perdida no meu peito – Eu ligo o aquecimento? – Insisto tentando alguma graça.

Ela afasta-se e funga. Os seus olhos tristes cruzam-se com os meus, parte-me o coração ver a mesma pessoa com um sorriso lindo com que almocei faz umas horas, estar naquele estado agora. E posso apostar que sei quem seja o culpado...
- Vamos? - Estendo a mão, ela apenas aceita, sem proferir uma única palavra, toma minha mão. Alcanço o seu saco e seguimos até ao carro.

- É perigoso andares por aí sozinha nesta hora da noite – Começo ao entrar no carro e ligar o aquecimento – Podia ter te acontecido alguma coisa de mal...
- Mais ainda? – Ela sussurra.

De repente parece que a temperatura dentro do carro baixou 30 graus, mesmo estando o aquecimento a funcionar. Por uns minutos não falamos, espero que ela tome iniciativa mas apenas olha pelo vidro me ignorando, tal como fez no metro.

- Luna, não queres desabafar? Contar porquê me fizeste sair de casa a esta hora da noite? – Digo com uma voz meiga, não quero ser bruta pois sei que está frágil e que o seu interior deve estar bastante revolto neste momento.

Ela olha para mim, o seu olhar é vibrante, tem os olhos inchados de tanto chorar, mas mesmo assim o azul intenso dos seus olhos não deixa de ser encantador. Noto que escorre uma lágrima solitária sobre as suas peculiares sardas das maçãs do rosto, então saco do pacote de lenços de papel da mala, sabia que ia dar jeito, retiro um e limpo a gota. Ela agora esforça um pequeno sorriso.
- Luna, podes falar comigo – Pego na sua mão, está gelada, pergunto-me quanto tempo terá estado ela ali ao frio.
Ela engole em seco, pegando no lenço que lhe dei enxuga outra lágrima, então parece que ganha coragem e finalmente fala.
- Eu fugi de casa – Diz olhando para as mãos. Mas porquê que ela sempre baixa a cabeça nesses momentos?

Ouvir aquilo não me surpreendeu, pois o seu saco estava bastante pesado para ter apenas algumas roupinhas...
- Mas que aconteceu? – Pergunto levantando o seu rosto e metendo o seu cabelo atrás da orelha.
O seu lábio treme por instantes, mas de seguida inspira vigorosamente, tentando manter o controlo.
- Foi por causa dele? – Pergunto não aguentando mais.
- Sim... - Ela sussurra.
- Eu sabia! – As palavras saem inconscientemente da minha boca... - Quer dizer... Desculpa...
Ela abana a cabeça, aparentando que o meu comentário não tenha feito qualquer dano em sí.
- Eu não tenho para onde ir – Diz, desta vez olha para mim, olhos nos olhos, esperançosa.
- Nenhum lugar? – Ela abana a cabeça – E os teus amigos?
Luna revira os olhos como se tivesse dito a maior barbaridade de todas...
- Os meus amigos são os mesmos que ele... - Ela retoca, que coisa obvia não?
- Os teus pais? – Pergunto e a resposta é imediata.
- Não!
- Não tens mais família na cidade? – Ela acena com a cabeça negativamente e desta vez é ela que toma minha mão.
- Pet, eu sei que te conheci nem faz 24h, mas eu preciso mesmo da tua ajuda! – Ela aperta a minha mão, em busca de socorro – És a única pessoa que o Nuno desconhece ser minha amiga, não tem como te contactar e não sabe onde é a tua casa por isso te peço...
Eu tento abafar uma gargalhada. Luna não entende e fica a olhar para mim.
- Não me leves a mal, mas ficares na minha casa... - Tento não rir de novo mas é difícil, se ela soubesse a loucura que está a minha casa neste momento... - Olha acho que vai ser complicado ficares na minha casa, pelo menos esta noite...
O seu olhar é perdido, não entende, rapidamente liberta a minha mão.
- Estava mesmo convicta que ias-me ajudar... - Ela fala fechando o rosto, está séria, não contava que lhe negasse estadia.
- Calma! Eu não disse que não ajudava! – Ao ver a sua cara de desapontada, decido tentar explicar o que é a minha casa – Acredita que não vais querer passar a noite na minha casa que mais parece uma residencial de estudantes universitários...
Luna bufa e se recompõe no assento do carro.
- Massss... - Continuo – Podes ficar num hotel esta noite e amanhã logo se vê... - Proponho observando-a calculosamente. Luna encosta-se para trás e esfrega os olhos.
- Pet eu não tenho muito dinheiro... - Ela começa mas eu a corto.
- Eu pago.
Fica a me olhar, mexe no cabelo e no fim consente.

Conduzo até um hotel ali perto que sabei que é bom e barato. Estaciono, pego no saco desportivo da Luna e encaminhamo-nos para a entrada do hotel.
No balcão está um homem bonito, engravatado que nos cumprimenta educadamente.
- Boa noite, ainda tem algum quarto disponível? – Pergunto tendo consciência da hora avançada da noite.
- Para quantas pessoas? – Pergunta o homem.
- Duas – Luna nem me dá tempo de responder.
Arqueio as sobrancelhas olhando para ela.
- Muito bem – Fala o rececionista olhando no monitor – Tem um quarto de casal no 2º andar.
- Ok – Diz Luna secamente me encarando.
Assinei um papel com o nome em que ficava a estadia e passado uns minutos, o homem entrega a chave do quarto 209 e seguimos para o elevador. 

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Apenas ela, só ela...Onde histórias criam vida. Descubra agora