Dezoito

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                   Maya


Quando o avião aterrissou em Phoenix o tempo era outro.

Finas camadas de neve e o vento gelado foram substituídos por um sol escaldante e um mormaço de meio-dia que nos fazia ter a sensação de estar no meio do deserto.
Imediatamente preferi o tempo frio e chuvoso de Nova York.
Arrastei minhas malas e o que sobrou da minha coragem para um táxi perto dali, e pegamos a estrada em direção a minha casa.

Jenna fez questão de me acompanhar até o aeroporto em Nova York e esperou pacientemente pelo meu embarque meia-hora depois. Todo o meu plano de ir até Arthur foi por água abaixo. Acho que a sorte realmente não estava do nosso lado.

Tudo estava embrulhado dentro de mim. Minhas mãos pareciam ter ganhado vida própria, junto com minhas pernas que balançavam nervosamente.
Estava tentando ao máximo me preparar para o que viria de Anne, mas a verdade era que eu não conseguia deixar de me sentir incrivelmente culpada por ter deixado as coisas terminarem dessa maneira.
Ela em todos esses anos nunca me preparou para sair de um concurso com menos do que uma faixa, um título e uma coroa.
Seria terrível de encarar.

O carro parou em frente ao lugar que eu conhecia desde criança e que agora era tão assustador para mim. Meu celular voltou a vibrar dentro da bolsa. Desde que deixei Nova York ele era bombardeado por ligações e mensagens de Anne. Ignorei todas elas. Eu não precisava ficar ainda mais nervosa.
O rapaz do táxi me olhava com admiração e me ajudou a carregar as malas até a porta de entrada. Paguei pela corrida, tentando sorrir gentilmente para ele que voltou para seu lugar ainda com os olhos cravados em mim.
Esperei alguns instantes para poder tocar a campainha. Fechei os olhos e esperei mais um pouco. Segundos depois a porta foi escancarada e um John de aparência cansada surgiu no lugar.

- Maya! - ele disse com alívio e surpresa.

Senti lágrimas enchendo meus olhos de repente e me joguei em seus braços.

- Pai... - chorei apertando o abraço.

- Querida... - ele afagou meus cabelos. - Não precisa chorar. – riu suavemente.

Com certeza ele não estava sabendo de nada.
Assim que me soltei dele, sentindo-o depositar um beijo em minha testa, notei Anne entrar em meu campo de visão.
Ela estava surpresa, nervosa e provavelmente muito curiosa para saber o motivo da minha volta.

Então Jenna não tinha contado a história para ela. Deixou que eu fizesse.

- O que aconteceu, Maya? Por que voltou assim?

- Anne, deixe a menina. - John pediu com irritação.

- Eu quero saber por que você está aqui se a final do concurso será daqui a três dias! Que merda você fez Maya? - me olhou agitada.

- Mãe... - engoli em seco.

- Vamos lá, estou ouvindo! - mandou irritada.

Como eu diria pra ela que fui eliminada?
Oh, merda, como eu diria que fui eliminada porque estou grávida?

- Vamos Maya! Exijo uma explicação! - bateu as mãos impaciente.

- Eu fui eliminada. - murmurei, com o coração saltando no peito e vendo seu rosto mudar de aborrecido para furioso num segundo.

- Você foi o quê? - sua voz saiu falsamente controlada e eu não respondi.

Meu pai me encarava com cautela. Posicionado estrategicamente entre nós duas.

- Como você deixou isso acontecer? Nas vésperas do concurso! O que você fez sua idiota? - gritou.

- Anne, não vamos perder a calma... - John tentou equilibrar as coisas.

Belos PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora