Nove

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                             Arthur



Despertei com as batidas de Ethan logo cedo em minha porta. E era mesmo um azar para ele que justamente hoje meu humor estivesse péssimo para suportar suas brincadeiras.
Tive uma péssima noite depois do bolo que Maya me deu, me deixando sozinho fitando a piscina feito um idiota.
Será que o beijo não significou pra ela o mesmo que significou pra mim?
Ela não parecia ter odiado nem nada do tipo, mas vai entender as mulheres...
Eu por muito pouco não bati na porta dela ontem à noite. Mas decidi que era melhor sair um pouco e não tentar insistir. Provavelmente ela tinha um motivo para ter feito isso e eu com certeza vou procura-la hoje afim de uma explicação. Nem que seja só pra ela me dizer que nada mudou para ela e que prefere se afastar e manter as coisas como eram antes.
Argh! Maldita cabeça que não para de criar diversas situações uma pior que a outra.
Eu precisava me concentrar hoje. Era um dia cheio.
E foi exatamente nesse momento que Jenna cruzou meu caminho. Simpática como sempre.

- Você e sua equipe na minha sala em cinco minutos. Reunião. - cacarejou sumindo rapidamente dentro do elevador, carregando inúmeras pastas.

Ethan me olhou, com cara de tédio, e fez uma careta para a porta agora fechada.

- Essa mulher não relaxa nunca? - brincou.

- Ouviu o que ela disse. Avise ao pessoal. - pedi também mal humorado.

Ele fez um barulho irritante antes de seguir a passos largos na direção contrária e eu peguei o próximo elevador, descendo até o lobby.

Meu plano inicial era tomar meu café, subir para a reunião com a chata da Jenna e dar um jeito de encontrar Maya por aí antes do desfile à noite. Mas meus planos perderam o rumo assim que a avistei do outro lado, segurando um prato e me olhando com um brilho contido no olhar.
De repente meu mau humor pareceu evaporar e eu esqueci que ela era a mesma garota bonita que tinha me feito de bobo na noite passada. A mesma que me fez perder boa parte do sono pensando o que de tão grave ou ruim teria acontecido com ela.
Não sei que droga ela tinha, mas me atraía como um ímã. E logo eu não conseguia evitar ir em sua direção, esquecendo um pouco minha irritação e querendo mais do que tudo ouvir os seus motivos pelo perdido que ela me deu ontem.
Seus olhos me fitaram assustados e eu fiquei confuso por um instante antes de cumprimenta-la.

- Maya. - deixei escapar, ela sorriu minimamente antes de responder.

- Oi.

Duas letras nunca foram tão suaves e tão fortes ao mesmo tempo. Senti vontade de senti-las serem repetidas sob minha boca...
A voz da mulher ao seu lado me tirou dos meus devaneios e eu a fitei, notando o quão interessada ela estava sobre mim.

- E você é? - indagou sugestivamente.

Sua ansiedade, no entanto pareceu evaporar quando me apresentei como um simples médico. E ela foi extremamente rude.

- Mãe! - Maya reclamou mortificada e a mulher não deu à mínima.

Então essa era a mãe dela... E provavelmente era também o motivo pelo qual ela me deixou esperando.
Seu olhar ainda era de desdém quando mencionou uma piada venenosa sobre o meu trabalho. Tentei não soar tão rude quanto ela merecia em minha resposta, por respeito à Maya. Mas que a mulher merecia, ah, merecia.

Ela pareceu se incomodar com minha presença e eu a chamei para conversar. Ela assentiu, mas sua mãe a segurou pelo braço e a arrastou para longe, soando extremamente grossa quando disse.

-  Não será possível doutor Collins. Maya tem muito que fazer no momento, com licença.

Apenas observei elas sumirem após as portas de vidro. Maya aos tropeços, seguindo a mulher furiosa e mal educada que a arrastava feito uma criança.
Seria ela o motivo da insegurança que se escondia lá no fundo daquela Maya que se mostrou pra mim?
Estava na cara que ela não era nem um pouco parecida com o que eu já havia imaginado sobre ela.
Essa versão original estava mais para aquelas madrastas de conto de fadas.

Belos PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora