Cinco

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Maya


O vento chicoteava meus cabelos e a moto disparava acelerada, agora no asfalto vazio. Tentei enxergar alguma coisa do caminho, mas apenas borrões passavam por mim. Meu cabelo voou mais uma vez na minha cara e eu me arrependi por não tê-lo prendido.
Arthur acelerou novamente, me fazendo aperta-lo com mais força e deitar contra suas costas, os olhos fechados e o coração quase saindo pela boca.
O cheiro do seu perfume amadeirado já estava impregnado em minha pele, e vez ou outra sentia seu peito tremer pela risada que acabava escapando ao me ouvir gritar.

- Ei, abre os olhos. Está perdendo o melhor do passeio. - o ouvi gritar por sobre o ombro.

Atendi o seu pedido, abrindo os olhos bem devagar e sentido a brisa fria da noite vibrar em minha pele.
Acabei gostando da sensação de liberdade que essa coisa proporcionava e me mantive bem mais alerta durante o restante do percurso.
Arthur me mostrou a melhor lanchonete de Las Vegas e me fez comer um hambúrguer enorme sob pena de levar algumas palmadas se deixasse sobrar algum pedaço. Claro que eu não consegui comer o meu quilométrico hambúrguer todo e ele me ajudou, antes da garçonete perceber.
Rimos de nossa pequena trapaça enquanto ele me arrastava para fora.

- Achei que você fosse vomitar. - ele riu.

- Talvez eu fosse mesmo. Não cabia nem mais uma migalha daquilo aqui dentro. - comentei me sentindo suada.

- Estômago de miss. - zombou.

- Ainda assim, obrigada por ter me livrado de uma surra.

Ele subiu na moto e me encarou, do jeito que ele sempre fazia. Com olhos curiosos e carinhosos.

- Eu não deixaria você levar palmadas nem de brincadeira.

Senti meus batimentos acelerarem um pouquinho e sorri sem jeito.

- Pra onde vamos agora? - subi de volta, enrolando meus braços outra vez em sua cintura.

- Vou te apresentar ao lugar mais calmo de Las Vegas.

- E existe? - brinquei.

- Você vai ver. - disse, fazendo o motor vibrar embaixo de nós e aquele monte de ferro deslizar suave, pegando a estrada outra vez.

Enquanto ele costurava os carros, eu me vi realmente tentada em deitar meu rosto novamente em suas costas firmes, mas não o fiz.
Ele diminuiu a velocidade e apontou cada lugar que ele considerava legal na cidade, me mostrando uma Las Vegas que eu nunca conheci. Observei ele pegar o retorno da Avenida principal e nos levar por uma estrada vazia e escura. Minutos depois, a moto passava com dificuldade por uma estrada de barro e finalmente parou.
Ele desceu e me ajudou a fazer o mesmo. Encarei o lugar um pouco assustada e sua mão tocou minhas costas.

- Este é o lugar mais calmo de Las Vegas.

- Seu senso de humor é maravilhoso. - debochei, olhando a paisagem ao redor cercada por mato e pedras.

- É sério. Olha direito, vem cá. - me puxou até uma pedra enorme, fincada ali parecia há milhões de anos, subiu e me estendeu a mão. - Vem, Maya.

Suspirei, segurando seus dedos frios e sentindo-o me levar para cima. E então eu parei completamente boquiaberta.

- Arthur... - murmurei, fitando a vista ali de cima e me encantando com toda ela.

- Eu disse. - sorriu, me olhando.

O vento ali em cima era um pouco mais frio e eu estremeci, esfregando meus braços repentinamente. Fiquei abobalhada, olhando toda a brilhante cidade de Vegas vista de cima. Era surreal e... Lindo.
Um hálito quente em minha nuca me fez sobressaltar e senti Arthur envolver sua jaqueta em meus ombros.

Belos PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora