Maya
Meu nariz estava pressionado contra uma superfície firme e macia. Abri os olhos devagar, me situando de onde estava, e percebi Arthur sorrindo pra mim, daquele jeito que ele sempre sorria. Travesso, sorriso de quem aprontava.
- Você estava bem cansada. - sua voz saiu suave.
Eu o olhei, esfregando os olhos ainda sonolentos e voltei a fecha-los quando seu indicador desenhou pela minha bochecha.
Devia ser porque não consegui dormir direito longe dele na noite anterior. Eu já estava tão mal acostumada.- Não vou me importar nem um pouco se quiser me usar de colchão novamente. - murmurou traçando linhas imaginárias pelo meu queixo agora.
- Dormi demais? Que horas são? - perguntei desorientada.
Ele se esticou ao lado da cabeceira da cama verificando seu celular.
- Quase sete. Ainda dá tempo de pegarmos o jantar.
- Não, Arthur. Preciso voltar. - o fitei nervosa. - Eu esqueci meu celular com as meninas e não faço ideia do que pode estar acontecendo lá.
- Relaxa, Maya. Já estaríamos sabendo se algo tivesse acontecido. - falou calmo.
Respirei pesadamente, tentando absorver o máximo da segurança que ele passava e voltei a deitar em seu peito. Seus dedos tocaram meus cabelos, afundando sob os fios, fazendo-os deslizar por entre seus dedos.
- Tem razão. Nada está acontecendo. - resmunguei, tentando mesmo me convencer.
Ficamos em silêncio por longos minutos até ele recomeçar a falar. O barulho da chuva aumentando lá fora, diminuía o som de sua voz.
- Você não comeu quase nada do almoço. - gemi internamente ouvindo o sermão contido em sua voz.
- Estava um pouco sem fome.
- Maya. - seu tom foi de alerta.
- Sério Arthur. - garanti e ele respirou fundo.
- Por favor, Maya, seja lá o que você estiver planejando pare agora. Você não precisa disso. Você é perfeita do jeito que é e ninguém tem o direito de mudar isso. Ouviu bem? - levantou meu queixo para ele.
Assenti lentamente, sentindo minha garganta fechar um pouco e meus olhos pinicarem.
Oh, merda! Eu ia chorar.- Hey, garota... - ele sussurrou quando escondi meu rosto em seu pescoço. - Por que está chorando?
Inspirei seu cheiro ali, secando rapidamente algumas lágrimas fujonas.
- Não sei... O jeito como você me vê me faz... Me faz achar que sou sempre boa o suficiente.
- Você é boa o suficiente, Maya. Pare de achar o contrário. Sua mãe não tinha o direito de fazer você se enxergar sempre como pouca coisa. - reclamou aborrecido.
- Ela só queria me preparar para este mundo, Arthur. Ela sabia que ser menos do que perfeita nunca era o bastante por muito tempo nos concursos de beleza. Você sempre tem que ser mais e mais e isso cansa às vezes. - expliquei.
Ele suspirou.
- Quando você vai parar de carregar toda a culpa, Maya?
Não respondi.
Ele se remexeu na cama, me afastando e levantou. Fiquei o encarando e sua mão foi estendida em minha direção.- Vem aqui. - chamou, agarrando meus dedos e me levando até um espelho que estava grudado na parede azul.
Eu encarei meu reflexo confuso no espelho. Seus dedos apertaram firmemente minha cintura e observei seu queixo descansar na curva do meu ombro, e depois seus olhos se fixaram em mim pelo espelho.
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Belos Pedaços
RomanceUma infância baseada em concursos de beleza, e a briga constante para ser sempre a melhor. Maya Thomas, aos Vinte e Um, dá mais um passo tentando alcançar a coroa e ganhar o tão almejado título de Miss Universo. Ela só não imaginava que essa seria...