Catorze

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                    Maya


Meu nariz estava pressionado contra uma superfície firme e macia. Abri os olhos devagar, me situando de onde estava, e percebi Arthur sorrindo pra mim, daquele jeito que ele sempre sorria. Travesso, sorriso de quem aprontava.

- Você estava bem cansada. - sua voz saiu suave.

Eu o olhei, esfregando os olhos ainda sonolentos e voltei a fecha-los quando seu indicador desenhou pela minha bochecha.
Devia ser porque não consegui dormir direito longe dele na noite anterior. Eu já estava tão mal acostumada.

- Não vou me importar nem um pouco se quiser me usar de colchão novamente. - murmurou traçando linhas imaginárias pelo meu queixo agora.

- Dormi demais? Que horas são? - perguntei desorientada.

Ele se esticou ao lado da cabeceira da cama verificando seu celular.

- Quase sete. Ainda dá tempo de pegarmos o jantar.

- Não, Arthur. Preciso voltar. - o fitei nervosa. - Eu esqueci meu celular com as meninas e não faço ideia do que pode estar acontecendo lá.

- Relaxa, Maya. Já estaríamos sabendo se algo tivesse acontecido. - falou calmo.

Respirei pesadamente, tentando absorver o máximo da segurança que ele passava e voltei a deitar em seu peito. Seus dedos tocaram meus cabelos, afundando sob os fios, fazendo-os deslizar por entre seus dedos.

- Tem razão. Nada está acontecendo. - resmunguei, tentando mesmo me convencer.

Ficamos em silêncio por longos minutos até ele recomeçar a falar. O barulho da chuva aumentando lá fora, diminuía o som de sua voz.

- Você não comeu quase nada do almoço. - gemi internamente ouvindo o sermão contido em sua voz.

- Estava um pouco sem fome.

- Maya. - seu tom foi de alerta.

- Sério Arthur. - garanti e ele respirou fundo.

- Por favor, Maya, seja lá o que você estiver planejando pare agora. Você não precisa disso. Você é perfeita do jeito que é e ninguém tem o direito de mudar isso. Ouviu bem? - levantou meu queixo para ele.

Assenti lentamente, sentindo minha garganta fechar um pouco e meus olhos pinicarem.
Oh, merda! Eu ia chorar.

- Hey, garota... - ele sussurrou quando escondi meu rosto em seu pescoço. - Por que está chorando?

Inspirei seu cheiro ali, secando rapidamente algumas lágrimas fujonas.

- Não sei... O jeito como você me vê me faz... Me faz achar que sou sempre boa o suficiente.

- Você é boa o suficiente, Maya. Pare de achar o contrário. Sua mãe não tinha o direito de fazer você se enxergar sempre como pouca coisa. - reclamou aborrecido.

- Ela só queria me preparar para este mundo, Arthur. Ela sabia que ser menos do que perfeita nunca era o bastante por muito tempo nos concursos de beleza. Você sempre tem que ser mais e mais e isso cansa às vezes. - expliquei.

Ele suspirou.

- Quando você vai parar de carregar toda a culpa, Maya?

Não respondi.
Ele se remexeu na cama, me afastando e levantou. Fiquei o encarando e sua mão foi estendida em minha direção.

- Vem aqui. - chamou, agarrando meus dedos e me levando até um espelho que estava grudado na parede azul.

Eu encarei meu reflexo confuso no espelho. Seus dedos apertaram firmemente minha cintura e observei seu queixo descansar na curva do meu ombro, e depois seus olhos se fixaram em mim pelo espelho.

Belos PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora