Dezenove

781 86 1
                                    

Maya


Os meus lençóis impecavelmente brancos estavam tingidos de sangue vermelho e quente.
Eu gritei mais uma vez, me curvando pela dor em meu baixo ventre e tentei engatinhar para fora da cama, mas minhas pernas tremiam demais.
Senti falta de ar ao gritar mais forte e repetidamente por socorro.

- Pai! Me ajuda... - minha garganta arranhou.

A porta foi aberta com pressa e o olhar horrorizado de John cruzou com o meu em pânico.

- Maya! Meu Deus! Fique calma querida. - pediu, tentando me ajudar a deitar.

- Não! - neguei chorando e me agarrando nele.

- Calma, calma, filha. Oh, meu Deus preciso te levar ao hospital. - murmurou mais para ele mesmo.

- Está doendo pai... - choraminguei completamente assustada com a quantidade de sangue que saia de mim.

- Calma querida. Por favor... Anne! - gritou pela minha mãe.

Rapidamente ela passou pela porta, parando abruptamente assim que olhou para mim naquele estado.

- Mãe... - chorei, querendo ela me consolando mais que tudo.

Mas seu olhar não era surpreso como o que vi no rosto do meu pai. Ela me olhava como se esperasse por isso.
Não podia ser...
Ela não poderia ter feito isso comigo...

- Anne? - John a fitou confuso esperando pela sua reação. - Anne, vamos, me ajude a levar a Maya para baixo, ela precisa de um médico urgente.

Ela o olhou por alguns segundos e de repente começou a se afastar, dando passos apressados para trás.

- Não. – murmurou correndo até a porta.

- Anne! - John gritou e ela desapareceu batendo a porta atrás dela. - Anne! Volta aqui!
Ele me apoiou sobre a cama e foi até a porta, batendo-a com toda força.

- Anne abre essa porta! – urrou, esmurrando a madeira firme com toda força.

Grunhi me debruçando pela dor que me invadiu mais forte dessa vez. E no meio de tanto espasmos de dor eu entendi o motivo de tanta felicidade de Anne tão repentinamente. Ela tinha planejado isso.
Ela me deu algo pra beber, eu podia afirmar.
Ou teria sido os doces que ela insistiu para eu comer?
A dor estava me impedindo de raciocinar direito e senti minha visão ficar turva.
Ouvi alguns gritos seguidos de um barulho alto, muito alto, antes de finalmente desmaiar.

...

Abri os olhos lentamente e tudo estava silencioso.
Passei longos minutos olhando fixamente o teto branco para só depois perceber onde estava realmente.
Um hospital.
O barulho dos meus batimentos cardíacos sendo monitorado pelo aparelho ao lado preenchia a sala silenciosa.
Encarei os fios colados por meus dedos e braços e finalmente encontrei a agulha que pingava soro em minha veia.
Isso já não era mais novidade para mim.
Tentei chamar por John, mas notei que minha garganta estava machucada e engoli com dificuldade.
Algum tempo depois a porta foi aberta e ele passou por ela, segurando um copo descartável e com enormes olheiras profundas sob seus olhos cansados.

- Oi, querida. - disse se inclinando para depositar um beijo em minha testa.

- Oi. - apenas sussurrei.

- Precisamos conversar um pouco. - me olhou com cautela.

Eu já havia entendido o seu olhar.

- Por favor, pai... Não me diz que... – solucei começando a chorar, minha voz saindo rouca e baixa.

Belos PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora