Vinte e Quatro

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                   Arthur


Um barulho insistente me fez abrir os olhos contra a vontade. O quarto estava mergulhado na escuridão e eu me inclinei acedendo o pequeno abajur perto da cabeceira da cama.
Maya dormia enrolada feito uma bola contra meu peito e eu sorri satisfeito por tê-la ali.
O barulho continuou e eu notei a tela iluminada do aparelho sobre a comoda.  Desvencilhei-me dela com cuidado, indo até o responsável pelo incômodo e o nome Lorenna piscava na tela. Atendi a chamada com um sorriso, ouvindo a voz preocupada do outro lado.

- Caramba Maya, onde merda você se enfiou?

- Nesse momento ela está enfiada na minha cama, Lorenna. Dormindo pacificamente. - disse e a ouvi ficar num longo silêncio.

- Arthur?
Ri da confusão em sua voz.

- Sim. Sou eu, pode ficar tranquila. A Maya não está em perigo.

- Oh meu Deus! Merda! O que... Como...

- Está tudo bem Lorenna. Eu a encontrei hoje mais cedo e ela está aqui comigo.

- Minha nossa! - exclamou.

- Precisa dizer algo importante a ela? - perguntei ainda sorrindo.

- Não! Não, não, está tudo bem. Eu converso com ela em casa. Tchau Arthur.

- Tchau Lorenna.

Sorri para o aparelho, a reação dela foi divertida. Já ia devolvendo-o para a cômoda outra vez quando lembrei que precisava fazer uma coisa que teria evitado muitos problemas se eu tivesse feito antes.
Liguei para o meu número usando o celular dela e salvei meu nome ali, em seguida fiz o mesmo no meu, adicionando seu nome em meus contatos.
Voltei para a cama, com cuidado, tentando não acorda-la. Beijei sua nuca quando me aconcheguei em suas costas, e ela se remexeu, suspirando.
Eu ainda não conseguia acreditar que isso era real.
Tinha medo de tirar os olhos dela e de repente ela não estar mais ali. Ainda estava assimilando sua presença e a história que ela me contou sobre os últimos quatro meses. Senti a ardência em meus olhos, quando mais uma vez, me peguei pensando no bebê que nós dois nunca iríamos conhecer.
Eu poderia matar Anne com minhas próprias mãos se a desgraçada cruzasse meu caminho algum dia.

Maya virou, ficando de frente pra mim, e piscou com sua cara bonita amassada de sono. Eu passei a mão pelo rosto rapidamente, afastando algumas lágrimas que escaparam e sorri para ela, beijando sua palma.
Acho que perdi mais um pouco do meu coração. Já era todo dela.

- Por que está me olhando assim?

- Assim como? - perguntei.

- Não sei. Assim meio estranho.
Gargalhei.

- Acha estranho eu te olhar como se fosse a melhor coisa que eu já quis na vida?

Ela corou e foi malditamente fofo.

- Arthur... - murmurou envergonhada escondendo o rosto em meu peito.

- Eu amo isso em você Maya. - disse afagando seus cabelos. - Eu amo essa garotinha tímida e doce que ninguém conseguiu arrancar de você. Apesar das coisas cruéis pelas quais você passou, ainda existe a minha Maya, a minha garota corajosa e sonhadora que sempre quis ser livre. E agora é.

- Eu amo você... - ela disse com os olhos brilhando.

Meu coração disparou feito bobo.

- Você nem faz ideia de como é bom poder ouvir isso. Realmente acreditei que tinha te perdido pra sempre. - encostei minha testa na dela.

Belos PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora