Dezessete

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                      Maya



- Maya, você viu onde coloquei aquele vestido vermelho de alças finas? - Skye perguntou saindo do banheiro enrolada em sua toalha cor de rosa.

- Não. - respondi concentrada em separar minhas próprias roupas.

Dezembro finalmente tinha chegado e com ele as responsabilidades que quase me sufocavam.
O concurso seria daqui a três dias e eu andava mil vezes mais nervosa.
O fato de não mais encontrar com Arthur estava me fazendo ser engolida por uma tristeza e um vazio tão imenso que me deixava fraca.
Queria poder dizer que tinha parado com os vômitos provocados depois de comer o que não fazia parte da dieta e chorar na frente do espelho me achando gorda, mas não parei. Nos últimos dias minhas crises de vômito vinham até mesmo sem eu provocar e isso me esgotava ainda mais.
Acho que meu organismo já estava tão acostumado com a rotina que eu impunha a ele que nem precisava mais que eu o provocasse para fazê-lo.
Ninguém sabia das minhas crises. Lori era a única que desconfiava, mas eu sempre me esquivava quando ela tentava aprofundar o assunto.
Ela e Skye estavam sempre tentando preencher o vazio. Mas infelizmente elas não eram o Arthur.
Ele me odiaria se me visse fraquejar dessa maneira. Mas era tão mais forte que eu.
James estava sempre por aqui também e às vezes conversar com ele me distraia um pouco.
Tentei ligar para Arthur tantas vezes, mas a chamada nunca era completada e minha visão embaralhava enquanto eu fixava minha atenção no pequeno pedaço de papel amassado.
Um dia eu deveria desistir.
Um dia...

Lori até brigou com Ethan, o acusando de ter passado o número errado mas ele garantiu e insistiu que era esse o número.
Eu não fazia ideia do que estava acontecendo.

- Jenna não poderia ter deixado esse coquetel para outro dia? Agora vamos ter que nos preocupar com mais uma coisa antes da final. - Lori bufou enquanto calçava seu salto.

- Maya você vai se atrasar. - Skye avisou passando por mim e entrando no banheiro.
Dei de ombros, separando um vestido preto e o deixando sobre a cama.

- Está tudo bem? - Lori perguntou preocupada.

Eu assenti, voltando minha atenção para a pilha de roupas a minha frente.
Observei as meninas terminarem de se arrumar e eu ainda estava enrolada em minha toalha.
Não queria ter que descer hoje.
Estava sem a mínima vontade de ver qualquer outra coisa que não fosse a minha cama.
Skye se ofereceu para arrumar meu cabelo e eu neguei. Lori percebeu minha falta de animação e empurrou ela porta afora, me deixando sozinha com meus pensamentos.

Me encarei no espelho assim que terminei de colocar o vestido e fazer uma maquiagem leve. Meu cabelo ainda estava solto e bagunçado e eu quis chorar mais uma vez.
Apertei as camadas de gordura em minha cintura e praticamente gemi de frustração, notando que nem o vestido preto conseguia disfarça-las o bastante.
Eu estava a três dias do concurso e me sentindo infinitamente fora de todos os padrões estabelecidos pelos organizadores.
Na última semana eu cansei em todos os treinos, chegando até a desmaiar em dois deles e ganhando uma imensa bronca da minha treinadora.
E apesar disso, foi mesmo um milagre Jenna não ter descoberto sobre isso.
A porcaria da minha dieta de nada estava adiantando, e eu estava reconsiderando outros métodos mais eficazes urgente. E foi assim que eu descobri por outra candidata que tinha um jeito bastante "eficaz" para controlar meu apetite e consequentemente meu peso. E eu estava tão esgotada que nem pensei duas vezes antes de seguir seus conselhos. Engoli o pequeno pedaço de algodão embebido em água e me senti incrivelmente cheia depois disso. Durante todo o dia não senti a vontade louca de comer qualquer coisa e vi nisso a minha saída e o fim dos meus problemas. Pelo menos o principal deles.
Na noite seguinte, antes de dormir, eu parei pra pensar e percebi que isso era loucura e que eu não deveria entrar nessa. Que esse não era um jeito saudável de conseguir chegar no peso ideal e que poderia me trazer problemas. Mas aqui estou eu novamente, fitando a menina assustada e terrivelmente cansada no espelho, segurando outro pedaço de algodão, agora um pouco maior, embebido em água gelada dessa vez, e prestes a engolir isso.
Não pensei muito tempo sobre o que ia fazer. Apenas deixei que minha cabeça pendesse para trás e deixei o pedaço de algodão viscoso e frio escorregar pela minha garganta.
Engasguei, sentindo uma ânsia enorme e a bile subir por minha garganta, me fazendo tossir e cuspir o algodão para fora. Curvei-me sobre a privada bem a tempo de por toda a água em meu estômago para fora mais uma vez. Mas dessa vez fui atingida por uma crise ainda mais violenta do que as anteriores e tudo que fiz foi me curvar, e curvar até não consegui mais me segurar em meus próprios pés. Cai de joelhos sobre o chão gelado do banheiro e gemi, sentindo minha garganta abrir e fechar com violência. Lágrimas invadiram meus olhos e tudo em mim ardia. Eu pensei que ia morrer. Meus olhos piscaram, fora de foco e ouvi alguém me chamar bem longe. Esse mesmo alguém me sacudiu e senti dedos quentes tocarem minha bochecha incrivelmente fria e suada.

Belos PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora