Vinte e Oito

966 78 24
                                    

                     Arthur

O apartamento que consegui não era tão pequeno. Ficava num bairro tranquilo de Manhattan e era perto da casa de Agnes. Apenas dois quarteirões mais precisamente.
Maya adorou e nos mudamos há cinco dias. E há exatos cinco dias estávamos exaustos, cheios de trabalho, provas na faculdade, coisas para organizar...
Eu estava pegando infinitos plantões e isso estava me consumindo um pouco. Eu até tentei outro horário em outro hospital para ver se conseguia ganhar um pouco mais. Eu precisava de dinheiro já que agora tinha uma casa de verdade pra sustentar. Raymond não ficou muito orgulhoso da minha decisão em assumir um lar agora. Ele achava que tudo isso poderia atrapalhar meu desempenho no trabalho e eu não conseguiria dar conta de levar minha pós até o fim. Acabamos tendo uma leve discussão, na qual eu o fiz entender que abrir mão da Maya estava fora de cogitação.

- Vocês são jovens Arthur. Vai haver outras oportunidades. Termine a pós pelo menos e então você estará mais seguro financeiramente para oferecer um lugar decente a Maya.

Tentou me convencer enquanto eu tinha ido buscar algumas roupas que tinha ficado na casa de Agnes.

- Eu já decidi Raymond - tentei não soar rude, ele não estava fazendo por mal.

- Pense na Maya. Ela está começando a faculdade agora. Você sabe que medicina não é fácil...

Expirei com força soltando a mochila sobre a cama.

- Você pensou em desistir da minha mãe alguma vez?

- Não, mas...

- Não me venha dizer que é diferente porque não é! Você acolheu a Agnes com duas crianças pequenas, que não eram suas biologicamente, e cuidou de nós três, dando duro em plantões cansativos e ainda assim consigo lembrar do seu sorriso ao chegar em casa e olhar para minha mãe. Ainda consigo ver você, mesmo cansado, sentar no chão do nosso pequeno apartamento e nos ajudar com o dever de casa... - engoli o bolo formado em minha garganta e continuei - E depois veio a Ash. Vi você se desdobrar agora para criar três filhos e fazer a sua mulher feliz sem deixar o sorriso morrer. Raymond, você é a pessoa que mais pode me entender agora.

Ele piscou, afastando as lágrimas acumuladas ali e pigarreou.

- Você tem razão filho. Vá construir sua vida. Lutar suas batalhas. Você tem todo o direito.

- Obrigado... Pai. - bati em seu ombro e ele não conseguiu disfarçar as lágrimas que vieram sem sua permissão e me puxou num abraço.

Estava sendo longas batalhas todos os dias, mas a Maya valia a pena todas elas. Ver o seu sorriso, conversar até adormecer, poder abraça-la e beija-la, tê-la ao meu alcance... Eram coisas pelas quais eu era extremamente grato. E não importava o quão cansado eu estava, voltar para casa e encontra-la ali era meu bálsamo de qualquer maneira.

Nossa primeira semana em nosso lugar novo foi difícil porque o tempo não colaborou. Estávamos sempre atolados de coisas para fazer. Eu no hospital e ela na faculdade. Na segunda semana foi quase a mesma coisa, eu chegava do plantão horas depois de ela já ter ido para a faculdade e quando ela voltava eu tinha que sair para minha pós. Não nos sobrava tempo e isso estava estressando nós dois. Raymond tinha avisado que não seria fácil. E eu estava o admirando ainda mais agora depois de sentir um pouco do que ele provavelmente enfrentou. E assim como ele eu também não desistiria.

Na terceira semana eu estive um pouco mais livre e assim pude finalmente dá um jeito e organizar as coisas para deixar nosso apartamento com cara de um lugar habitável.
Quando Maya chegou da faculdade na sexta, eu estava terminando de limpar a sala, que agora estava brilhando e cheirando a limão, graças ao produto de limpeza que eu encontrei no mercado hoje mais cedo. Aproveitei também para abastecer nossa despensa e me arrisquei a preparar algo para o jantar.
Ela olhou todo o lugar boquiaberta e soltou sua chave no sofá enquanto um sorriso preguiçoso se desenhava em seus lábios.

Belos PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora