Vinte e Seis

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                       Arthur

Fixei meu olhar nela até vê-la atravessar as portas duplas sem nem olhar para trás com Skye em seu encalço.
Me xinguei internamente por ter sido tão infantil e ter dado mais um ataque de ciúmes em sua frente. Mas eu não conseguia evitar essa merda. Era a droga de um ácido altamente tóxico que queimava em meu peito e explodia em minhas veias toda vez que a ameaça de uma nova pessoa invadia a vida dela. E James Harrison era essa ameaça. Ele vivia rondando ela, aparecendo nos mesmos lugares, usando Lorenna como desculpa e claramente insistindo.
Não sei se sua insistência em rodeá-la com sorrisinhos divertidos e gigantes a fariam cogita-lo como uma hipótese algum dia.
Isso me assustava como o inferno.

Soltei um enorme bufo exasperado e respirei fundo, vendo Abby parar ao meu lado.

- Você e a Maya estão mesmo juntos hein... - murmurou encarando seus dedos se remexendo nervosamente.

- Estamos. - disse firme e a encarei. - Imagino o quão decepcionada você está por de nada ter valido seus esforços para me afastar dela naquela época.

Ela ergueu seus grandes olhos azuis para mim e sua expressão se tornou tensa.

- Estou muito decepcionada acredite. Mas acho que não tanto quanto você que está parecendo extremamente culpado por algo. O que foi? O relacionamento está em crise? - piscou, sorrindo debochada.

- Você deveria realmente focar no seu trabalho Abigail. Ou pode acabar ganhando outra suspensão sem nem saber de onde veio. - pisquei de volta e sai a passos largos, deixando seu olhar surpreso e seu queixo caído para trás.

- Então foi você, seu filho da...

Seu xingamento foi abafado assim que a porta do corredor da ala de cirurgia fechou as minhas costas e eu ri. Ela andou merecendo a suspensão.

...

Encarei o celular na poltrona ao meu lado, verificando se minha mensagem tinha sido respondida.
Bufei e Agnes me encarou com a sobrancelha arqueada.

- Algum problema? - perguntou deixando seu livro de lado.

Era domingo e eu sempre vinha almoçar com ela. Agora que Ben e eu não estávamos mais em guerra era muito mais fácil.

- Não. - soltei um pequeno sorriso.

- Arthur, eu sou sua mãe. Te conheço muito bem. O que está acontecendo? - falou no seu tom calmo e ensaiado, de quem estava acostumada a ouvir queixas e choros.

Olhei atentamente seu perfil relaxado e deixei escapar um suspiro, cedendo e deixando minha cabeça cair em seu colo.

- Tô com medo de perder ela mãe... - sussurrei sentindo seus dedos se infiltrarem em meus fios.

Ela sabia a quem eu me referia.

- Lembra quando você ganhou aquela bicicleta no Natal? - indagou e eu assenti confuso com a mudança da conversa. - O Ben ficou louco por ela, vocês viviam brigando e me deixando maluca por causa daquele monte de ferro. Eu cheguei a pedir para o Raymond troca-la por algo que causasse menos confusão, mas ele foi firme em me dizer Não e que logo a briga de vocês dois acabaria. Eu perdi a paciência e disse que se vocês quisessem ficar com a bicicleta iam ter que aprender a dividir. No fim, Ben nunca aprendeu a andar de bicicleta e você pode ter ela só pra você. Você entendeu o que eu quis dizer? - neguei e ela riu. - Eu quis dizer Arthur, que você não precisa se preocupar em perder a Maya para outro assim como não precisou se preocupar em perder sua bicicleta para o Ben. As duas, tanto a bicicleta como a Maya vieram com o propósito de serem somente sua. Nem o Ben soube andar na Sua bicicleta, nem outro homem vai saber cuidar da Sua Maya. Eu sei o que digo filho... - me fitou com seus enormes olhos verdes.

Belos PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora