Capítulo 5

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13 de Maio de 1956, Portugal - Portel.

Eram quase seis da noite, a família Botelho de Castilhos se preparava para mais uma das romarias, festas tradicionais preparadas em homenagens aos santos católicos portugueses.

As mais animadas eram as gêmeas mais velhas do casal. Joana Botelho e Manoel Castilho foram abençoados com dois pares de gêmeas, as mais velhas, Maria e Nicole, e as mais novas Julia e Iria.

E quando tinham as romarias as mais velhas pegavam todas as suas economias e compravam vestidos, colares de ouro e lenços para o cabelo.

Elas já estavam com catorze anos, e a família sempre teve a mesma renda.
Seu Manoel tinha um botequim familiar, em Portugal se tem muito o costume de beber vinho, mas não era só isso que se era oferecido nesse Botequim, eles tinham música, cantavam, tocavam e dançavam, tirando que no botequim serviam comida, doces e alguns quitutes. E além do botequim, quando as filhas mais velhas cuidavam deste, os pais delas tinham tempo para produzir leite e fazer queijo, por meio de duas vaquinhas que a família tinha nos fundos da casa.

As gêmeas mais novas do casal gostavam muito de cantar, e as mais velhas de dançar.

No dia em questão os pais das meninas fecharam o botequim mais cedo para poderem aproveitar mais a romaria. Todos foram para a praça em frente a igreja aonde seriam montadas barraquinhas, e teria um palanque para os músicos se apresentarem. A família não morava muito longe da praça, o que facilitou Maria de voltar em casa correndo:

- Mamãe, eu esqueci minhas economias, vou ter que voltar para buscar! - Disse Maria, uma das gêmeas mais velhas.

- Filha, não há necessidade! - Disse o pai - Temos dinheiro aqui, nós pagamos o que você quiser comer!

- Não papai, vocês trabalham duro, eu não quero que vocês gastem dinheiro comigo! E também não estamos tão longe, podem ir indo que eu volto rapidamente.

- Tudo bem filha, mas pelo menos leve sua irmã com você! - Disse a mãe.

E foram juntas as mais velhas, Maria e Nicole.

Depois que tinham se afastado um pouco dos seus pais Nicole puxou o assunto.

- O que vais aprontar? - Perguntou Nicole.

- Vais ver! - Disse Maria rindo um pouco.

Maria e Nicole eram aquelas irmãs que são mais amigas do que tudo.

Chegando ao botequim, Maria e Nicole abrem a porta.

- Pronto, já podes contar-me o seu plano? - Perguntou Nicole.

- Bom, eu pretendia encontar-me com Marcos, mas acho que ele desistiu, já deveria estar aqui à essa hora.

- Marcos? O que vende legumes na feira? Sabes que ele não presta Maria!

- Isso é o que o papai dizes, não é a verdade mundial!

- Sabes Maria, és minha irmã gêmea e minha melhor amiga e eu à apoio em tudo, mas aquele rapaz não é uma boa pessoa!

- Irmã, eu gosto dele!

- Tudo bem Maria, seja feliz! Eu vou lá em cima no depósito buscar um agasalho, daqui à pouco é noite! Fique aí esperando seu amado e quando ele sair me chame!

Maria ia falar algo mais com Nicole, mas essa não deu tempo a ela, subiu rapidamente ao depósito.

O botequim da família tinha o balcão, onde ficavam todas as bebidas, e atrás tinham cortinas escondendo as escadas que levavam ao segundo andar, além deste tinha ainda um terceiro andar onde estava um antigo e gigante sino, só servia para avisar sobre grandes festas ou graves acontecimentos.

Maria que estava sozinha nessa parte do botequim foi atrás do balcão para de fato pegar suas economias.

Ela ouviu a porta do boteco abrir, e quando olhou viu três senhores entrarem.
Eles eram mal encarados, grandes e fortes.
Maria sentiu um arrepio, estava com medo.

- Senhores, o bar está fechado! Terão de voltar amanhã!

O maior deles, um homem alto, moreno, de voz rouca, careca e que tinha uma horrenda cicatriz atravessando desde o olho direito até em cima da cabeça se aproximou de Maria.

- Não viemos pela bebida! Viemos a mando de marcos, buscar uma encomenda!

Os olhos de Maria se arregalaram, ela engoliu sua saliva em seco.

Nicole que estava no andar de cima, tirando alguns tonéis de vinho do canto para abrir o baú e pegar um agasalho murmurava:

- Onde já se viu! Um feirante, para uma dama como a minha irmã! Ela está louca, louca eu disse!

De repente ela parou de murmurar, algo estava errado, teve como que um daqueles pressentimento que só os irmãos gêmeos têm um em relação ao outro. E de repente ela escutou, um tiro.

- Maria!

Ela desceu correndo, mas era tarde.
O balcão estava esvaziado, todo o dinheiro havia sido levado, e sua irmã? Jazia em uma poça de sangue.

Nicole, quando viu o estado em que se encontrava sua irmã, não soube o que fazer, seu corpo gelou.

Ela ajoelhou ao lado de sua irmã.

- Maria? Maria? - lágrimas rolaram de seus olhos, sua irmã estava morta.

Nicole levantou, não enxergava muito bem, seus olhos estavam cobertos por lágrimas, ela correu até o terceiro andar, e puxou o sino.

Seus pais, que estavam na romaria, mesmo de longe puderam ouvir o sino, eles pegaram suas filhas mais novas e correram para o botequim, obviamente preocupados.

Quando chegaram lá se depararam com Maria morta em uma poça de sangue e Nicole deitada ao lado da irmã, chorando e também banhada pelo sangue.

Obviamente a história chocou aos pais e a toda cidade, mas não tanto quanto à Nicole.

Um mês após o incidente eles se mudaram, abandonaram Portel.
E vieram para o Brasil, onde construíram outro botequim, este por sua vez só abria à noite, de dia todos da família trabalhavam juntos.

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