O garoto do Central Park

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Cidade de Nova York. Ridiculamente imensa, lotada, alucinante. Algo entre o real e o irreal. Não havia nada mais estupendo do que olhar para a incrível arquitetura dos prédios que rasgavam o céu, para as milhares de pessoas que caminhavam pelas ruas urbanas alheias ao mundo a sua volta. Era um dos mais belos cenários que eu já havia visto em toda minha vida. O céu azul de inverno sem nuvens. Os sons circulando pelo ambiente: carros, buzinas, pessoas falando ao telefone, risadas, música. O cheiro de fritura dos carrinhos de comida se misturando ao perfume natural dos pedestres. As luzes coloridas inundando as ruas de concreto.

Tudo isso faz meu sangue vibrar de ansiedade. Quer dizer, eu já estive em uma cidade grande como essa; Londres era tão movimentada quanto as ruas nova iorquinas. Mas, diferente daqui onde tudo parece vivo e dinâmico, o ambiente londrino era quase morto, cinzento, deprimente e vago, assim como o Tâmisa.

Nova York era viva e estonteante. Eu me sentia estupefata apenas em observar os passageiros caminhando pelas ruas. Era como se meus olhos não conseguissem absorver o suficiente da selva de concreto.

Mordo a tampa da caneta. Sim, estou frustrada. Com toda essa movimentação, meus pensamentos não poderiam estar mais agitados. Há tanta coisa para ver, tanta coisa para fazer. Talvez seja por isso que eu não esteja conseguindo me concentrar direito nas palavras a minha frente.

-Então, você é novata?

Admito. Minha reação é um tanto quanto ridícula. Com o coração praticamente parado em um mini-ataque cardíaco, dou um salto na mureta em que estou sentada e acabo caindo literalmente de cabeça no chão.

Esfregando o local do impacto, pisco até que minha visão torne a se focar na figura parada de pé a minha frente, as mãos estendidas na minha direção como se congeladas no meio do ato de tentar me segurar.

-Meu Deus, eu sinto muito! – exclama uma voz fina e feminina sotaque rápido nova iorquino. – Eu não tinha a intenção de assustar você.

Aceno com a mão na direção da garota, que me observa com seus grandes olhos escuros. Ela está sorrindo, quase como se estivesse segurando a risada - o que provavelmente é bem isso que está acontecendo, se levarmos em conta o fato de que acabei de levar um baita tombo na frente dela.

-Está tudo bem! – digo, meio casual, meio gemendo com a dor nas costas. – Não se preocupe. Isso meio que acontece sempre. Sou desajeitada por natureza. 

A garota solta uma risadinha. Mais tranquila agora que o quente nas minhas bochechas diminuiu um pouco, permito-me acompanhá-la.

-Meu nome é Sam. – cumprimento.

Ela aperta minha mão com um sorriso de dentes invejosamente brancos.

-Sarah. – responde. – O que você estava escrevendo? Parecia entretida.

Agacho-me e recolho meu caderno de capa dura preta que acabou estatelado no chão quando cai. Sarah parece olhar para ele com extremo interesse se levarmos em conta o jeito como seus olhos claros brilham com curiosidade.

-Eu não estava exatamente inspirada...

-Ah, vamos lá! Você tem cara de escritora. – diz, simpática. – Deixe-me adivinhar: vai participar das aulas de Literatura Inglesa e Escrita e Leitura Acadêmica?

Aceno que sim.

-É seu dia de sorte. – ela sorri.

*

No fim, Sarah se mostra conveniente para facilitar minha vida. Acabo descobrindo que ela faz parte do grupo de estudantes que auxilia os intercambistas recém-chegados à Marymount School of New York. É ótimo já ter conhecido alguém – tirando o detalhe de que dei com a cara no chão na frente de uma provável colega de sala. 

Eu Te Amo (Outra Vez)Onde histórias criam vida. Descubra agora