A mãe dele

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When our eyes lock in
It's like crossing fires
Claiming to burn down our souls.
When he looks at me
It's like I've seen an angel
Holding on a devil smile.

(Quando nossos olhos se conectam
É como uma encruzilhada de chamas
Desejando queimar nossas almas.
Quando ele olha para mim
É como se eu tivesse visto um anjo
Com o sorriso do diabo.)

A professora Stewart continua seu falatório, sua voz firme e clara ecoando pela sala em silêncio, quase morta de tédio. Eu mesma estou tendo sérias dificuldades para prestar sequer o mínimo de atenção, já que as palavras na página amarelada do meu caderno parecem muito mais interessantes.

-Vocês terão de formar duplas e escolher um tema atual e polêmico para a escrita desse editorial. - estabelece ela, e mais de metade da sala resmunga de desgosto. - O prazo será até quinta-feira da semana que vem. Tenham um ótimo dia.

Suspiro e olho ao redor na sala. Estou quase me arrependendo de ter escolhido essa aula como atividade extracurricular ao invés de escrita de roteiro, para onde, aliás, foram Sarah e Austin. Afinal, estou sozinha aqui, sem ninguém do círculo de amigos que eu fizera ao longo das semanas ou sequer um rosto conhecido que me encoraje a engolir a vergonha e ir conversar e, talvez, até conseguir uma dupla para o trabalho da Senhora Stewart.

-Deixe-me adivinhar: - ouço o arrastar de uma cadeira se aproximar. - você também está sem dupla?

Ah é, esqueci desse pequeno detalhe: Shane Oxford infelizmente também fez questão de frequentar a mesma matéria extracurricular que eu.

Como esperado, ele está ali com o rosto muito próximo do meu, sorrindo aquele sorriso irritante e esnobe. Parece, particularmente, mais bonito hoje, seu cabelo todo bagunçado, rosto sereno com bochechas coradas, vestindo nada mais do que uma camiseta branca simples que marca o relevo definido de seu abdômen. Assim, bem perto de mim, seu cheiro torna-se insuportavelmente inebriante, fresco, natural e masculino, o odor fraco de sua colônia é tão doce quanto baunilha.

Não que eu já não esteja acostumada com aquele tipo de proximidade. Conviver com Shane Oxford por algumas semanas - felizmente - já havia me deixado imune contra seu feitiço. Quer dizer, era inevitável não puxar o ar um pouco mais profundamente a cada vez que ele entrava na sala, assim, com esses lábios pecadores repuxados num belo sorriso. Mesmo sua voz fazia com que eu perdesse o fio da meada e acho que até Sarah já tinha percebido isso; ela fazia questão de caçoar da minha cara toda vez que eu me perdia nas conversas sempre que Shane estava por perto.

Olhar para Shane Oxford era como ser um apreciador de artes observando o mais bonito dos quadros. Era absorver cada mínimo detalhe daquela pintura impecável. Era sentir na pele o efeito que sua perfeição tinha sobre mim.

Porém, com o passar do tempo, esse efeito foi diminuindo. Não sumiu por completo, - a sensação de formigamento sempre que ele me tocava ou me encarava continuava viva em algum lugarzinho dentro de mim - mas, pelo menos, eu já conseguia conviver com ele sem parecer uma dessas garotas que insistem em lamber o chão que ele anda.

-Talvez. Mas a pergunta mais importante é - viro o rosto para ele e retribuo seu sorriso irônico. - como o desejado Shane Oxford pode estar sem dupla? Eu achei que as garotas matassem para ficar perto de você.

E elas, de fato, o faziam. Era quase impossível andar com Shane pelos corredores da NYU sem que ele fosse abordado por alguma de suas "fãs". É claro que ele amava a fama que tinha; fazia questão de sorrir para todas elas e fingir algum interesse, que logo se esvaía assim que a próxima garota aparecia. Eu, Sarah e Austin tínhamos visto isso acontecer milhões de vezes em apenas duas semanas.

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