•Sam•
Um ano. Um ano completo desde que eu deixara Nova York. Um ano completo desde que uma ferida profunda no meu coração devastou minha vida toda.
Mas, apesar disso, um ano completo em que eu sobrevivera. A dor, as lágrimas, as noites em que achei que nunca iria superar as perdas que sofri foram cruéis, mas eu tinha passado por cima de tudo isso e aqui estava, quebrada, para sempre danificada, porém forte. E, devo dizer que, depois desse tipo de tristeza eu duvidava que não conseguiria sobreviver a qualquer outro tipo de mágoa.
Afinal, minha vida tinha dado um salto sem os paraquedas. Todos os sonhos, os desejos, as crenças que eu tinha agora eram muito diferentes das que eu possuía um ano atrás. Eu já não era mais a mesma. E tudo que, para mim, um dia fora tão importante, subitamente tinha dado lugar a outras coisas que, agora faziam mais sentido. Eu sabia que haviam coisas que tinham maior prioridade, pessoas que precisavam de mim.
E, embora eu lamentasse a perda da minha inocência de um ano atrás, parte de mim sentia-se, no mínimo, satisfeita por eu ter sido tão forte e superado tudo isso.
Pouso as compras do supermercado no balcão da cozinha ao mesmo tempo que meu celular toca. Atendo depois do quinto toque.
-Hey, A. - cumprimento, depois de ter olhado o visor da chamada.
Sim. Eu estava falando com Austin Fields. Depois de tanto tempo, eu conseguira arranjar uma forma de manter, pelo menos, uma ligação com a velha Samantha. E essa ligação era toda devido ao menino loiro de olhos da cor do mar. Porque Austin despertava em mim uma pequena parte que pertencia a inocente Samantha Hall, aquela que desejava mais do que tudo se mudar para a cidade de Nova York. Aquela que seguia sua paixão sem pensar duas vezes.
Austin era minha sanidade. Depois de tudo o que havia acontecido, eu precisava de algo que pudesse me fazer sentir a leveza da velha Sam. Que pudesse tirar esse peso dos meus ombros das decisões que eu tinha que tomar levando em consideração o bem-estar de tantas outras coisas. Ele me dava pequenas faíscas de felicidade que iluminavam meus dias escuros.
-Minha carta de aprovação chegou! - ele dispensa qualquer cumprimento e eu já consigo imaginar que, provavelmente, deve estar roendo as unhas de nervoso.
Com o telefone contra o ombro, vou rapidamente até o local onde a correspondência fica. Desde as minhas provas dos SATs, qualquer carta que chegava em casa já me deixava eufórica. O pânico da espera de uma resposta da faculdade dos meus sonhos estava me sufocando.
Quer dizer, não era como se eu precisasse me desesperar. Todas as outras faculdades que eu havia prestado tanto aqui na Inglaterra quanto nos Estados-Unidos já tinham me enviado suas cartas dizendo que eu estava aprovada para cursar Literatura Inglesa nelas no próximo ano. Mas, a NYU para mim era especial. Era como se eu precisasse da aprovação dela para manter minha auto-estima num nível decente.
-E então? -pergunto, igualmente nervosa.
Austin tinha se inscrito no curso de Jornalismo em basicamente todas as faculdades. Estava esperando a resposta da Universidade de Washington, que era a que ele mais desejava. Por isso a euforia. Finalmente a carta havia chego e a espera acabado. O futuro dele estava definido.
-Eu passei! - ele berra, o que quase me ensurdece. - Fui aprovado! Sam, eu vou para Washington!
-Meu Deus, Austin! - grito, na mesma altura que ele. - Parabéns! Eu sabia que você ia conseguir!
