Frustrado

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•Shane•

Felizmente, o dia está fresco. Depois do frio absurdo da noite passada - para o qual eu estava despreparado vestindo nada mais do que uma camisa fina de mangas compridas - era bom finalmente poder sair do trabalho sem ter medo de congelar. A luz quentinha do Sol em suas horas finais bate no meu rosto, inundando a cidade com sua luminosidade dourada. Nova York estava, finalmente, começando a parecer outonal.

Bato a porta do carro e ligo o motor. Deus, como estou exausto. As aulas que dei tinham sido, particularmente, mais cansativas essa semana, o que exauria tanto eu quanto os alunos. Talvez fosse o final do semestre se aproximando. Talvez fossem as preparações para meu casamento.

Talvez fosse Sam.

Sim, eu a ignorava, provocava e fingia, na maior parte das vezes, que não dava a mínima para o fato dela ter voltado; para o fato de que o destino nos tinha colocado juntos de novo. E isso esgotava tanto minhas energias que eu me sentia em constante fadiga.

Não tinha mais o mesmo pique para fazer com Hannah, tudo o que costumávamos fazer antes de Sam chegar. Não saíamos mais tanto para jantar nos nossos restaurantes favoritos, não íamos mais ao cinema como de costume, não sentávamos nem mais para conversar como fazíamos sempre que eu ia jantar na casa dela.

Parte de mim se sentia mal por estar descontando em Hannah algo que ela claramente desconhecia. Mas, era difícil para mim estar perto dela quando Samantha também estava. E Sam sempre estava por perto.

Quer dizer, ela morava com Hannah. Era a melhor amiga dela. Não tinha como eu simplesmente descartar a ideia de sair com a minha namorada porque ela era amiga da minha antiga paixão da adolescência. Eu teria que aturar Samantha Hall e todas as sensações que ela me trazia sempre que estávamos no mesmo cômodo.

Suspiro. Talvez eu só tenha que parar de pensar sobre isso. Tinha que começar a dizer para mim mesmo o que eu vivia falando para Sam: que o passado era o passado e que nada do que vivemos importava mais. Eu conseguia soar tão claro e decidido quando me dirigia à ela; então por que não conseguia afirmar isso para mim mesmo sem antes hesitar?

Eu sabia o porquê. Não queria saber, mas era inevitável. Eu não conseguia reprimir todas as lembranças que inundavam minha mente quando a via. Simplesmente não conseguia. Era como lutar contra a correnteza de um rio que estava me arrastando na direção de uma cachoeira. Eu sabia que acabaria me afogando, mas não podia deixar de lutar com todas as minhas forças. Lutar por Hannah.

Eu a amava. Isso era um fato. Ela tinha sido meu ponto de apoio por mais tempo do que eu poderia lembrar. Hannah esteve lá quando meu mundo desabou; quando Samantha se foi, quando minha mãe se foi, quando todos os meus sonhos pareciam impossíveis de ser alcançados. Ela foi a única pessoa que conseguiu abrir um caminho entre os muros que eu havia construído ao meu redor. Ela tinha me dado a mão para que eu me reerguesse.

Depois de tanta dor e solidão, Hannah tinha conseguido me fazer sentir algo mais do que o congelante vazio que, por meses, havia assombrado minhas noites.

Era por isso, por ela, que eu me esforçava tanto para esquecer as sensações que Sam me trazia. Eu devia isso à Hannah. Não; não somente à Hannah. À nós dois.

O barulho estridente de uma buzina, de súbito, arranca-me dos devaneios. Com a atenção agora de volta ao mundo real, vejo o semáforo sinalizando a luz verde.

Eu Te Amo (Outra Vez)Onde histórias criam vida. Descubra agora