Para longe de você

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•Sam•

Uma semana. Uma semana de lágrimas que eu duvidava de que algum dia iam parar. Uma semana sentindo uma dor que eu nunca achei que poderia ser possível sentir. Uma semana que eu tinha oficialmente deixado Nova York e voltado para minha cidade natal.

Agora, enquanto eu me debulhava em lágrimas, encolhida no canto do meu quarto escuro por causa das cortinas que eu fazia questão de manter fechadas, o mundo parecia sem sentido. Eu me sentia sem chão, sem onde me apoiar.

Eu não queria ter ido ao funeral. Não queria ter visto todas aquelas pessoas chorando. Eu não queria ter ouvido todos aqueles "sinto muito". Queria simplesmente ter ficado na solidão do meu quarto escuro, chorando sem olhos para me observarem, deixando toda minha vulnerabilidade exposta e não tendo que fingir estar forte, estar bem.

Porque eu não estava. Aliás, eu estava bem longe de estar bem.

Eu havia perdido tudo.

Meu telefone toca pela milésima vez, mas eu nem dou-me mais ao trabalho de olhar quem é. Sei exatamente quem poderia estar me ligando tanto nos últimos dias. E sei que estou sendo uma completa idiota em não atender a nenhuma das suas chamadas.

Mas, a verdade é que eu não consigo. Não quero. Se eu atender, se eu ouvir a voz dele, vou estar perdendo mais uma pessoa que amo. Mesmo que eu já tenha, de fato, o deixado, não quero concretizar isso. As lembranças que tenho dele eu pretendo manter intactas. Não quero estragar mais nada tendo que dizer adeus.

O telefone para de tocar alguns segundos, só para tornar a vibrar em cima do criado-mudo. Encosto a testa nos joelhos flexionados e desabo a chorar. Minhas mãos cobrem meus ouvidos, dedos enterrados nos cabelos desgrenhados, tentando sem muito sucesso, afastar o som do telefone que continua a tocar.

Ignore, ignore, ignore. Mas, eu já não consigo mais ignorar.

Levanto num salto, pego o aparelho e já estou quase o jogando contra a parede quando olho sem querer o visor. Meu estômago dá um nó, mas dessa vez é um nó que não dói tanto.

Sinto que o que estou fazendo é errado, embora nada nisso seja, de fato, ruim. Mas, é inevitável que parte de mim não se sinta culpada por estar atendendo ele, ao invés da pessoa que, nos últimos dias, vem ligando para mim desesperadamente.

Mordendo o lábio inferior até quase sentir o gosto de sangue, aperto o botão para confirmar a chamada. Coloco o aparelho contra o ouvido, sentindo-me ao mesmo tempo nervosa e aliviada ao ouvir sua voz do outro lado da linha:

-Sam?

Respiro fundo.

-Oi, Austin. - minha voz treme, me denunciando.

Ele leva alguns minutos para responder, provavelmente muito extasiado com o fato de eu ter atendido o telefone.

-Meu Deus! Eu estava tão preocupado! - ele praticamente grita ao telefone. - Onde você está? O que aconteceu? Estamos que nem loucos procurando por você e...

-Eu... - meus olhos ardem com as lágrimas. - Voltei para casa, Austin.

Ele engasga.

-Como assim "voltou para casa"? - sua voz está insegura.

Estremeço com a dor no peito que vem me assombrando pelos últimos dias.

-Voltei para Yorkshire. - digo simples e secamente porque não há outra forma de dizer isso sem que doa.

Austin fica em silêncio, só sua respiração soando do outro lado. Consigo imaginar seu rosto, os olhos azuis nublados, os lábios rosados curvados para baixo, o nariz pontudo franzido.

-Mas... Por que?

Engulo as lágrimas.

-Não quero falar sobre isso. - soou mais grossa do que gostaria e ouço ele respirar fundo do outro lado. - Eu só tive que voltar.

-Você devia ter nos avisado. Deus... - ele parece confuso e machucado ao mesmo tempo. - Shane, precisa saber que você...

Meus olhos se arregalam a menção do nome dele.

-Não! - exclamo, alto. - Por favor, não diga nada para ele. Eu não quero falar com ele.

-Mas...

-Por favor, Austin. Se você é meu amigo, - já estou chorando de novo sem conseguir me conter. - não me faça falar com ele.

Ele está pensando no que dizer. Sei que está. Austin não devia estar esperando esse tipo de reação vinda de mim. Não assim do nada e sem explicação alguma. Mas, ele não sabia o que havia acontecido. Não sabia a tristeza pelo qual eu estava passando.

-Sam... Eu não vou dizer nada. - suas palavras estão inseguras. - Mas, Shane precisa saber o que aconteceu com você.

Esfrego os olhos com a mão livre e me sento de novo no chão, apoiando a cabeça contra a parede. Fecho os olhos, minha cabeça num latejar forte.

-Eu vou falar com ele. - sussurro, incerta se ele pôde me ouvir ou não. - Só não agora.

Mal eu sabia que esse agora se tornariam dias, semanas, meses e anos.

Eu Te Amo (Outra Vez)Onde histórias criam vida. Descubra agora