Reencontros

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O mês após meu reencontro com Shane Oxford passa num piscar de olhos. Lidar com todas as mudanças - além do fato de que estou em uma busca implacável por um emprego - já toma conta de praticamente boa parte dos meus neurônios, o que me deixa com o mínimo de tempo para pensar em algo, especialmente se esse algo associa-se a um par de olhos amendoados.

Mesmo assim, ignorar Shane - e qualquer sentimento que venha junto - torna-se uma tarefa extremamente árdua. E, é claro que ele não facilita nem um pouco as coisas para o meu lado. Faz questão de estar sempre presente; não importa qual seja a situação: se estou com Hannah, então estou com Shane. Além disso, ele passa a me ignorar na grande maioria do tempo, fazendo com que eu me sinta uma intrusa entre eles. É como se eu tivesse invadido a vida deles, que estava boa antes de eu aparecer; e Shane faz questão de deixar isso bem claro em cada olhar emburrado que me dá.

Ele estava me deixando completamente louca. No mal sentido.

Eu, sinceramente, não sabia o porquê de ainda me deixar levar por todos esses joguinhos que ele estava brincando com os meus sentimentos. Dez anos haviam se passado. Não era o suficiente para que qualquer sensação que ele me proporcionasse já tivesse sumido?

Qualquer pessoa normal responderia que sim. Porém, eu não me sentia nada normal. Sentia-me presa. Presa em uma espécie de looping de sentimentos que eu não podia apagar. Presa em um pesadelo na qual Shane me torturava.

Eu estava presa à ele, só não conseguia admitir. Não podia admitir.

Afinal, querendo ou não, ele ainda era o noivo de Hannah e tinha deixado bem claro que não mudaria sua posição, não importava o que eu dissesse. Shane amava Hannah. E, mais ainda: ele me odiava.

Como as coisas tinham se transformado dessa forma? Como um amor épico e intenso tinha tornado-se nada mais do que um puro sentimento de ódio e rancor? Porque era assim que Shane sentia-se em relação a mim. Ele me culpava por todo o sofrimento em sua vida. Culpava-me pela morte de Vivian Oxford, sua mãe e por não ter estado presente em seus dias finais. Ele me culpava por ter ido embora quando, claramente, desconhecia o motivo da minha partida.

Com os olhos lacrimejando e imagens da minha primeira noite aqui em Nova York piscando em flashes na minha mente, tento concentrar-me na leitura de um romance qualquer que eu encontrara na estante de livros de Hannah. Ler tinha se tornado, nos últimos dias, meu porto seguro. Ao menos ali, finais felizes eram possíveis.

Três batidas na porta me fazem erguer os olhos para uma Hannah encostada na batente da entrada do meu tão recente (e novo) quarto. Noto que ela já está vestida para sair apesar de ainda ser cedo.

-Hey. - cumprimenta sorrindo, vindo sentar-se na beirada da minha cama.

-Oi. - fecho o livro e cruzo as pernas por sobre os cobertores bagunçados. - Já vai sair?

Hannah solta um suspiro emburrado. Não consigo deixar de rir ao perceber que ela está vestindo um suéter rosa bebê, uma réplica um pouco mais elegante da sua peça favorita de roupa que ela costumava usar praticamente todos os dias quando éramos crianças.

-As meninas marcaram ensaio mais cedo hoje. Ainda estamos um pouco enroladas com a coreografia da apresentação do mês que vem. - ela dispensa o assunto com um aceno de mão. - E você? Dormiu bem?

-Não muito, para falar bem a verdade. Passei boa parte da madrugada olhando para o meu currículo e pensando no que eu poderia fazer para torná-lo um pouco mais atraente.

Dito isso, levanto-me, caminho até a escrivaninha e pego de lá uma das muitas folhas de papéis que venho empilhando em cima da mesa. Estendo-a para Han.

Eu Te Amo (Outra Vez)Onde histórias criam vida. Descubra agora