Até logo

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•Sam•

Eu estava encrencada. Muito encrencada.

Não porque tivesse feito algo de errado ou qualquer coisa do tipo. Eu estava muito ferrada porque faltavam apenas duas semanas para que meu tempo em Nova York se esgotasse e eu ainda não tinha conseguido voltar a realidade.

Claro que isso era praticamente impossível quando se tinha o namorado mais perfeito do mundo que me fazia odiar milhões de vezes a mais o fato de que eu não era uma residente permanente dessas ruas, onde nada poderia ficar entre nós. Mas, não. Ao invés disso, eu me encontrava a um oceano de distância, o que me matava a cada vez que esse pensamento cruzava minha cabeça.

A verdade era que: eu não estava pronta. Nem um pouco pronta. A ideia de deixar isso tudo para trás, de que isso seria apenas mais uma memória entre outras me parecia inadmissível. Eu não conseguia me ver mais sem Shane, sem Sarah, sem Austin. E mais: não conseguiria nunca mais me acostumar ao ritmo monótono de Yorkshire depois de morar por alguns meses no centro do mundo.

Agora que as aulas haviam acabado, e o programa da NYU finalmente encerrado, eu sentia como se a realidade infeliz estivesse rastejando até mim numa velocidade maior do que eu podia suportar. O fim era eminente. Eu iria me torturar por mais alguns dias até que a despedida chegasse. E meu coração quebrasse.

Pelo menos, agora menos ocupada, eu conseguia passar meus tempos finais na companhia daqueles que eu amava. É claro que  ficar mais fora de casa que o normal estava relacionado ao fato de que eu não conseguia olhar para as malas vazias no meu quarto, só esperando que eu preenchesse-as com as coisas que eu levaria de volta a Yorkshire. Mas, também que, passar minhas horas ocupada na presença dos meus amigos me fazia esquecer que eu não pertencia, de fato, àquele lugar. E, nessas circunstâncias, esquecer isso já descarregava um bom peso dos meus ombros.

-Que nojo. - ouço Sarah reclamar, a cabeça apoiada na mão.

Tínhamos saído todos juntos - Sarah, Austin, Shane e eu - para tomar alguma coisa depois de algumas horas vagando pela Times Square em busca de algumas das coisas que eu havia anotado numa lista para comprar em Nova York antes de partir. Está particularmente mais frio hoje, o que faz o líquido quente do meu caramel latte parecer ainda mais agradável. Shane, sentado na cadeira ao meu lado, também beberica seu cappuccino com igual avidez, um braço envolvendo meus ombros enquanto a outra mão aperta meus dedos de tempos em tempos, seguida do sorriso pacífico que fazia meu coração derreter por mais que eu já estivesse acostumada a vê-lo todos os dias.

Não importava quanto tempo se passasse; olhar para Shane Oxford sempre faria meu coração palpitar várias vezes no peito. E ele sabia muito bem disso, pois ficava com as bochechas coradas sempre que me pegava olhando para ele com aquela cara de idiota que eu adquiria sempre que ficava tempo demais admirando cada aspecto da sua beleza. Não que eu ainda me incomodasse com isso. Eu precisava absorver, memorizar cada detalhe que dizia respeito ao menino perfeito que eu tinha tido a sorte de ter para mim. Precisava arranjar um jeito de tê-lo cravado na minha memória para quando o tempo se esgotasse e ele passasse a ser apenas mais uma lembrança dentro da minha cabeça.

-Como você consegue beber isso? - questiona Sarah, parecendo indignada enquanto observa Austin dar uma boa golada em sua caneca amarela do outro lado da mesa.

-É só chá, Sarah. - rebate ele, o que me faz ter um momento de nostalgia da vez em que nos conhecemos e eles insistiam em discutir a cada cinco minutos.

Eu Te Amo (Outra Vez)Onde histórias criam vida. Descubra agora