No topo do mundo

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•Shane•

Estar com ela era... Revigorante. Era como acordar de um sonho feliz e descobrir que ele, na verdade, era real. Era como ser curado da cegueira e poder ver novamente o pôr-do-Sol em sua paleta de tons de laranja. Era como viajar à galáxias desconhecidas e poder tocar as estrelas com meus próprios dedos.

Samantha Hall era a minha cura, a minha droga, o motivo pelo qual eu acordava de manhã com vontade de viver. Ela havia me dado sentido para me manter forte, para minha mãe se manter forte. Ela havia me ensinado o que era amar de verdade.

Eu não sabia que era possível me apaixonar assim. Depois de ver tantos entes amados me abandonarem, eu já não queria mais saber qual era o sentido de se precisar ser completo por alguém. Para mim, ser inteiro sozinho, impedia que outras pessoas me machucassem. Se houvesse uma concha ao meu redor, quem seria capaz de quebrá-la para chegar ao meu coração?

Mas, Sam conseguiu quebrar. Não só a concha, mas todas as barreiras que eu tinha criado dentro de mim ao longo dos anos. Sam tinha me tocado onde ninguém mais havia e, sem nem perceber, eu comecei a depender desse toque para viver, comecei a depender do que só ela podia me fazer sentir.

Quem diria que a garota birrenta e mal-humorada que havia gritado comigo no Central Park seria agora a minha garotinha birrenta.

Ajeito o blazer azul marinho por cima da camiseta branca bem passada e com cheiro de amaciante que escolhi para a ocasião de hoje à noite. Estou um pouco nervoso, e a forma como ajeito a gola da minha roupa a cada 5 minutos só reflete a dúvida se estou muito bem arrumado assim ou se deveria colocar algo mais casual. Não quero fazer feio para Sam. Sua noite tem que ser especial, mesmo que eu tenha que me vestir como um pinguim para vê-la sorrir. Ela sempre me disse que adorava quando eu usava azul marinho. Por isso, creio que a escolha da roupa a deixará satisfeita.

Três batidas na porta me fazem desviar por um minuto do meu debate interno. Ajeito mais uma vez a gola antes de gritar para que a pessoa entre.

-Hey, Shane. - Lyla abre a porta devagar, colocando uma cabeça de cabelos curtos cor de mel para dentro do meu quarto. - Wow! Quem é você e o que fez com o meu primo esculachado e sem o menor senso de moda?

Ignoro o comentário e me volto para o espelho.

-Muito engraçado. - ela ri com a falta de humor na minha voz. - O que você acha? Muito exagerado?

Vejo pelo reflexo do espelho quando ela ergue uma sobrancelha para mim com aquele olhar crítico de testa franzida. Analisa-me de cima a baixo, desde o blazer azul marinho até os All Star pretos que escolhi com o intuito de dar certa casualidade para o visual. Ela está com um sorrisinho debochado no rosto, o que só me dá mais certeza de que está mentalmente caçoando de mim.

-Depende da ocasião...

Se arrependimento matasse, eu já estaria enterrado porque ela me olha de forma tão sugestiva que meu rosto esquenta a uma temperatura quase insuportável. Bufo - de forma bem audível para que ela note - e tento esconder o fato de que minhas bochechas parecem dois pimentões.

-É só um aniversário, Lyla. Deixa de zoação. - engulo em seco quando minha voz ameaça me denunciar.

O sorriso dela não some.

-Só um aniversário, é? Então, está me dizendo que você está suando frio assim por causa de um aniversariozinho de nada?

Ela me encara, claramente não convencida. Não sei porque eu estou me dando o trabalho de mentir para ela. Lyla me conhece desde que nasci. É óbvio que ela veria qualquer hesitação da minha parte, qualquer fraquejar na minha voz. Especialmente quando se trata de garotas. Ela já me vira passar pelo meu primeiro relacionamento, meu primeiro beijo, meu primeiro desapontamento amoroso. Deus, ela até havia me ajudado a comprar um presente de dia dos namorados para minha primeira namorada. Eu podia tentar esconder o quanto quisesse, mas Lyla sempre seria capaz de ver através de mim. E, no momento, devo dizer que ela está vendo até demais.

Eu Te Amo (Outra Vez)Onde histórias criam vida. Descubra agora