Borboletas no estômago

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Frente a frente com a porta. Shane ainda está procurando as chaves dentro do bolso. Meu coração palpita uma vez que o tilintar do metal soa no silêncio da noite.

A porta abre-se com um rangido, revelando o hall de entrada pelo qual eu já havia passado, mas não me recordava tão bem. Agora, com a mente mais clara e sem a pressa proporcionada pelo nervosismo daquela quinta-feira, consigo notar uma bela estante rústica onde Shane deposita o molho de chaves, com alguns detalhes delicados entalhados na madeira escura. Há também diversos porta-retratos com fotos de família pendurados ao longo das paredes azul claríssimas. Sorrio vendo um Shane de mais ou menos 6 anos todo melado no que parece ser xarope para panqueca.

Ele me guia pelo curto corredor até a sala de estar, olhando de relance para mim de vez em quando. Está sorrindo serenamente apesar do rosto demonstrar algum tipo de timidez. Provavelmente porque estar aqui na casa dele, prestes a jantar com sua família era uma coisa um tanto quanto íntima.

Assim que alcançamos a sala, a figura de uma mulher deitada no sofá grande, debaixo das cobertas, preenche minha visão. Ao mais breve notar de um lenço, dessa vez lilás, enrolado sobre sua cabeça, já me faz perceber que estou olhando para Vivian Oxford.

-Shane? É você? - ela questiona antes de se virar propriamente para nós.

Tirando a expressão sonolenta e o aspecto esquelético de rosto, a mãe de Shane parece... Bem. Definitivamente melhor do que no dia em que a conheci. Menos pálida, menos exausta, com uma cor mais saudável no rosto. Tenho a impressão até de que ela está mais forte, os membros não com aquela aparência tão frágil de antes.

A Sra. Oxford repuxa os lábios finos e murchos num sorriso simpático ao me ver ali, parada ao lado de seu filho, com as mãos entrelaçadas na frente do corpo. Seu rosto, agora corado e mais bonito, se ilumina com a minha presença.

-Sam! Que prazer em revê-la! - diz, tentando se levantar. Praticamente corro até o sofá, desesperada em poupá-la do esforço. - Eu não achei que Shane fosse realmente convidá-la, apesar das minhas ameaças. Ele pode ser bem cabeça-dura quando quer.

Rio enquanto aperto a mão gelada da Sra. Oxford e Shane rola os olhos para nós. Tira o casaco, jogando-se com cuidado no sofá ao lado de sua mãe e pegando o controle remoto a procura de algum programa decente na televisão. Sento-me na poltrona, bem próxima da mãe dele, que continua a sorrir para mim.

"Estou vendo um anjo?", eu quase consigo ouvir sua voz, a lembrança de como o rosto dela se iluminou ao me ver no dia em que nos conhecemos rodando pela minha mente.

-Disso eu não posso discordar. - respondo, rindo. - Obrigada pelo convite, Sra, Oxford. Foi muito gentil da sua parte.

Ela balança a mão.

-Pode me chamar de Vivian! Sra. Oxford faz com que eu me sinta uma idosa de 80 anos. - rebate ela e realmente consigo sentir uma melhora no seu estado de espírito.

-Cadê a Ellen? - ouço Shane perguntar, referindo-se a enfermeira de sua mãe, a qual ele mencionara mais cedo para mim durante nosso passeio.

A Sra. Oxford - Vivian - indica com um aceno de cabeça o corredor que provavelmente deve levar a cozinha. De lá, o som de panelas, talheres e pratos dançam até nós, mesmo por cima do falatório na TV. Sem mencionar o cheirinho delicioso que está vazando daquele cômodo, fazendo meu estômago lembrar-me do quanto estou faminta.

-Está preparando o jantar. Ela fez seu favorito: espaguete à carbonara do jeitinho que você gosta. - responde sua mãe e os olhos de Shane brilham, assim como seu estômago, que ronca audivelmente. - E brownies. Teremos um banquete essa noite.

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