Confissão

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🌻

Como perceberam, os capítulos recentes vêm sendo narrados, e acho que assim continuará.

Camila estava entendida. Por mais que houvessem muitas coisas para fazer e criar, era como se ela nunca tivesse saído de casa; de volta à estaca zero.

E o primeiro pensamento que lhe ocorreu naquela manhã, assim que abriu os olhos, fora a pequena despensa na qual ela havia passado o resto dos dias antes de encontrar Lauren pessoalmente.

A pequena achou bizarro o fato de nunca ter pensado em voltar para lá novamente; nem que fosse para saber se a missy estava mesmo viva.

"Hum... Mama?" Pergunta enquanto mastigava os cereais misturados à banana como café da manhã.

"Sim?" Sinu abaixa a revista que lia para poder olhar Camila.

"Por acaso, alguma vez, você pensou na despensa lá embaixo?" Ela gesticulou, balançando a colher.

Sinu estreita os olhos, lembrando do que havia feito. "É... hum...", toma um gole de café para se recompor e continua, "não entendi sua pergunta."

"Bom, o duto... o canal que permitiu minha comunicação com Lauren, ainda está lá", sua mandíbula contorce enquanto fala.

Sinu dá de ombros não entendendo onde Camila queria chegar.

"Talvez eu possa ir lá. Eu preciso saber se Lauren ao menos está viva. Isso está me consumindo... esse peso de não saber o que aconteceu com ela depois", ela colocou a colher dentro da tigela, afastando ela, sentindo a falta de apetite tão comum. Camila apoiou os cotovelos no balcão e escondeu o rosto entre as mãos. "Se Lauren não estiver bem, eu nunca mais me perdoarei, mama", as lágrimas escorreram por seu rosto silenciosamente.

Sinu nada falou, apenas observou o sofrimento da filha que também a consumia.

"Eu vou... Eu vou lá, e irei agora", repentinamente, a garota levanta de seu assento, caminhando em direção à porta que dava para o subterrâneo da casa.

"Cami..."

Camila puxou a maçaneta diversas vezes para abrir a porta, mas estava trancada. E viu que a chave não se encontrava na fechadura.

"Mãe", funga, limpando o rosto com as costas das mãos. "Mãe", chamou de novo, ainda de frente para a porta. Sinu não respondeu. "Mãe!"

"Droga, Camila!" Sinu grita quase desesperada.

"Mãe, cadê a chave?"

"Eu..."

"Mãe, o que você fez?" Ela interrompeu Sinu, virando-se para encara-la.

"Você foi embora, eu... eu... droga, você me deixou aqui sozinha!"

"Isso não explica nada! O que você fez?" Camila esganiça, fechando as mãos em punhos ao lado do corpo.

"Eu perdi a chave" Sinuhe suspira, virando as costas para a filha, voltando a bebericar o café.

"Como assim, perdeu?" Camila caminhou ligeiramente, ficando ao lado dela, observando a mãe tentar manter a calma; porém, falhando ao denunciar a mão trêmula que segurava a xícara. "Mãe", a garota inspira profundamente pelas narinas, fechando os olhos para se controlar.

"Você foi embora, eu fiquei aqui sozinha. Aquela carta não foi o suficiente para acalmar o meu espírito. Eu enlouqueci, Camila", dessa vez, foi Sinu quem escondeu o rosto entre as mãos.

"Mãe, explique de uma vez, por favor", pede, temendo qualquer que fosse a resposta de Sinu.

"Eu... eu desci até lá, até sua sala, seu quarto... o que quer que seja aquilo..." balança a mão. "Eu ouvi vozes, ouvi pessoas falando sobre Lauren, que agora eu sei quem é... sobre ela estar doente física e mentalmente, sobre ela precisar de cuidados. Certamente eram seus pais. Mas a voz feminina, Clara... ela estava desesperada, como se isso sobre Lauren fosse o fim do mundo... Eu sei que é difícil entender, mas vocês não sabem o que se passa na nossa mente ao saber que vocês são diferentes. Mas eu nunca deixaria de te amar por causa de quem você é, Mila. Nunca." Sinu toma coragem para olhar nos olhos da filha, que estavam marejados e vermelhos.

Mundo Sucinto (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora