(2-8) Caçador e Caça

177 44 148
                                    

...e muitas vezes esses caminhos nos levam para algo que tememos...
●○●○●

       Varet acorda. Tudo estava escuro. Por mais de um minuto ele não se move, queria entender o que acontecera. Seria um sonho? Um pesadelo? Tinha algo sobre ele. É... Aquela noite havia sido real. O jovem começa a fazer força em uma tentativa de levantar aquele objeto encima dele. Era praticamente inútil, mas após algum tempo de tensão finalmente aquilo se move um pouco, porém o bastante para que uma luz surgisse. Já era dia, não havia sinal de chuva e apenas os pássaros eram ouvidos. Parecia ser cedo. Começa a fazer mais força. A brecha iluminada começava a aumentar lentamente. Enfim Varet sente algo, uma terrivel dor na cabeça que lateja sem parar. O rapaz não tinha mais forças para levantar aquilo. Ele finalmente percebe, era um pedaço de lataria. Começa a se esgueirar para o lado, afim de passar pela brecha. Após muito sufoco e angustia, consegue. Ele cai no chão de terra molhada. A dor em sua cabeça começa a ficar mais intensa. Encontra um pedaço de vidro no chão e estica o braço para pegar. Tenta ver seu reflexo e percebe que o motivo da dor era um corte em sua cabeça logo acima da sobrancelha direita. Havia um pouco de sangue cobrindo parte do ferimento e sua pálpebra. A dor aumenta. Varet põe a mão sobre a testa para amenizar, sem sucesso. Tenta se levantar, quando percebe um pequeno peso ao lado de sua barriga. Era sua corda-com-pedra, que estava amarrada em diagonal palo seu corpo. O jovem finalmente levanta, mas sua visão quase o derruba de novo. Era como se tivesse passado um tornado pelo lugar. Terra sobre o asfalto, árvores caídas, o trailer tombado e parcialmente destruído. Um tronco atravessado em uma de suas janelas. No mesmo instante Varet arregala os olhos.

       -Olivia! -Ele corre em direção à velha lataria. Ao chegar se depara com sua parceira caída no fundo do trailer, o sofá sobre ela. O jovem tira o objeto de cima dela e a olha para ver se não havia se machucado. Um corte na perna. -Meu amor! Olivia, acorde!
-Varet tenta a sacodir, mas em vão. Se abaixa e levanta a loira nos braços. As bicicletas estavam destruídas, teria que voltar a pé. Começa a andar para longe dos escombros, chega à estrada asfaltada e coberta de lama e inicia sua caminhada, entretanto, alguns zumbis chamam sua atenção. Eles estavam próximos à orla da floresta se alimentando de algo, um corpo. Varet tenta os ignorar passando em silêncio enquanto estão oculpados, porém ele encara o cadáver em vísceras. O rapaz o reconhece imediatamente. Conviveu o bastante com Vanessa para identificá-la. Varet começa a chorar. Mesmo eles brigando constantemente ela era uma grande amiga do casal. Os mordedores detectam o homem chorando. Deixam o corpo de Vanessa de lado e se levantam. Alguns deixam carne cair da boca, outros das mãos, mas todos agora estavam indo atrás de um rapaz chorão, fraco e sujo, que carregava sua namorada desmaiada. Varet não sabia o que fazer, apenas seguia para a velha casa com esperanças de encontrar seus amigos.

                        ************
        Eythan acorda, mas não abre os olhos. Tinha medo do que podia encontrar. Passa as mãos por todo o corpo para tentar indentificar alguma dor. Não havia nada, apenas sua machadinha. Seu corpo balança, e após essa estranha movimentação involuntária abre os olhos. Ainda estava no carro, Emily no seu lado esquerdo desacordada, e Pedro dirigindo o veículo enquanto conversava com Keys, que estava no banco de carona.

       -O que houve? -Ele pergunta com uma voz sonolenta.

       -Ah, até que enfim acordou.
-Pedro sorri ao olhar para trás.

        -Conseguimos sair da floresta? Como? -Eythan ainda estava confuso.

        -Por pouco. -Keys diz. -Os mortos quase nos cercaram. E a minha munição acabou. Não sei como vou encontrar mais. -A morena manuseava sua pistola, com uma cara triste.

          -E onde estamos agora? -Eythan olha através da janela.

          -Algum lugar cheio de fazendas, mas acho que estamos perto da velha casa. -Pedro dizia. -Tem comida la, não tem? Estou faminto.

          -Se Varet, Olivia e Vanessa não comeram tudo, deve ter. -Keys sorri.

          Emily ainda dormia, Eythan estava sonolento e Pedro e Keys com fome. Todos seguindo pela rua de barro com o carro prateado, desviando de alguns zumbis que surgiam no caminho.

                         ************
Duas horas depois...

          Varet estava muito fraco e ainda cerragava Olivia. Ele para a cada dez minutos para juntar mais um pouco de força e não desmaiar de cansaço. Cerca de dez mortos-vivos estavam os seguindo, e como o jovem não conseguia andar rápido, ficavam mais próximos à cada parada. Agora haviam apenas oito metros entre Varet e os andarilhos. Ele ainda estava muito abalado com tudo. Olivia machucada, Vanessa... Morta. Ele recomeça a chorar, porém em silêncio. Suas lágrimas se misturavam ao suor e a terra no rosto. Foi quando de repente um som surge pela frente. Era um motor. Varet sabia que não podia arriscar, talvez não fosse o carro prata. Ele se joga na orla da floresta em meio às moitas e árvores. Fica escondido, porém os zumbis sabiam que estava ali. O som se aproximava. Preparado para reagir contra os mortos, Varet começa a desenrolar sua corda-com-pedra do corpo. A dor de cabeça ainda não passara, o som do motor aumentava rapidamente, e as criaturas estavam a cinco metros de distância quando o automóvel finalmente passa e alguém com uma metralhadora acerta todos os zumbis. Era o gipe camuflado, que não percebe que havia alguém na moita e continua a andar em alta velocidade pela rodovia. Varet estava aliviado, entretanto extremamente debilitado. Com o resto de suas forças pega sua companheira no colo mais uma vez e agora segue floresta a dentro. Não podia correr o risco de topar com o gipe novamente.

                        ************
       Dentro do carro estavam todos em silêncio agora.

      -Certeza que estamos perdidos.
-Keys diz com a cabeça apoiada no vidro.

      -Estavamos. -Pedro diz com confiança. -Olhem lá! -Ele abre um sorriso. Agora Emily já estava acordada e Eythan menos sonolento. Pedro tinha razão. Haviam chegado na velha casa de madeira. -Viram? E antes da gasolina acabar. -O homem olhava contente para o ponteiro beirando à reserva.

          -Não duvido de mais nada.
-Keys também sorri.

         -Falei que ele ia conseguir.
-Emily fala satisfeita.

         -Bem... Vamos logo. -Eythan não sorri, apenas abre a porta do veículo quando ele para e começa a caminhar para a casa. Todos descem e o acompanham.

                       ************
Varet caminhava lentamente, cambaleando pela mata ainda molhada e com Olivia nos braços. Ele quase não aguentava mais, quando um zumbi aparece. O jovem tenta apenas caminhar para o outro lado. Não podia lutar, ou então morreria.

Após um tempo, mais alguns mortos se juntam e agora meia duzia de andarilhos o seguia. Varet chorava, tinha certeza que não conseguiria, pois ainda faltava mais de dois quilômetros até o casarão. O jovem cai de joelhos, põe lentamente sua namorada no chão com pequenos capins e se levanta com dificuldade.
-Venham! É a mim que vocês querem? Então venham me pegar, seus cuzões!
-Ele batia no peito. Desamarra sua corda-com-pedra do corpo e acerta um zumbi, porém tão fraco que a criatura nem cai. Os mortos os cercavam, não havia para onde ir, Varet estava perdido. Se aproximavam cada vez mais até que...

O jovem estava com a boca aberta, não podia acreditar. Os seis zumbis estavam no chão. Varet olha para trás e percebe alguém se aproximando.

-Você está bem? -Essas foram as ultimas palavras que Varet ouvira antes de desmaiar.

To be continued...

Uma Luz no Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora