Capítulo Um

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Acordou naquele dia com o pensamento de como se algo em sua vida fosse mudar. Tinha razão de pensar assim. Não era uma simples sensação, o mais breve a tardar teria a constatação.

Levantou-se pensativo, tomou seu banho demorado, lavou cada pedacinho do seu corpo, tirando o peso de seus olhos. O sono queria ter mais um pouco de posse sobre si, não o deixaria ganhar, e não ganhou, todos os dias travava uma batalha com seu próprio corpo e divertia-se pensando assim "Melhor lutar com meu corpo que lutar contra o mundo". Vestiu-se normalmente, não normalmente para as outras pessoas, gostava de cores escuras, preto pra ser mais exato, demonstrava assim sua essência.

O preto mostrava a tristeza que sempre esteve em sua alma. Melhor mostrar sua tristeza assim com cores, que se cortar, como demasiadas vezes já o fizera, não mais, pois força de vontade para parar ele teve, embora a vontade de retomar a fazer lhe viesse todos os dias, todas as horas, todos os minutos, todo tempo.

Pitter era um jovem... Peculiar. Diferente dos outros, não vivia de status, não procurava ser algo que não era, não procurava se sentir importante.

Popular! Sim, essa é a palavra que tantos jovens na sua idade buscam. Poder! Assim podemos dizer, o gostinho do que se pode ter com atenção. Mas não, ele tinha atenção, não do jeito certo, claro, sofria por causa de seu modo de se vestir, de agir, era menosprezado, era hostilizado... sofria por ser assim, mas não tinha culpa, só era assim, sem mais.

Como todos os dias da sua adolescência, vestiu-se, tomou seus materiais em seus braços e desceu as escadas que levam a parte de baixo de sua casa, que não era grande, sim, normal, uma casa aconchegante; bom, devia ser assim, não fossem seus pais rígidos, pais esses que não lhe davam atenção, só impunham regras a serem seguidas sem pestanejar.

Nem sempre foi assim, depois da chegada dos gêmeos, Pitter foi posto de lado, sua presença era totalmente dispensável, mas já era assim de certa forma. Pitter tem um irmão mais velho, orgulho de seus pais, por isso era sempre comparado a ele, "Seja como Mathew, veja, ele é responsável, nos dá orgulho, o que você faz? Nada, você é um nada!" Isso vindo de seu pai era elogio, sua mãe nem ligava pra o filho, pra ela tanto faz. Mathew não morava mais naquela casa, ele gostava do irmão mais novo e odiava seus pais quando esse era comparado a ele "Cada um é cada um" dizia à seus pais, que nem davam ouvidos.

Sentou-se a mesa, os gêmeos eram paparicados por sua mãe e seu pai lia o jornal de todos os dias, serviu-se de pão de forma com presunto e queijo, tomou uma caneca de café quente feito por Mirtes, única que em toda aquela casa lhe dava um pouco de carinho, e a essa era agradecido, comeu em silêncio, preso em seus pensamentos e de lá não foi tirado.

Não lhe perguntavam como ia na escola, se estava bem, se queria que lhe tira-se a casca do pão, não, esse era Michael, um dos gêmeos, "Mãe, tira a casca do pão para mim, eu não gosto!" Alícia, a gêmea de Michael, não ficava atrás, imitava o irmão em tudo, sua mãe muito "solícita" fazia o capricho de seus preciosos gêmeos sem nem se importar em interromper seu dejejum. Pitter já estava acostumado a isso, feito sua refeição foi a cozinha e despediu-se de Mirtes com um beijo carinhoso no seu rosto, qual lhe foi devolvido, e assim seguiu para mais um dia de martírio de sua vida, escola Silvester Thunder.

"Vamos lá Pitter, coragem, você consegue, você é capaz!" pensava enquanto ia em direção ao colégio, "A quem eu quero enganar, sou um zero a esquerda, papai é que tem razão, sou um nada" Pitter tinha um grave costume de se menosprezar, não ligava, já estava acostumado a isso também, já estava acostumado a tristeza que era sua vida.

***

Jovens que sentem a necessidade de ser mais que os outros, de pisar nos outros, para ser mais exato, pra se sentirem superiores, roupas de grife, relógios de marca, sapatos que compraria o guarda-roupa inteiro de Pitter. Ele não era assim, tão superficial, não se ligava a roupas, status... para ele a essência importava, isso que tinha peso em suas decisões, talvez por isso era menosprezado pelos outros, não por Haley, sua amiga. Haley era uma patricinha, mas suas roupas e seu modo de agir não ofuscavam sua essência, pelo contrário, mostravam ainda mais a pessoa boa e gentil que era a menina.

— Pitter, meu amor, como vai?

— Com uma enorme vontade de cortar os pulsos.

— Não fale besteiras garoto, você não me deixaria sozinha nessa escola de loucos deixaria? — perguntou a garota cruzando os braços. Seus cabelos loiros estavam esvoaçantes aquela manhã, efeito do vento de inverno.

— Não Haley, você é a única que se salva aqui, além do Troy. É que minha vida é tão sem graça e convenhamos, não faria a mínima falta.

Haley balançou a cabeça em negação e com o garoto triste entrou no colégio, onde se era notado a falsidade no rosto de cada um daquelas pessoas, meninas gritando ao encontrar as "amigas", meninos do time de futebol cantando as garotas e rodeados de líderes de torcida... e lá estava ele, Henry, o mais lindo, o mais sexy dos jogadores, não a toa era o capitão, mas o que tinha de lindo tinha de arrogante, era ele quem puxava as ofensas para com Pitter.

— Lá vem o emo viadinho! — gritou o garoto de corpo forte e cabelos loiros, rindo, sendo imitado por seus seguidores. Pitter teve vontade de se enfiar num buraco nessa hora.

— Seu retardado, acho bom comprar anabolizantes, seus músculos estão murchando. — gritou Haley Wayne.

— O viadinho tem uma protetora patricinha, hahaha. — gritou outro menino do time.

Pitter que estava já acostumado a ofensas desse tipo apenas abaixou a cabeça e entrou na sua sala, sentou nos fundos onde era o lugar dos "não favorecidos" e lá ficou sozinho, as aulas aconteceram e Pitter fez tudo que tinha que fazer, assistiu as aulas como se lá nem estivesse e no fim da aula, quando todos já estavam praticamente fora do colégio, Pitter sentiu vontade de ir ao banheiro. Ele foi, usou uma das cabines e quando saiu deu de cara com Henry, o capitão do time, abaixou a cabeça e tentou passar pelo garoto, mas seus braços foram segurados pelo mesmo, Pitter pensou "Morri".

— OLHA PRA MIM! — gritou o maior. Pitter o olhou instintivamente, em seus olhos haviam medo, ele já sentira a força dos punhos do maior em suas costelas uma vez, Henry parecia querer dizer alguma coisa, mas, por não sei qual motivo, ficou entalado em sua garganta.

Os meninos se fitaram por alguns uns instantes e depois disto o mais improvável aconteceu, "Como assim?" Pensou Pitter enquanto seus lábios eram esmagados pelos lábios do maior. Pitter queria morrer naquela hora, no sentido bom da palavra, se é que morrer tem algo de bom. Pitter tinha toda sua essência provada pelos lábios sedentos de Henry.

 Pitter tinha toda sua essência provada pelos lábios sedentos de Henry

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