Capítulo 7: Um monte de amor, um punhado de verdade e uma dose de desejo

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"As vezes a dor é a melhor maneira de unir as pessoas"
Ass: Uma Quase Suicida

Perdi o sono ontem a noite depois que Marcelly saiu do meu quarto. O que ela queria dizer com aquilo? Essa ideia ficou martelando na minha cabeça a noite toda, tentei dormir mais foi praticamente impossível. Por mais que eu me virasse de um para o outro na cama a frase dela não sumia de meus pensamentos. Como não ia conseguir dormir mais mesmo, resolvi me levantar uma hora antes do despertador tocar, eram 5:30 da madrugada.
Fiquei perambulando pela casa. A pior coisa do mundo é ter insonia e não encontrar nada para fazer, além de tudo a fome estava coroendo meu corpo, podia até sentir meu estômago tentando comer meus rins. Graças a Deus - e minha querida mãe - tínhamos uma cafeteira, eu não sei fazer café, apesar de amar. Apertei os botões da máquina e fui na padaria da esquina comprar pão.
Marcelly que sempre comprava pão para gente, tenho medo do atendente daquela padaria. Nas poucas vezes que fui lá ele me tratou de um jeito muito estranho, pensei muito mas a fome foi maior que meu medo e me fez ir, precisei levar até um guarda-chuva porque estava garoando naquela manhã.
Caminhei pela rua deserta até chegar na padaria, pensei em como minha mãe surtaria me vendo andando sozinha numa cidade praticamente desconhecida. Nunca entendi minha mãe, ela preferia me deixar ir qualquer lugar a qualquer hora desde que ela já tenha ido lá, parei na porta e como sempre ela já estava aberta. Tentei ser o mais simpática possível.
- Bom dia! - disse sorridente e logo me arrependi o rapaz, de em media uns vinte e tantos anos quase trinta eu acho, me olhou de cima a baixo com um sorriso malicioso. Congelei ali mesmo.
- Bom dia! O que vai querer moça?
Ai que inferno. Acabei de esquecer o nome do que eu vim pedir, Marcelly compra isso quase todo dia. Vai tomar no cu memória idiota! Cadê meu subconsciente para me ajudar agora? Se vira linda.
- Vocês tem um pão que vem com um negócio feito de ovo em cima?
Tentei explicar mas aquele babaca fez uma cara de cínico com ponto de interrogação. Comecei procurar no balcão para ver se achava o doce, por sorte, encontrei um doce parecido lá.
- Hei! É tipo esse daqui só que maior.
- Redondo?! - não dava para distinguir se ele estava me perguntando ou afirmando, o olhar dele mostrava um desdém extremo. Parecia que eu era o ser humano mais ignorante da face da terra que só tive capacidade de responder um é sem graça.
O rapaz me deixou lá e entrou nos fundos da padaria para pegar a rosca doce. Inferno! Agora que não precisa mais eu lembro o nome do pão. Aff! O rapaz voltou logo depois de um outro atendente chegar de moto. Os dois se olharam cúmplices e deram um sorriso esquisito.
Quando terminei de pedir tudo que queria e acertar a conta paguei o maior mico. Eu estava segurando o guarda chuva em uma mão e peguei o troco com a mesma, resumindo, eu tinha apenas uma mão livre para pegar três sacolas que o tendente tinha feito o favor de deixar empilhadas no balcão para dificuldar minha vida. Tentei passar os dedos pelos vãos das sacolas mas como os nós feitos eram muito pequenos meus dedos não entravam. Fui empurrando as sacolas pelo balcão para conseguir encontar uma forma de pegar as três ao mesmo tempo e adivinha? Uma delas caiu no chão e tive de me abaixar para pegar.
- Você está nervosa moça? - cínico do caramba! Nem para me ajudar, ao invés disso pergunta se eu tô nervosa. Babaca! Por que eu estaria nervosa?
- É que faltou um braço aqui para ajudar. - virei as costas e saí.
- Tchau moça!
Me virei e sorri o mais cínica possível.
- Tchau!
Saí daquela padaria gelada e praticamente corri para casa. Quando entrei em casa ouvi o som do despertador de Marcelly tocando, coloquei as sacolas na mesa e corri na porta dela. Quando ela abriu a porta a abracei forte.
- Ué? Que susto garota!
- Desculpa. Nunca mais me deixa sozinha!
- Meu Deus você está pálida! O que aconteceu?
Contei a ela minha saia justa da padaria e sabe o que ela fez? Morreu de rir.
- OK, parei! Mas pode deixar vamos dar uma lição nele. - ela disse se levantando e bagunçando meus cabelos.
- Tudo bem. Vamos comer agora!
Tomamos café e quando íamos sair para escola Marcelly me disse que não iria para o colégio porque não estava muito disposta, que queria descansar de ontem, mas que já havia pedido um táxi para que eu fosse. Desde ontem à noite estou com uma pulguinha atrás da orelha por causa do que ela havia dito e agora do nada ela decide não ir para o colégio. Muito estranho! Logo quando cheguei Miguel veio correndo me receber.
- Garota sua linda tá sozinha hoje?
- Marcelly não quis vir hoje. Mas ela disse que vai ficar bem!
- Ihhh sei até como é! Quando a gente namorava ela também fazia isso. Sabe essas coisas de mulher que acontecem todos os meses? - assenti com a cabeça mesmo sem entender ainda onde ele queria chegar - Então, quando isso acontece com a Marcelly ela sofre com uma cólica horrível, mas ela esconde para ninguém se preocupar com ela.
- Mas se ela estive sentindo dor eu teria percebido!
- Vai na minha, uma vez a gente combinou de sair e como era uma festa muito importante para mim ela foi. No meio da festa, do nada, ela estava de pé enquanto conversava com a minha mãe e puft, desmaiou. Descobrimos que era cólica quando ela acordou no hospital, ela estava praticamente verde quando tiramos a maquiagem. Foi assim que entendi o porquê de vocês ficarem tão estressadas quando chegam a tal semaninha. E eu não duvido nada que ela esteja em casa agora rolando de dor e quando você chegar ela vai encher o rosto de make e dar uma desculpa pra se trancar no quarto.
Não podia ficar em paz com a ideia de Marcelly em casa sofrendo de cólicas. Abandonei a sala no segundo período de aula, pela primeira vez na minha vida pulei um muro. Não sozinha, claro! Haviam quatro meninos que dia ou outro se reuniam ali para fumar, OK não é seguro brotrar (aprendi essa com a Aurora) no meio das rodinhas de adolescentes, mas essa era minha única opção.
- Er... eu... ham... - parecia que meu coração ia explodir de tanto bater, minhas mãos suavam, eu congelei de medo.
- Ué, pirou mina? - um deles falou soltando fumaça pelo nariz e boca.
- Cala a boca Luan! Ei garota, precisa de alguma coisa? - um menino meio japonês se dispôs a ajudar.
- É que uma amiga não tá muito bem e eu precisava muito saber como ela está! Vocês podiam me ajudar a pular o muro? - nem sei como falei tanta coisa direto sem gaguejar. As palavras só pularam boca afora, parecia outra pessoa falando.
- Olha a mina! Com jeito de certinha querendo fugir da prisão. - um garoto ruivo largou o cigarro e falou pela primeira vez.
- Thiago deixa ela! Vem aqui Charlie me ajudar. - o japonês chamou e o outro se levantou depressa, Charlie era o mais novo aparentemente, magro, branquelo, de olhos verdes profundos e um cabelo preto.
- Licença. - foi a única coisa que Charlie disse desde que cheguei.
Eles me pegaram pela cintura e me levantaram até que eu pudesse alcançar a borda do muro, depois de me empurrar o japonês mandou-me sentar no topo para que ele subisse e me ajudasse descer. Pulei e ele me pegou nos braços.
- Muito obrigada! Por tudo, valeu mesmo...
- Caleb.
- Obrigado Caleb!
- Se precisar estamos aí.
Sorri e corri para casa. Cheguei o mais quieta que pude, abri a porta e comecei a ouvir gemidos altos, fui direto para o quarto de Marcelly. A porta estava entreaberta, me aproximei e quando olhei vi uma das cenas que jamais imaginaria. Marcelly estava jogada no chão rolando e gemendo de um lado para o outro, a palidez em seu rosto era incrível. Apesar do tempo chuvoso o calor era de uns trinta e seis graus, no entanto ela estava coberta dos pés ao pescoço com nosso edredom mais grosso. Espera! Reformulando a frase, com SEU edredom mais grosso. Humm virando nosso Luisa? Calada mente idiota!
- Marcelly, por que não me pediu para ficar? Eu cuido de você.
- Lou? O que tá fazendo aqui?
- Vim cuidar de você.
Fiz a mandona, ajudei ela a se levantar e a coloquei em baixo do chuveiro quente. Depois do banho a coloquei na cama e preparei uma compressa de água morna.
- Qual tipo de remédio você pode beber?
- Não sei. Sou alérgica a maior parte deles.
Fui até meu quarto e encontrei dentro da minha bolsa de primeiros socorros um remédio para dor que minha mãe sempre me dava. É um remédio infantil de gotas, impossível ela ter alergia a este. Mas antes de dar a Marcelly, preparei uma sopa de legumes e a fiz comer pois não havia comido nada desde que saí.
Por sorte ela tomou e não teve reação nenhuma. Conforme a dor foi passando Marcelly adormeceu.

Uma Quase Suicida (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora