"As vezes morrer é a melhor coisa que alguns fazem na vida"
Ass: Uma Quase Suicida
Como todo final de ano, temos o baile de formatura. Neste ano incrivelmente alguém me convidou, algumas colegas de turma já são convidadas desde a sétima serie mas, eu nunca fui nessas festas e adivinha quem me chamou? Daniel! Tente imaginar minha felicidade na hora que ele me mandou mensagem. A Nathy sempre me chama para ir mas como ela vai COM o namorado, Philipe, eu prefiro ficar em casa porque não vou passar a noite de vela do casal. Esqueci de mencionar mas o Dan - é o apelido dele - tem um irmão gêmeo, idêntico, o que muda é apenas a bunda que o Arthur - o irmão dele - tem menos e a personalidade. Enquanto o Dan é todo quietinho e meigo o irmão é um completo babaca, trata as meninas como se fossem lixo. Só são iguais na paixão pelo futebol.
Nem acreditei quando vi a mensagem, ainda mais porque logo ele, moreno, malhado, não tão alto mas definitivamente lindo me chamaria! O convite foi meio em cima da hora - também ele me chamou na sexta de madrugada e a festa era no sábado à noite - mas aceitei, claro. A Nathalie deu pulos de felicidade quando soube.
Aliás nem precisei escolher roupa porque minha mãe me comprou um vestido lindíssimo. Segundo ela eu precisava ter algo que não fosse jeans e moleton se caso surgisse um evento importante de última hora eu teria o que vestir.Meus pais não implicaram em nada pois essa era a primeira vez que um menino me chamava para sair, quer dizer essa era a primeira vez que alguém fora a Nathy me chamava para ir a qualquer lugar, nem para encontro da igreja eu era convidada. Apesar dele já ter dezoito anos não tinha carteira, e eu só dezesseis, meus pais permitiram que fossemos no carro de um primo dele.
Logo o silêncio pairou quando entrei, pareciam segundos eternos de constrangimento por ninguém saber o que dizer, por Deus ele acabou sendo cortado por um elogio vindo de Daniel.
- Você está tão linda!
- Obrigada!
- Quero te levar a um lugar muito especial para mim antes da festa, mas é um lugar só meu! - ele pigareou se autocorrigindo - Ou um lugar só nosso se você quiser, topa? - congelei de surpresa imaginando os possíveis lugares onde ele poderia me levar, e mesmo com medo aceitei.
- Claro. - minhas mãos suavam e parecia que meu coração ia sair pela boca e cair no colo de Daniel a qualquer instante.
Nós fomos até os trilhos de um trem que passa dentro de um ferro velho. Descemos do carro e ele me levou segurando minha mão a uma árvore. Daniel surpreendeu-me segurando meus braços em um movimento rápido me prensando e me beijou contra a árvore fazendo meu corpo gelar, era meu primeiro beijo, ninguém nunca havia me beijado - também quem beijaria a louca - antes dele. Senti ele colocando as mãos debaixo do meu vestido e o levantando discretamente. Soltei um breve gemido ao senti-las em meu bumbum, no entanto o encanto acabou no exato momento em que ele abriu a boca.
- Até que tu é bem gostosa! - senti o nojo se propagar por todo meu espírito, o Dan que conheci nunca definiria uma garota assim.
- Espera! O Daniel nunca diria isso a uma garota, Arthur seu idiota! - o empurrei tentando afastá-lo.
- Olha enfim a louca percebeu. - ele estampava um sorriso malicioso no rosto.
Não conseguia acreditar! Ele nunca devia me fazer de idiota daquele jeito. Por mais que tentasse não consegui segurar, chorei e gritei com ele enquanto o mesmo parecia se divertir por ter me feito de trouxa.
- Seu babaca! Completo idiota. Por que você fez isso comigo? - Eu tinha de saber os motivos, em meio as lágrimas e ódio, eu tinha que saber.
- Só você não percebe que meu irmãozinho é louco por tu, então como ele contou pra burra da minha ex que eu tava chifrando ela eu decidi me vingar. Ia ser uma ótima vingança mostrar à ele um vídeo de mim transando com a mina dele no dia da nossa formatura. Ou da dele né porque eu reprovei.
Fiquei tonta, como ele podia ser tão sem coração, eu estava me entregando a pior pessoa do universo! Comecei a tremer e a suar frio. Implorei a Deus que não deixasse que aquela crise acontecesse de novo, mais estava acontecendo.
Minhas vistas começaram a se escurecer, Arthur foi ganhando um sorriso horripilante e malicioso enquanto seu rosto se distorcia em uma imagem macabra. Empurrei-o, e desta vez a força foi tamanha que mesmo ele não chegando a se mover eu me desequilibrei e caí no chão, a escuridão foi total durante alguns segundos enquanto eu corria as cegas. Quando voltei a ver era apenas uma espécie de vulto que foi se distorcendo, e a imagem que antes eu pensava representar Arthur agora era uma mistura de palhaço com zumbi que lambia uma faca gigantesca rindo em minha direção. Me arrastei tentando loucamente fugir, quando um som forte e rápido soou me fazendo voltar à realidade e novamente enxergar a silhueta embaçada dele.
- Pel... Lui... você - eu estava atordoada e não consegui entendê-lo direito - O trem!
Percebi o que ele tentava me dizer enquanto corria buscando me alcançar. Eu estava sentada nos trilhos e o trem estava vindo. Tentei levantar mas não conseguia me mexer, simplesmente travei e fiquei ali esperando o impacto, infelizmente a primeira atitude boa de uma pessoa na vida, foi sua última.
- Sai daí. Nunca vou me perdoar se matar o amor do meu irmãozinho! - Arthur me puxou pela mão sem sucesso, minhas pernas não respondiam. - Pelo amor de Deus me perdoa e faz meu irmão feliz.
O suor invadiu sua face, enquanto eu estava estática sentada nos trilhos ele tentou me pegar no colo mas tropeçou em um prego levantado e caiu. Com o tombo eu rolei pelo chão, já Arthur teve as pernas presas e esmagadas pelo trem sendo arrastado até ter o corpo mutilado pelos pedaços de ferro espalhados pelo caminho. Quando o trem chegou à parar o local se encheu de curiosos e depois de policiais e ambulâncias. Eu entrei em estado de choque, continuava na mesma posição de quando rolei, porém consegui ver ele ser levado em um saco preto antes de desmaiar. Minha pior lembrança!*****
Acordei em uma maca de hospital com meus pais do meu lado.
- Ele morreu, não morreu? - foi a única coisa que perguntei pois aquilo me corroia por dentro e, eu esperava que eles dissessem que foi tudo um sonho mas, meu pai confirmou com um aceno de cabeça a minha pergunta.
- Os advogados estão cuidando do caso mas graças as filmagens do celular dele foi possível ver tudo.
Só consegui chorar até dormir, não me importava se ficaria presa ou não. Me importava com Arthur apesar do que ele tentou fazer. Me importava com o que eu havia feito, me importava em ter matado alguém.
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Uma Quase Suicida (EM PAUSA)
AcakApós ter uma infância conturbada, graças a um sequestro, por sorte Luisa e seu pai encontraram Diana que mudou a vida de todos. No entanto, os momentos de sofrimento lhe deixaram sequelas irreparáveis, ela descobriu ter esquizofrenia. Mesmo taxada d...