Capítulo 13: Are you crazy?

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“Dizem que o tempo resolve tudo. A questão é: Quanto tempo?"
Ass: Uma Quase Suicida

   Mais uma manhã de olhares. Apesar de tudo que havia acontecido e estava acontecendo na minha vida, era impossível não ser afetada pela onda de ódio presente na sala de aula. Conforme as coisas com Marcelly foram se acalmando pude voltar minhas atenções às pessoas ao meu redor. Tivemos uma prova de Língua Inglesa, que por morar fora do Brasil me foi extremamente fácil, e por isso a professora me colocou em frente a Caroline, uma garota que tinha como única salvação aquela cola da prova de sociologia e por causa de tudo estava a mercê da sorte esperando o conselho de classe.
   Não era de se surpreender que ela me odiasse, mas não esperava que fosse tanta raiva. Por causa do calor as salas sempre ficavam com o ar condicionado ligado, justamente no dia que resolvo levar meu moleton preferido sou atingida pela raiva de mais uma revoltada. Depois de terminar a avaliação ela ficou em silêncio escrevendo com corretivo em uma folha de papel. Quando o sinal tocou só tive tempo de sentir o baque nas costas.
   Caroline escreveu “feia x9 e sapatão". As letras passadas do papel para minhas costas eram legíveis e dolorosas.
   — Chega perto de mim de novo que você vai ver o que acontece.
   Não tive reação. Não esperava por aquilo, nunca imaginaria aquilo. Marcelly ainda terminava desesperada a última questão antes da professora pegar e prova e só me viu sair correndo da sala. Corri o mais rápido que pude até o banheiro. Eles não mereciam me ver chorar outra vez.
   Mas como sempre o destino gostava de brincar comigo. O sinal havia tocado para o início do recreio, então mesmo que eu fosse até o banheiro não conseguiria ficar sozinha. O lugar fervia de meninas conversando e querendo usá-lo, seris uma péssima ideia ir até lá. Enquanto eu repensava para onde iria naquele horário de fluxo vou de encontro a uma parede humana e como de costume caio no chão.
   Caleb e Charlie logo me ajudaram a levantar mesmo tendo sido eu a trombar neles.
   — Hey cuidado! Espera, o que houve com você?
   — Olha! — não me contive e comecei a chorar enquanto mostrava as costas do moleton.
   — Meu Deus! Essas pessoas tem merda na cabeça? — Charlie estava indignado.
   — Vamos tire isso. Aqui está calor, quando você para sala te empresto o meu! — saí tão desnorteada que havia me esquecido de tirá-lo.
   Caleb me ajudou a tirar a blusa e me levou até o local onde eles costumavam sentar e fumar. Haviam alguns meninos lá mas com um simples olhar de Caleb eles se levantaram e foram para outro lugar. Charlie nos deixou ali e foi procurar Marcelly, afinal ela devia estar desesperado me procurando pela escola inteira. Em poucos minutos eles apareceram.
   — Lou o que aquela vadia fez?
   Mostrei à ela a destruição causada ao meu moleton favorito. Ela ficou com raiva, muita raiva. Pelas suas feições e trejeitos passando a mão bagunçando os cabelos e mordendo os lábios ela estava muito irritada. Caleb a observava com um sorriso sapeca, meio estranho a situação mas preferi não comentar e Charlie os olhou dizendo “Oh não!"
   — Marcelly vem aqui um minuto. — Caleb disse abraçando Charlie e ela.
   Eles ficaram alguns minutos conversando e me olhando de soslaio às vezes. Achei muito estranho, mesmo assim não tive forças para ir lá saber o que acontecia. Permaneci sentada chorando sentada em posição fetal no canto da parede. Charlie que nunca desgrudava da mochila veio junto a eles abrindo-a.
   — Lou nós quatro vamos matar a última aula. — Marcelly disse com o mesmo sorriso sapeca que Caleb estava.
   — E por quê mataríamos a última aula? — perguntei com as lágrimas mais controladas.
   — As pessoas não gostam de pintar os outros? Então, vamos pintar também! — Marcelly terminou de falar e Charlie mostrou o conteúdo da mochila sorrindo para mim. Eram várias latas de spray de tinta coloridas.
   — Are you crazy? — as vezes esqueço que estou no Brasil — Quer dizer, você está louca???
   — Aquela idiota da Carol já ficou com um menino do terceiro e queria ficar comigo ao mesmo tempo. Um tal de Caleb, sabe quem é? Além disso ela humilhou um outro do primeiro chamado Charlie que gostava dela. Acho que pintá-la um pouquinho vai fazer bem!
   — Uallll! Por essa não esperava! As pessoas não são fdp só comigo. Eu nunca aceitaria fazer isso com alguém mesmo ela tendo feito o que fez comigo, mas... Agora é diferente. Agora é por nós três! Eu topo!
  Os três sorriram cúmplices. Logo o sinal bateu e Marcelly e eu voltamos para sala. Marcelly passou pela mesa de Caroline e lhe deu uma cotovelada na cabeça.
   — Opa! Esbarrei em você? Foi sem querer querendo!
   Saímos rindo abraçadas. Rafaela e Guilherme passaram por nós e como de costume iam derrubar minhas coisas ou chutar minha bolsa. Mas hoje a treta estava em mim, então quando eles se aproximaram me levantei e sentei na lateral da carteira os impedindo de se aproximarem.
   — Ué? Perdeu alguma coisa garota? — Guilherme disse contrariado pela ação repentina.
   — Essa é louca GUI! — Rafaela disse debochada. Mas logo se encolheu quando gritei eu seu ouvido.
   — ARRRRRRRGGHHH! Cuidado, vai que eu te morto! Afinal eu sou crazy.
  
****

   Estava extremamentre ansiosa! Bad woman! Era a primeira vez que fazia algo errado, mas as vezes precisamos disso. O sinal tocou e Marcelly se levantou e caminhou até a porta com a mochila nas costas e piscou para mim. Nem precisei de mais nada, me levantei pegando rapidamente as coisas e a acompanhei.
   Encontramos Caleb e Charlie no mesmo canto de sempre.
   — Coloquem isto! — Charlie disse nos entregando alguns lenços, Marcelly que já tinham um no cabelo o tirou e colocou tapando o nariz e a boca.
   Caleb pegou um moleton preto com uma espécie de logo e entregou um para cada.

   — Bem-vinda de volta marrenta — disse entregando um à Marcelly — E bem-vinda aos heathens, você é o anjo agora!    — Marcelly vocês tem uma gangue com nome de excêntricos? — perguntei um pouco assustada

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   — Bem-vinda de volta marrenta — disse entregando um à Marcelly — E bem-vinda aos heathens, você é o anjo agora!
   — Marcelly vocês tem uma gangue com nome de excêntricos? — perguntei um pouco assustada.
   — Primeiro: com o uniforme me chame de marrenta — ela disse vestindo o moleton — E segundo: sim, eu fazia parte dessa “gangue", mas nos só fazemos pichações. Não roubamos nem nada do tipo, fazemos protestos pela cidade. Fomos nós que pintamos a casa da cultura da cidade e ficou linda, sem querer me gabar.
   — Entendeu tudo? Eu sou Poseidon e Charlie o mistério. — Caleb disse sério. — Se nossos nomes vazarem seremos presos e você vai junto! Grafite é crime nesse país.
   Somente assenti com a cabeça e me vesti. Coloquei o moleton com capuz e um lenço azul turquesa. Pulamos o muro e do lado de fora haviam duas motos nos esperando, surpreendente mas cheio de estilo. Me senti uma bandida a estilo dois caras em uma moto. Fui com Caleb e Marcelly com Charlie, segundo Caleb essa a formação. Segundo ele, Poseidon costuma pintar sozinho e ganhou esse apelido por suas pinturas em tons de azul lembrando o mar. Charlie conhecido como mistério devido suas pinturas com desenhos e tons mais sombrios e misteriosos. E Marcelly marrenta por si só! Seus desenhos sempre cheios de rebeldia e sonhos. Caleb foi me explicando tudo isso enquanto percorriam os a cidade de moto.
   Algumas voltas depois deles me mostrarem alguns de seus trabalhos, voltamos para a esquina do colégio e esperamos. Caroline vinha caminhando próxima a Rafaela e Guilherme, algo incomum mas maravilhoso para nosso plano. Pegamos os sprays e subimos nas motos.
   Nos aproximamos com a moto a toda velocidade e paramos. Charlie e Marcelly desceram primeiro enquanto eu e Caleb rodiávamos os três com a moto para não fugirem. De início foram arremessadas bombas de fumaça colorida.

Mistério jogava tinta neles como um mestre pinta um quadro com maestria e Marrenta pintava com gestos intimidadores contra eles até pararem cada um entre as motos fazendo um círculo fechado

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Mistério jogava tinta neles como um mestre pinta um quadro com maestria e Marrenta pintava com gestos intimidadores contra eles até pararem cada um entre as motos fazendo um círculo fechado.
   Poseidon e eu descemos da moto e caminhamos aos dois. Com um spray em cada mão avançamos sobre eles e logo em seguida Charlie e Marcelly  se juntaram a nós. Pode parecer algo extremamente errado mais a cena era linda. As cores pareciam se misturarem em câmera lenta, foi mágico. Agora entendo porque aquilo era tão especial para eles, a tinta voando mudava o cenário, os gritos me deixavam em êxtase.
   Mesmo sem perceber eles sempre deixavam um recado. Somente quando subi na moto para fugir que percebi escrito no chão “ Quem são vocês para julgar? Ass: Heathens". Tudo escrito magestosamente com os tons e marcas de cada um. E quanto a Caroline, Rafaela e Guilherme pareciam uma mandala nos tons da frase. Algo ruim ficou lindo no final, fazer o que!?

Uma Quase Suicida (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora