Capítulo 2 - André

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É muito difícil fazer sua cabeça e seu coração trabalharem juntos. No meu caso, eles não são nem amigos.- Woody Allen

Posso afirmar com categoria que essa não era minha intenção. Não foi como se eu acordasse de manhã pensando: "Nossa, hoje está um belo dia para ir para a cama com a viúva de um político influente que bateu as botas". Mas se foi o que aconteceu, quem sou eu pra reclamar?

Além do mais, depois de insinuar durante toda a rápida sessão de fotos que já tinha reparado em mim em outras ocasiões ("ocasiões" com certeza quer dizer "reportagens” nesse contexto. O marido dela era bem empenhado em estar sempre na mídia) de um jeito bem insinuante, a mulher praticamente expulsou o resto da equipe e me arrastou para seu quarto mesmo eu afirmando que aquilo não seria uma atitude muito profissional da minha parte, o que é o máximo que dá pra se fazer quando uma mulher muito - eu disse muito - gostosa está empenhada em te usar para curar seu luto. Não que ela estivesse muito enlutada também... Pelo menos não foi o que as coisas sujas que ela disse no meu ouvido demonstraram. 

O coitado do falecido era um homem de sorte... Talvez não de muita sorte, já que ela não parecia fazer o tipo fiel, mas isso não vem ao caso. Como se importasse alguma coisa pra ele a essa altura do campeonato...

Por mais que eu não tivesse esperando, é preciso admitir que foi muito bom ver todos os rostos furiosos das muitas equipes paradas lá no meio da rua aguardando ter algumas horas com a tal viúva quando viram que só a nossa ia conseguir entrar na casa hoje. Ah, como foi... E pro inferno com a parceria da profissão e o politicamente correto. Não é isso que vende revistas, no fim das contas. 

Fiz uma bela questão de reparar, principalmente, no rosto daquela descontrolada da "Tome Nota" que estava quase entrando em combustão espontânea de tanta raiva. Tenho certeza que hoje ela destruiria mais uma das minhas câmeras se tivesse a oportunidade. As línguas mais afiadas do jornalismo dizem que ela é a garota de um dos editores de lá... Se for, ele não deve estar fazendo um trabalho muito bom em mantê-la calminha, se é que me entende, porque aquela sua cara de anjo (só a cara, com toda a certeza. O pneu do meu carro furado e um quase acidente por conta disso me mostraram da pior maneira possível essa verdade) tá sempre tensa e mal humorada. Se já não tivesse destruído minha câmera de estimação, tentado me matar e se não fosse do seu chefe eu até poderia tentar ajudá-la nessa questão... Mas mulheres de chefes geralmente são perigosas. Isso, claro, quando eles já não partiram pro outro lado como é o caso da que está do meu lado nesse momento...

Essa que está do meu lado e que acaba acordando quando me levanto e começo a me vestir para cair fora dalí. Estou de costas, mas percebo pelos movimentos da cama.

- Já vai, gostoso? - Sua voz aguda e cortante invade o quarto com um tom malicioso e um tanto artificial.

Ela é uma gata, mas fica melhor com a boca fechada, não dá pra negar. Ou a usando em outro tipo de atividade, claro. 

- Foi tudo ótimo, mas alguma coisa me diz que ainda estou em horário de trabalho, então preciso ir. Vou ter que preparar uma boa explicação. - Visto rápido a camisa e não consigo evitar rir de mim mesmo. Teria que ser uma bela desculpa  pra explicar o motivo de eu não ter voltado com Raquel quando a entrevista acabou.

- Você tem com exclusividade as fotos da garota aqui. Eles não vão estar nem aí para o que estava fazendo. - Seu jeito animado e satisfeito não lembra em nada o rosto abatido e choroso que  fez questão de mostrar nas fotos. Se daria bem como atriz...

- Sabe que não precisa fazer isso, né? Se quiser oferecer entrevistas pra mais alguém, não tem problema nenhum. De verdade. - É óbvio que eu não rejeitaria uma exclusiva, mas exigir isso seria canalhice demais até pra mim.

Não estava nos planos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora