Capítulo 15 - Samantha

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“Estar apaixonado é estar mais próximo da insanidade do que da razão.” - Sigmund Freud

- Sabe, é bom mesmo você me segurar, André, porque quando eu conseguir me soltar vai haver um loiro a menos no mundo. 

Minha voz sai ríspida conforme continuo sentindo uma mão de André segurando as minhas e uma respiração voraz e quente próxima o bastante do meu pescoço  para ser capaz de fazer ser meio difícil achar a situação boa pelo motivo que citei e não por outros... 

- Você não relaxa nunca? - não posso ler sua expressão por razões obvias, mas sua voz já entrega uma insuportável tranquilidade.

- Relaxar? - A minha é o completo oposto - Eu tive um dia infernal e agora tô com a droga de uma venda nos olhos e sendo sequestrada por um babaca... Pode me dizer como relaxar em uma situação assim, olhos azuis? Porque eu iria adorar saber...

- É... a resposta é não, você não relaxa. - quase consigo vê-lo dando de ombros - E sequestro é um bom termo... gostei.

- A polícia também costuma adorar.

- Vamos fazer o seguinte, justiceira... - me puxa para mais perto de seu corpo com a mão que me segura e volta a falar no meu ouvido - Eu vou precisar te soltar agora, mas você não vai tirar a venda, combinado?

- Mas é claro que não tem nada combinado. O que é isso tudo, afinal de contas?  

- É sério, Samantha... Confia em mim pelo menos uma vez, ok?

Não é justo. Ele está perto demais, convicto demais e eu estou curiosa demais pra mandá-lo pro inferno, dar meia volta e ir embora. Eu sempre soube que um dia essa mania de ter minha curiosidade se sobrepondo ao bom senso não traria coisa boa.

- Isso não vai terminar com uma manchete do tipo: "Jornalista some sem deixar rastros e a suspeita é de assassinato brutal", né?

- Só se você não ficar quieta e vir comigo... - solta com escárnio escancarado me levando para Deus sabe onde.

Era só o que faltava para fechar com chave de ouro minha tranquila estadia nesse lugar onde o vento faz a curva... Vir para ser a madrinha de um casamento, bater na noiva, ser expulsa pelo noivo (que, só por um mero detalhe, é meu ingrato melhor amigo e o cara com quem achava que eu iria me casar), ir parar em um cemitério para investigar um crime e me deixar ser levada literalmente às cegas pelo sujeito mais duvidoso do qual já ouvi falar para algum lugar que só ele sabe. Grande ideia a de aceitar o convite de Rodrigo, hein? Magnífica e genial ideia...

- Ei, isso é um barco? - espanto meus pensamentos e falo alto quando André apoia sua mão na minha para que eu suba em algo. - Minha nossa, você perdeu toda a noção. Acho que ainda prefiro o cemitério...

Era por isso que o tal barco estava lá dando sopa sozinho, então? Essa é a hora em que eu começo a ficar com medo de verdade. Isso não tá com cara de que vai terminar bem. Queria, então, entender o porquê de eu continuar indo em frente.

- Onde você aprendeu a ser tão desconfiada?

- Só não estou acostumada a... não saber onde piso. - Literalmente ou metaforicamente, faz sentido. 

- Você é uma maníaca por controle.

Peraí, não sou não. Sou?

- E alguém precisa dar um jeito nisso. - André completa ainda me guiando. 

Não sei exatamente quanto tempo se passou, mas estou em terra firme de novo. O que não muda meu total estado de cegueira. Já não sei mais se voltamos para a praia, se fomos para outro lugar... Perdida é uma boa definição para minha atual situação. A única certeza continua sendo a presença marcante de André perto de mim, o que é preciso admitir que não é de todo mal. Conheço bastante mulheres que não se incomodariam nada em se perderem com esse fotógrafo... O que não é meu caso, vale registrar. Principalmente não hoje, depois de uma conversa medonha com Rodrigo.  E esse fato continua não explicando o que diabos eu estou fazendo aqui então, mas já estou começando a acreditar que devo ser meio sádica. É a única explicação plausível. 

Não estava nos planos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora