“O amor é de todas as paixões a mais forte, pois ataca simultaneamente a cabeça, o coração e os sentidos.” - Voltaire
Teimosa, impulsiva e irritantemente atrevida. Aí vão mais três adjetivos para o projeto mal acabado de agente secreta que está do meu lado. Ela achou mesmo que isso podia dar certo? Está escrito na testa desse cara que a abordou que não presta e só pela maneira como ele a devorou com os olhos, não gosto nem de pensar no que poderia acontecer se estivesse sozinha.
Ah, se ela não tivesse tão encrencada eu até que iria me divertir vendo onde isso vai dar. Quando a olho, vejo que a jornalista abusada só engole seco, tira a mão do meu braço e lança um sorrisinho para o provável marginal parado alí, como que recomposta do susto.
- Você deve ser o Patrício... - diz estendendo uma mão para ele com alegria forjada. - Já ouvi muito sobre você.
Não acredito que ela está fazendo isso...
- Sou Fernanda. - continua - Esse aqui é...
- Rodrigo - a interrompo e interrompo também o estendido aperto de mão dos dois com um cumprimento rápido.
O olhar cortante e gelado dela no momento que eu digo 'Rodrigo' por um momento me dá vontade de rir, mas a vontade de provocá-la é mais forte que eu.
- E o que vocês querem? - O infeliz fala no plural, mas continua se dirigindo apenas a Samantha e de um jeito que não me deixa nada contente.
Já ela, parece bem convicta a se aproveitar da situação pra continuar com sua maluquice.
- Será que a gente pode jogar limpo com você? - Fala um pouco mais baixo como já deixando entendido que quer algo errado ou, no mínimo, duvidoso.
- Devem.
- Tá certo... Vou confiar então - mais um daqueles sorrisinhos e um respirar fundo bem fingido. - Nós estamos precisando de um... crânio. Para uma pesquisa.
- Ah, claro... Medicina. - o homem retribui o sorriso como se estivesse acostumado a ouvir esse tipo de coisa.
- Exatamente. Será que pode resolver nosso problema? - Ah, pelo amor de Deus, pedindo com essa carinha inocente e de esperança, até eu tentaria resolver.
Olha a concentração, André...
- Acho que posso fazer alguma coisa a respeito...
- Ótimo. Vai quebrar um galhão, pode acreditar... - uma expressão radiante e vitoriosa brota nela agora quando me olha. Nem parece mais a mesma aterrorizada de minutos atrás.
Sem muita conversa, o cara começa a caminhar na frente para outro lugar e o seguimos prontamente mesmo sem seu convite direto.
- Geralmente só aparece por aqui quem já foi indicado por alguém. Quem falou de mim pra vocês? - pergunta tranquilamente enquanto continua caminhando.
É ótimo ele estar de costas nesse momento porque o rosto de pavor que volta a se instaurar em Samantha seria o suficiente para nos entregar, sem dúvidas. Sério que nem passou pela cabeça dela que o homem podia perguntar isso? Ela esta pensando em um nome pra inventar ou algo assim? Ah, por favor.. Amadores...
- Um professor e grande amigo. Mas não precisa se preocupar... Ele só comentou com gente confiável, se é que me entende... - finalizo o assunto com o tom que deixa claro que não quero entrar em mais detalhes.
Quando ele apenas faz um gesto positivo com a cabeça, Samantha me dá uma olhada como que não acreditando que podia ser tão fácil. Já lidei com pessoas desse tipo... Eles sabem que fazem uma coisa bem errada e se esforçam para dar o menor número de informações possível e, por isso, entendem que quem financia toda a porcaria também prefere ficar calado. Um confia no outro, mas sempre desconfiando... é assim que funciona.