Capítulo 5 - Samantha

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“Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.- Carlos Drummond de Andrade

É castigo. Não tenho dúvidas. Só pode ser. Foram as aulas de ensino religioso que eu insistia em matar pra fazer alguma coisa mais divertida? Caramba, eu era nova demais... Vocês aí em cima não precisam ser tão rancorosos. Não têm senso de humor? Levem em consideração que eu nunca fiz mal a ninguém... Tá bom, a quase ninguém. Talvez eu tenha feito algumas pequenas coisas para o loiro canalha que tá me encarando nesse exato momento. Ele mereceu todas elas, então pensem nisso.

A questão é que quando você está quietinha em seu canto, tentando tomar coragem para conhecer a mulher que vai pegar o cara que você gosta pra si, não espera uma maldade dessas. Não tem mais ninguém nesse mundo que mereça se ferrar? Um casamento indesejado e uma ameaça de demissão se eu não chegar do mesmo com uma matéria de tirar o fôlego já não é demais? Precisa mesmo fazer meu maior concorrente brotar magicamente na minha frente em carne, osso, olhos azuis, cabelo e barba rala loiros e muita saúde? (Você está proibida de olhar do pescoço pra baixo, Samantha). Aliás, o que diabos ele está fazendo aqui? De relance eu até pensei que estava tão ligada no trabalho que já estava até vendo miragens, mas miragens não falam. E miragens não erguem a sobrancelha e lançam olhares desafiadores também. 

Em resumo, miragens não são babacas. 

- André Rangel. - É tudo que consigo dizer sem deixar a raiva transparecer muito. Ou nem isso, porque não tenho certeza se estou conseguindo.

- É o meu nome. - assente com a cabeça sem se deixar abalar - Já disse alguma vez que fica bem sendo pronunciado por você? Porque fica.

Vou quebrar essa câmera também se ele continuar. Melhor, vou tacar tão longe que vai bater naquele farol bonitão e se quebrar em mil pedaços.

- Preciso ter cuidado com essa aqui? - Parece ter lido meus pensamentos, ou só reparado mesmo no meu olhar gelado e de fúria, e ergue um pouquinho a câmera em sua mão dando a entender que esta falando dela. 

- Sempre. - Digo ameaçadoramente. 

Sou boa com ameaças, juro que sou, mas essa não parece surtir muito efeito já que ele a devolve com um sorrisinho. 

- Você vai me contar o que está fazendo aqui? Eu queria muito entender. - Se ele disser que tem casa, família ou o que seja nessa cidade, juro que mato Rodrigo. Já não bastasse tudo, ainda teve que escolher o lugar errado pra se casar. 

- Trabalho. - é curto e grosso.

Não seguro uma bela arqueada no rosto. Trabalho? Se nosso trabalho é basicamente o mesmo, isso quer dizer que existe alguma coisa que valha uma matéria nesse lugar? Odeio essa coincidência maldita que colocou ele aqui, mas a esperança de uma pauta me anima um pouco. Confesso que já estava desanimando sobre encontrar algum assunto interessante. Essa droga de cidade parece perfeita, mas se a "Porto" mandou seu principal fotojornalista pra cá é porque alguma coisa tem.

- Trabalho? - Forjo uma voz natural e sem interesse. É óbvio que não vou deixá-lo saber que também tô procurando alguma coisa - Raquel veio também, então? 

- Não. Digamos que seja outro tipo de trabalho... Um que envolve... - ele esta mesmo pensando em uma maneira de dizer? - Casamento.

Ah, puta merda... 

- Casamento? - chego até a tossir de nervoso - Você veio trabalhar em algo envolvendo um casamento?

Por favor, me diz que essa é a cidade dos casamentos e que o dele não é o mesmo que o meu. 

Não estava nos planos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora