Capítulo 4 - André

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“Qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado.” - Nelson Rodrigues

Esse lugar esta exatamente como da última vez em que estive aqui. "Ilha do Farol" é um município pequeno e vizinho de “Angra dos Reis” que se assemelha muito com toda a beleza desse último, mas sem aquela inúmera quantidade de turistas, já que esse não é o forte cidade, o que a faz ainda mais intocada e bonita. Até que dá pra entender toda a vontade de Júlia em se casar justo aqui quando as exuberantes praias, enseadas e tudo o mais vão conseguindo ser vistas conforme o carro vai passando. A que fica perto da casa dos pais dela, onde o tal casamento vai acontecer (vai acontecer... ou não, já que permitir isso não é bem minha intenção), ainda consegue ser a melhor já que conta com a vista do antigo, mas imponente farol que dá nome à cidade e ilha e que fica em uma ilhazinha minúscula onde se chega em um viagem rápida de barco. 

Paro de analisar cada canto do lugar e dirijo mais devagar assim que avisto a imagem de Júlia em pé me esperando no lugar que combinamos de nos encontrar, no centro da cidadezinha. Procuro um lugar próximo pra estacionar, que também não é muito difícil pelo pouco movimento, e logo já estou saindo do carro e me aproximando, tirando meus óculos escuros e deixando um pouco do sol do lugar entrar, mesmo animação não sendo muito minha especialidade hoje. O lugar pode ser lindo, mas não dava pra dizer o mesmo sobre o que fui fazer alí. 

Quando Júlia me vê logo se apressa para um abraço entusiasmado e um beijo instigante, como sempre dava um jeito de fazer. Bom primeiro sinal. Imagino que noivas prestes a se casarem nao cumprimentam ex-namorados com um abraço e beijo bem atrevidos. Se fazem, não deveriam... Isso alimenta pensamentos bem convidativos.

- Eu sabia que você não deixaria de vir. - Diz com animação assim que para perto do carro e encosta nele, ficando de frente pra mim.

- Deixaria se você não tivesse praticamente me obrigado. - reforço o que venho dizendo durante todo o mês em que ela passou me convencendo a aceitar a ideia. - Esse lugar não mudou nada. - digo olhando ao redor do centro que continua intacto. 

- Você adorava fotografar tudo quando vinha, lembra?

- É... E gostava de fazer outras coisas também. - um sorriso presunçoso escapa de mim antes que eu consiga evitar e Júlia corresponde até que parece perceber e volta a esboçar uma expressão informal.

Não dá pra evitar a conversa com segundas e até terceiras intenções... Não de uma hora pra outra depois de fazermos isso durante tantos anos. Principalmente quando não quero evitar e parece que ela também não, já que não faz esforço nenhum pra isso. 

Encosto também no carro e fico ao lado dela após algum tempo em que ficamos calados.

- No fundo eu sempre soube que ia me casar aqui, sabia? - Júlia retoma a conversa com tranquilidade - Claro que imaginava alguns detalhes diferentes, mas a vida surpreende às vezes.

- Detalhes diferentes? - Olho novamente em sua direção que dessa vez ri de modo complacente.

- Se você já sabe exatamente a resposta de tudo que deixo subentendido porque ainda pergunta, André?

É... O detalhe diferente com certeza seria o noivo nesse caso. Mais um ítem que com certeza não combina com o jeito de noivas comuns agirem: Dizer para outros casos amorosos que se imaginavam casando com ele. Ela está achando que sou algum tipo de idiota? Se eu ainda tinha alguma dúvida, sumiu nesses primeiros minutos nessa cidade. Dá pra ver muito bem o que ela está querendo com isso tudo. 

- E o noivo, não deveria ter vindo tanbém? Confesso que tô curioso. 

- Ele chega no fim da tarde e você, sem provocações, ouviu?

Não estava nos planos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora