Capítulo 1

72.1K 4.4K 5.8K
                                    

— Sua desgraçada! — O grito feminino estridente, muito familiar para mim, ecoou em meus ouvidos, fazendo-me sorrir internamente.

"Deu certo."

Fingi que não ouvi nada e continuei limpando o banco da minha moto, assobiando tranquilamente. Em segundos, duas mãos agarraram meus ombros e me viraram, fazendo-me encarar um par de olhos castanhos, furiosos.

— Como vai, querida vizinha? — Perguntei com meu melhor sorriso e ergui uma sobrancelha, observando a pele bronzeada da garota à minha frente, que começava a adquirir um tom avermelhado.

Com um olhar rápido, notei suas pernas bronzeadas, expostas pelo short de uma cor horrível, que lembrava merda seca, e a camiseta igualmente terrível, estampada com o Edward Cullen. Ela cruzou os braços sobre os seios pequenos.

Ainda assim, era bonita.

— Para de ser cínica, Jauregui! Onde elas estão? — Aquele tom de voz carregado de raiva soava como música para meus ouvidos.

— Elas quem? — Perguntei ainda agachada, e ela se aproximou, apontando o dedo na minha cara.

— Minhas meias da sorte, que deixei secando no varal, sua idiota!

— As meias não são suas? Por que eu teria que saber onde estão? — Eu sabia muito bem onde elas estavam.

— Porque você está envolvida em tudo de ruim que acontece na minha vida!

— Agora só falta dizer que eu também sou culpada por você ter nascido feia. — Bufei teatralmente. — Você deveria estar mais preocupada em procurar seu maldito par de meias, em vez de me importunar. Anda, sai logo daqui, Cabello! — Falei, voltando minha atenção para a moto.

Mergulhei o pano que usava para limpar a moto no balde com água e sabão, torci para retirar o excesso de água e esfreguei-o lentamente na lataria suja de lama. Pelo canto do olho, vi Camila ainda parada, seus olhos fixos nas minhas mãos.

— Diz que isso na sua mão não é o que eu estou pensando. — Olhei para o pano imundo e balancei-o, estendendo-o para ela.

— Não sou vidente, mas isso aqui é um pano que estou usando para limpar a Lana — falei, referindo-me à minha moto.

Ela tomou o pano da minha mão, olhando para ele como se segurasse um animal de estimação morto. Dei de ombros, me virei e peguei outro pano no balde, repetindo o processo.

"Por que ela ainda não me matou?"

Parei os movimentos e olhei para trás, meu coração falhando levemente ao ver a cena: Camila segurava uma meia destruída, e lágrimas caíam sobre o tecido. Larguei o outro pano no balde e me aproximei devagar, tocando levemente sua perna com a ponta dos dedos.

— Camz, eu... — Ela focou os olhos em mim, chutou meus dedos levemente e explodiu.

— Não me chama assim! Você é uma idiota, Jauregui! Sabe o quanto essas meias são importantes para mim? Foi o último presente de Natal da minha avó antes de ela morrer! Agora elas estão destruídas porque a pessoa que eu mais odeio no mundo resolveu roubá-las e usá-las para limpar essa maldita... — Ela parou e marchou até a moto, derrubando-a com um chute. — ...essa maldita moto! — Ela mergulhou a mão no balde e tirou de lá a outra meia. — Eu quero que você e essa moto se destruam, Jauregui. Eu te odeio com todas as minhas forças! — Pegou o balde de água suja e despejou sobre minha cabeça antes de voltar para casa, pisando firme.

Ah, já mencionei que sou apaixonada por ela?

 Camila's Point of View

"Essa idiota é a personificação do Diabo."

Praguejei em pensamento enquanto empurrava a porta de casa com força, marchando em direção à escada.

— Kaki, o que aconteceu...? — minha mãe começou a perguntar.

— Foi a idiota da Lauren de novo! — gritei enquanto subia as escadas, rumo ao meu quarto.

Sabia que minha mãe não faria mais perguntas; ela já estava acostumada com as minhas brigas com Lauren.

Joguei-me na cama e deixei as lágrimas caírem.

Eu odiava quando Lauren me vencia desse jeito. Levantei as meias diante dos meus olhos, e algumas gotas de água suja caíram no meu rosto, misturando-se às minhas lágrimas. Só faltava uma música triste ao fundo para completar o desastre.

Elas não estavam apenas sujas. A filha da puta havia cortado a lateral delas para expandir o tecido e lavar aquela lata velha que chamava de moto.

Eu não costumava odiar pessoas ou coisas, mas Lauren não era uma pessoa ou coisa. Ela era um demônio que me infernizava desde os oito anos.

Não sei por quanto tempo chorei, amaldiçoando a vida de Lauren Jauregui, mas meus pensamentos foram interrompidos pela voz da minha mãe, ecoando lá de baixo.

— Kaki, tem visita para você!

Provavelmente era minha melhor amiga, Dinah, que adorava comer aqui aos sábados. Na verdade, ela gostava de comer aqui todos os dias.

— Pode mandar subir! — gritei, ainda olhando para as meias destruídas.

Momentos depois, ouvi batidas leves na porta.

— Sua mãe disse que eu podia subir. — Meu olhar foi direto para a porta.

O que aquela maldita estava fazendo dentro da minha casa?

— Vai embora da porra da minha casa, Jauregui! — Gritei, me levantando para esmurrá-la. Ela arregalou os malditos olhos verdes e deu um passo para trás.

— Eu já estou indo, só vim trazer isso. — Ela estendeu a mão, mostrando dois pedaços de tecido idênticos ao que eu segurava.

Senti minha fúria aumentar.

— Eu não quero um par de meias novo! Você não entende o valor sentimental das coisas? — Arremessei as meias que segurava em seu rosto. — Você não pode destruir minhas coisas e simplesmente tentar substituí-las com outras novas, sua idiota!

Ela não disse nada. Apenas pegou as meias que eu tinha jogado e as estendeu novamente.

— Essas meias são as suas. Eu sei que todo dia quinze você lava este par e não gosta de usar a secadora, então comprei um idêntico só para provocá-la. — Ela riu fraco. — É tão fácil mexer com você, Cabello...

Se ela soubesse o quanto eu odiava ser feita de idiota, não teria dito aquilo. Arranquei o par de meias da mão dela com um puxão e o joguei na cama.

Lauren's Point of View

Depois de tomar as meias da minha mão e jogá-las na cama, Camila marchou furiosa em minha direção, me fazendo prender a respiração no momento em que espalmou as mãos no meio dos meus seios.

Será que ela podia sentir meu coração batendo furiosamente?

Olhei para suas mãos, e logo me vi sendo empurrada para fora do quarto. Assim que meu corpo atravessou o batente, suas mãos se afastaram de mim, e a porta foi batida na minha cara.

— Esqueça que eu existo!

Encostei minha testa na madeira da porta, fechei os olhos e respirei fundo.

— Eu queria que fosse tão fácil...

You Hate Me While I Love YouOnde histórias criam vida. Descubra agora