VIII O Desembarque

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E eu estava em um ângulo, observando com temor.


Paulo Diácono: Vidas dos Padres Emeritenses

DO PRESBÍTERO DE CARTEIA AO DUQUE DE CÓRDOVA


Ao Duque Teodemiro, saúde!

Quando Vitiza reinava, na corte esplêndida de Toletum, havia dois tiufados que


a todos serviam de exemplo de íntima e sincera amizade. Opiniões e intentos,


alegrias e tristezas eram comuns para ambos. Chamava-se Teodemiro o mais


velho, Eurico o mais moço. Nas suas esperanças de mancebos, as Espanhas


foram-lhes, muitas vezes, acanhado teatro para ilusões de ambição. A glória era


o seu perpétuo sonho, e as recordações das façanhas dos antigos Godos


embriagavam-lhes os ânimos ao lembrarem-se de que as armas dos seus avós da


Germânia tinham brilhado vitoriosas sempre sobre os membros despedaçados do


Império Romano. Quando o grito da rebelião soou na Cantábria, as tiufadas dos


dois mais irmãos que amigos acompanhavam Vitiza na expedição contra os


montanheses rebeldes e contra os Francos seus aliados. Então, nessa guerra de


extermínio, os dois mancebos viram saciada a sua sede de renome. Como os


maciços de neve que se despenham das montanhas escarpadas da Vascónia, as


duas tiufadias de Teodemiro e de Eurico apareciam, às vezes, subitamente, nos


visos das serras e, apenas os primeiros raios do Sol faziam reluzir as armas,


semelhantes no brilho trémulo ao alvejar da geada, ei-las que pareciam rolar-se


pela encosta, e dentro de pouco, os acampamentos dos francos e cântabros


ficavam esmagados debaixo do ímpeto irresistível dessas pinhas de soldados que


eram arremessados sobre o inimigo por duas vontades émulas de glória. Expulsos


os estrangeiros e submetidos os rebelados, a hoste real entrou vitoriosa em


Tárraco. O duque Fávila recebeu em triunfo os pacificadores da Cantábria, e


Teodemiro e Eurico obtiveram a recompensa do que combateu pela pátria, a


gratidão dos seus naturais.


Foi aí que o destino preparou a separação dos dois guerreiros que parecia só a


morte poder dividir. Fávila tinha dois filhos, Hermengarda e Pelágio. Pelágio saía


apenas da infância, mas para Hermengarda despontavam já então os risonhos


dias da juventude. A sua formosura era celestial: Eurico viu-a e amou-a. Quando


as tiufadias foram chamadas a Toletum, Eurico voltou triste à terra da sua


infância. Dir-se-ia que eram os contentamentos da pátria que ele trocava pelas


tristezas do desterro. Debalde buscou Teodemiro apagar aquela paixão violenta


no coração do seu amigo, lançando-se com ele nas festas ruidosas de uma corte


dissoluta. A embriaguez dos banquetes era para Eurico tristonha; as carícias

Eurico, o presbítero- Alexandre HerculanoOnde histórias criam vida. Descubra agora