2. Ele é persistente

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I. O rapaz na mídia é o ator Caleb Landry Jones (que eu editei todo o rosto) apenas representa como imagino o Flinn, ele não possui qualquer relação com a história.

ARRASTE-ME

Will apenas ria da minha expressão.

Que desgraçado! Era para ele me ajudar, não rir!

— Desculpe cara... — o loiro dava uma risada escandalosa que chamava atenção no refeitório da universidade. - ai que merda hein? Tu só se fode, sempre!

— Não fale desse jeito, eu preciso de ajuda... — massageio minha testa, suspirando, largo meus braços sobre a mesa de plástico. — era pra você me aconselhar, sei lá!

— Acho que eu iria para alguma ilha perdida com o bofe, Peter Pan.

Revirei os olhos, por que mesmo eu achei que ele fosse me ajudar?

— Vai procurar alguém para apagar esse seu fogo Will. — bufei, brincando com a caixinha vazia de meu suco.

— Ah moranguinho, eu estou providenciando isso... — ele mordeu os lábios, olhando para algo além de mim.

Olhei por cima dos ombros e percebi que um rapaz de pele chocolate a algumas mesas de nós encarava Will, ele mordeu o lábio carnudo e piscou para meu amigo que dava um de seus sorrisos safados.

— Fala sério — me ajeito na cadeira. — o Cal? Você viu o cara que ficou com ele da última vez?

— Com certeza. — ele deu um suspiro, mais excitado que apaixonado, esquecendo completamente de mim enquanto flertava com o Cal.

Eu me lembrava do Anderson, era um magricela veterano do meu curso, ele e Cal namoraram por uns três meses, Anderson vivia cansado e andando como um pato, eu sinceramente preferia não imaginar o que acontecia com aqueles dois entre quatro paredes.

Bem, Cal era mais conhecido por seu apelido, Tora, e fazia jus ao mesmo!

O sinal tocou e eu tive que quase puxar Will pelas orelhas para ele levantar e vir comigo, lhe dei uma bronca quando falou que queria matar os últimos horários para...

Prefiro não repetir tudo que ele falou sobre o Cal.

Os últimos períodos até pareceram passar rápido na verdade, pelo menos para mim, Will acabaria abrindo um buraco no chão de tanto que movia o pé, ansioso.

O professor nos dispensou, exigindo três livros lidos para a próxima aula. Eu suspirei, caramba, eu já havia pegado emprestado o limite de livros dá biblioteca, precisava terminá-los logo!

Will arrumava freneticamente o topete loiro pelo reflexo do celular, andando ao meu lado. Eu reclamava da minha falta de tempo para ler tudo e ele apenas fazia "uhum", acabando por me irritar. Chutei sua canela e ele quase jogou o celular em meu rosto.

— Você nem tá me ouvindo! — reclamo.

— Cacete você tá muito chato pimentinha, sabe do que precisa?

— O que Will? — falo já revirando os olhos.

— Um bofe. Com um puta pau pra dar um jeito nessa sua chatisse, assim nem eu te aguento!

— Por que eu ainda te escuto? — bato a mão de leve em minha testa.

— Por que eu sou muuuuuito feliz. — ele sorriu mostrando os dentes branquinhos e lindamente enfileirados, ergueu o rosto e o sorriso triplicou.

Cal estava na entrada do estacionamento, sorrindo em nossa direção, Will afagou minhas costas e se despediu, indo na direção do rapaz que agarrou sua cintura fina e lhe tascou um belo beijo na boca.

Só olhei por alguns segundos até ver que aquele beijo iria um pouco longe demais, com minhas bochechas fervendo, me retirei quase correndo e fui para a saída de pedestre. Passo uma das mãos pela minha bochecha vermelha enquanto a outra apoiava a pilha de livros em meu braço esquerdo.

As vezes eu queria ser um espírito livre e solto como Will, porém não conseguia, era tão centrado e responsável. As vezes eu tenho vontade de fazer uma loucura, sei lá, algo radical... Que eu nunca fiz como... Hm... Como...

Peter Pan!

— AAAAAH!!!

Em um pulo dou de cara com um poste, deixando os livros caírem no chão e minha testa latejando.

— Aí. — toco a mesma, a esfregando, olho para trás e vejo Max segurando meus livros.

— Uou! Cuidado, você vive na terra do nunca, não no mundo da lua!

— Nossa como você é hilário. — puxo os livros de sua mão, mas um lamento escapa de minha garganta e esfrego minha testa.

— Cacete... Vai ficar um galo feio ai Peter, tem que colocar gelo. — ele ergueu minha mão, seus dedos longos e firmes ao redor de meu pulso. — mas um beijinho também sara.

— Você é ridículo. — resmungo, e ele ri.

— Foi a coisa mais gentil que alguém já me disse. — ele fingiu limpar uma lágrima. — Vamos menino perdido, eu arranjo um gelo aqui pertinho pra você colocar nessa testa.

Nem pude falar alguma coisa, ele jogou um braço ao redor de meus ombros e num movimento ágil pegou minha mochila, pondo sobre as costas e me guiando pelos becos estreitos da cidade.

Em poucos minutos estávamos ao que me parecia uma loja de artigos antigos, a vitrine estava pouco iluminada, com várias estátuas de pedra e objetos pequenos de aparência velha.

Ele entrou, a porta balançou um pequeno sininho e se fechou atrás de nós.

— Tia! — ele falou bem alto, pondo minha mochila atrás de um balcão velho. — Velha caduca, já tá tarde, por que ainda não fechou? Tá vendendo erva? — ele bateu numa porta desgastada e a abriu, senti cheiro de fumaça e uma senhora de cabelo roxo apareceu, ela carregava um incenso numa das mãos pequenas e gordinhas. Seu corpo pequeno era coberto por um vestido abaixo de joelhos e um avental bege.

— Não me chame de velha caduca seu delinquentezinho! — a velha o espetou ele com o incenso.

Max deu um pulo para trás e a senhora olhou para mim de cima a baixo, logo abrindo um sorriso quase carinhoso.

— Mas que menino bonito você trouxe! Tão engomadinho, olhe para você... — pôs o incenso em um potinho.

— Tia...

— Tão engomadinho. — puxou levemente meu suéter e tocou meu cabelo. — é natural? Que bonitinho, é tão raro né?

— Tia!

— Cala a boca menino, não 'tá vendo que eu 'tô falando? — ela jogou o que me pareceu um lápis nele e voltou a me olhar. — mas olha essa testa! Ele tá machucado, por que não me avisou!? — ela brigou com Max

Ele fez uma careta e ambos começaram a discutir, minha boca tremeu, não aguentei, começando a rir, um pouco alto, tapei rápido minha boca, minhas bochechas e nariz avermelhando pelo humor e vergonha.

— Desculpem. — eu tossi, enxugando meus olhos. — vocês parecem se dar muito bem.

Max bagunçou o cabelo, olhando para mim e depois para a tia, ele umedeceu os lábios e pareceu relaxar um pouco.

— Vou pegar o gelo. — ele disse, dando as costas e entrando no corredor.

Eu dei um meio passo, erguendo o rosto pra suas costas.

— Max! — minha boca a agiu antes de meus pensamentos.

— Hm? — virou levemente o corpo em minha direção.

— Eu... — oh, por que havia ficado com vergonha de repente? Minhas bochechas ficaram rosadas mais uma vez. — me chamo Flinn.

Um sorriso travesso surgiu nos lábios perfeitos de Max.

— É sério? Flinn?

— É em homenagem ao meu bisavô irlandês. — formo um bico com os lábios e ele riu.

— Aham. Certo. — ele apoiou a mão na porta antes de entrar no corredor. - Bom, é um prazer finalmente conhecê-lo, Flinn.

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