Capítulo 2

135K 8K 2.3K
                                    


Já estava concentrada no livro, quando alguém senta na poltrona na poltrona ao meu lado. Desvio o olhar para ver quem estava ao meu lado, quando me deparei com dois olhos azuis, como o mar do Caribe, me observando. Arrumo minha postura e cruzo minhas pernas para ajustar o espaço que ocupo da poltrona.

Estamos sentados nas áreas onde tem apenas duas poltronas, então somos apenas nós dois na fileira. Eu escolhi a poltrona da janela para conseguir ir olhando a vista das nuvens e nem mesmo me preocupei com quem poderia sentar ao meu lado.

- Boa tarde! - Diz o homem de olhos azuis com um sorriso torto de tirar o fôlego de qualquer mulher. Percebo que ao sorrir, aparecem duas covinhas lindas em suas bochechas. Uma graça.

- Boa tarde senhor. - Respondo tentando usar toda a minha educação e autocontrole que Dona Lucinda um dia me deu.

- Oh, por favor! - Diz ele escondendo as covinhas maravilhosas. - "Senhor" não né?! Devo ter mais ou menos a sua idade. Estou aparentando ser tão velho assim?

Arregalo os olhos na mesma hora e tento responder:

- Ai meu deus, desculpe. Não quis te chamar de velho. Estava apenas tentando ser educada, juro. - Devo ter feito alguma das minhas caretas e corado um pouco, pois logo depois que termino de lhe responder, ele começa a rir.

- Não se preocupe. Estava apenas brincando contigo! - As covinhas estão em seu rosto novamente. Solto o ar que nem mesmo sabia que estava prendendo. - Aliás, tenho 25 anos. E se me permite a pergunta, quantos anos você tem?

- Não achei graça, tudo bem?! Realmente pensei que tinha te ofendido. Mas mesmo assim me desculpe por isso. - Dei uma pausa antes de responder sua pergunta. - Se você for velho eu também sou! Eu tenho 22 anos.

- Você tem um ótimo humor sabia? Gostei disso... - Ele sorri, enquanto eu coro com o seu comentário. Não sei porque estou tão envergonhada com ele. - Não falei que teríamos quase a mesma idade? Me desculpe, nem mesmo me apresentei para você. Prazer, Fernando Millard. - Ele estende a mão para mim.

- Obrigado, eu acho. - Falei um pouco receosa. Pego sua mão e logo sinto o calor de sua pele na minha. - Prazer é todo meu Fernando, me chamo Melanie Taste. - Tentei usar o meu sorriso mais sexy. Sim, eu estava querendo flertar com ele.

- E o que te leva a Nova York, minha querida Melanie Taste? - Perguntou ele.

- Por favor, não seja tão formal falando o meu nome inteiro. Se não vou ter que voltar a te chamar de senhor. - Digo lhe dando uma piscadela, enquanto ele ria do meu belo senso de humor. Eu estava me sentindo um pouco mais solta para conversa com ele. O livro já sendo deixado de lado no meu colo. - Respondendo a sua pergunta, meu pai se mudou para essa cidade maravilhosa e estou indo passar minhas férias com ele. E você? O que te leva à cidade que nunca dorme?

- Claro, então devo lhe chamar de ...? - Pergunta ele.

- Mel, apenas Mel.

- Tudo bem então Mel - Ele sorri de novo. Esse sorriso pode matar alguém! Estou começando a achar que não vou conseguir sair viva desse avião. - Interessante. Estou indo para a cidade para fazer um estágio de seis meses em uma das melhores empresas de advocácia.

Antes que eu pudesse responder, uma aeromoça aparece e pergunta se queremos alguma coisa para beber. Eu peço um copo de suco e Fernando pede uma garrafa de água. A moça nos serve e se volta para a outra fileira dupla ao lado.

- Então Fernando, quer dizer que você é advogado? - Falo sorrindo.

- Sim, quero dizer, ainda estou na faculdade. Pretendo me formar ano que vem e se não achar nada que me prenda à Orlando, venho para tentar alguma coisa em Nova York. - Não sei o motivo para essa frase dele ter me atingido como uma faca. O que está acontecendo comigo? É bem capaz que eu nunca mais o veja. - E você? Está fazendo alguma faculdade?

- Sim, eu estou fazendo engenharia têxtil. Estou no terceiro ano. Talvez daqui a dois anos possa me formar.

A nossa conversa durou o voo inteiro. Rimos e nos conhecemos um pouco. Quando o piloto avisa que já iremos pousar, solto um suspiro. Por mim ficaria aqui conversando com Fernando até eu morrer. Gostei muito dele. Ele é um homem agradável, bom de papo e maravilhoso. E não posso esquecer de falar que ele é lindo. Com certeza, muito lindo. Como será que ele ficaria no meu quarto? Afasto esses pensamentos da minha mente. Não posso pensar assim, nem vou ver ele de novo.

Assim que somos liberados para sair do avião. Fernando se despende de mim com um abraço rápido e um beijo na bochecha, fazendo com que minhas pernas fiquem bambas pelo resto do dia. Saímos juntos e ficamos em silêncio enquanto caminhavá-mos pelo corredor.

- Foi um prazer te conhece Mel. - Ele complementa assim que chegamos ao final do corredor. - Espero te ver algum dia!

Vamos para cada um para um lado assim que chegamos no desembarque. Olho para trás umas duas vezes, vendo as costas dele enquanto nos distânciamos. Não sei o que aconteceu comigo, nunca fui assim em relação a homem nenhum. Mas com ele foi algo diferente. Me senti totalmente a vontade na nossa conversa.

Adentrando a sala, vejo meu pai sentado com o celular em mãos. Me aproximo e assim que me vê, ele se levanta e corre na minha direção, diminuindo a pouco distância que ainda tinha entre nós.

Ele me abraça e me beija como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse sido eu a acha-lo com outra mulher na cama que ainda dividia com a minha mãe. Como se ainda fôssemos felizes.

Depois que meu pai me abraçou, ele fez o seu lindo discurso intitulado "saudade". Me livrei de seu abraço e dei minha mala de mão para ele levar.

Começamos a andar em direção à esteira de malas, onde o Fernando estava de costas a procura de sua mala. Assim que chegamos lá, meu pai pede para lhe avisar quando ver minha mala passando.

Tento fazer o que meu pai falou, mas Fernando começa a me olhar com aqueles olhos azuis e sorri. Sorrio de volta, mas sem que meu pai perceba. Logo depois, vejo que minha mala passou e que está indo em direção ao Fernando.

- Pai! Minha mala era aquela! Tente pegá-la. - Falo em um tom um pouco mais alto do que eu gostaria.

- Eu te falei para prestar atenção! O que está acontecendo com a minha filha observadora? - Ele resmunga.

- Será que dá para buscar a minha mala ao invés de ficar me criticando sem motivo nenhum? - Falo de um jeito meio grosseiro. Ele merece isso, não vou ficar sendo fofinha com um cara que não merece, certo? - Obrigado.

- Como sempre sendo irônica, não é mesmo Melanie? - Responde saindo do meu lado e indo buscar minha mala. Assim que levanto o olhar do chão, vejo Fernando puxando minha mala e logo em seguida, uma outra que suponho que seja dele.

Meu pai para a sua frente e o agradece pela gentileza de seu ato. Olho para ele meio desconfortável, mas assim que meu pai se abaixa para pegar a mala do chão, Fernando pisca para mim. Sorrio.

-Obrigado. - Digo com um meio sorriso. Viro para meu pai e pergunto. - Vamos? Estou cansada do voo.

- Tudo bem Mel, vamos. - William se vira para Fernando, o agradecendo de novo.

- Imagina senhor! É sempre um prazer ajudar. - Responde com um sorriso no rosto.

Meu pai começa a andar, mas assim que me viro para segui-lo, meu braço é segurado por uma mão quente, que quando encosta em minha pele, envia uma corrente elétrica por todo meu corpo. Nem preciso olhar para trás para saber quem é.

- Quero que me ligue ou me mande uma mensagem nesse número. - Um arrepio me persegue dos pés à cabeça quando ele sussurra com sua voz rouca em meu ouvido. - Quero te ver de novo Melanie Taste.

Logo depois que ele fala isso, coloca um papelzinho na palma da minha mão. Meu pai arrisca olhar para trás e então, começo a correr para ele não perceber que não estou atrás dele. Abro o papel em minha mão, e vejo um pedaço de guardanapo do avião com um número de telefone e seu nome: Fernando Millard. Percebo que foi escrito de forma rápida. Olho para trás e vejo Fernando andando calmamente com sua mala. Nossos olhares se encontram e eu continuo a ir em direção ao meu pai.

Simplesmente Acontece.Onde histórias criam vida. Descubra agora