- Eu, hein! - a garota de cabelos verdes limão rebeldes praticamente grita. - Parece até que eu vou deixar de usar short, no calor de Nuvai!
- Bem machista, essa atitude das roupas. - Leonard comenta com a amiga mexendo em sua barba. - Eu odeio vinho. Onde eu vou beber durante os fins de semana, Dayana?
- Eu vou beber escondido, isso sim! Já pensou em quantos bares vão perder dinheiro com isso!? Onde estão as leis?
- Não sei como, mas Dionísio Leone está criando elas especialmente pra nossa cidade.
- Se eu ver esse cara na rua, eu mando se foder...- ela prende o cabelo curto em um rabo de cavalo, e antes de terminar seu "discurso", o gerente os manda abrir as portas; a loja já estava pra abrir.
Os dois correm até as portas e janelas deixando a parede com o aviso, e logo a lanchonete estava toda iluminada.
Leonard tinha 26 anos. Não era de beber, mas não vivia sem tomar um whisky duas vezes ao mês ou sair numa madrugada para simplesmente não ficar em casa. E agora, o lazer era proibido. Ele já idealizava em sua cabeça cada um dos protestos que iriam acontecer. Fazer uma ditadura já é motivo de revolta, imagina com os jovens.
E claro, ele imaginava Dayana berrando que o Leone era um filho da puta com o rosto pintado e placas na mão. Ah, Dayana. Ela não tinha jeito.
- Ô, Leo.- ela chama, após um tempo. - Não apareceu nenhum cliente, ainda. São nove horas.
- Estranho... Mas abrimos há pouco tempo, talvez seja só um dia fraco.
- Leo. O senhor Haroldo não veio.- ela fala, em tom grave. Haroldo era um homem na faixa dos 50 anos, não era velho, mas para ela, todo mundo era senhor. Ele era viciado na comida da lanchonete e desde que havia se mudado para Nuvai absolutamente todos os dias ele estava ali.
- Nossa. Estranho.- ele se levanta da cadeira do caixa e procura o celular pra jogar Piano Titles, ele estava viciado. Nesse mesmo instante, os dois levam um susto, alguém entra na porta correndo e fazendo estrondos.
- Haroldo Viana e Catarina fugiram da cidade. - João, o gerente, cospe as palavras, e Dayana simplesmente faz uma cara feia pra ele, sem surpresa alguma.
- Explica de novo, lindo.- ela fala dando uma olhada de leve nas unhas.
- HAROLDO, VIANA E CATARINA FUGIRAM DA CIDADE!- ele berra, e Leonard leva um susto com o desespero dele. Logo começa a entender: Não se pode sair do território de Nuvai.
- Eles são loucos!? - Leonard finalmente compreende. - Está se formando uma ditadura, e eles fogem? Eles não lembram o que acontece na ditadura?
- Devem ser tão velhos que devem ter passado por ela. - Dayana fala e começa a rir. Ninguém ri com ela. Ela para, sem graça. - Okaaay... E qual é a penalidade mesmo? - ela vai até o cartaz e procura entre as 4 leis, e logo se alivia. - Gente, é só menores de 30 anos. O senhor Haroldo tá bem.
- Daí que você se engana!- o garoto de cabelo afro e óculos de fundo de garrafa aponta o dedo pra ela. - Catarina tem 30 anos! Viana tem 29!
- E quem são essas? - Dayana pergunta, vaga. João dá um tapa em sua testa, impaciente.
- São as filhas dele!
Leonard só observa, e ri antes de se lembrar da gravidade da situação.
- Espero que eles estejam bem...- Leonardo comenta, um pouco culpado por ter rido. - Três meses de serviços comunitários não podem ser a cadeia, mas ainda é horrível.
- Verdade, Leo. - Dayana lembra. - Três meses de serviços. Imagina quem trabalha o dia inteiro... Grande prejuízo.
- Deus queira que estejam bem. - João fala olhando brevemente para cima. - Estou estranhando o movimento da loja. Teve algum cliente?
- Ninguém. - Leo responde.
Então, trombetas praticamente pré históricas começam a soar alto, quase estourando os tímpanos dos funcionários da pequena lanchonete.
Dayana corre até Leo, assim como João, na máquina registradora, os três estavam tampando os ouvidos.
- O QUE É ISSO? - Dayana grita, e apenas Leonardo entende.
- JOÃO! O QUE É ISSO? - Leo grita, sem saber o que era também.
- É O NOVO GOVERNO! ELES... - Agora, tambores começavam a ressoar junto, e João faz uma careta. - ...DEVEMOS IR ATÉ LÁ!
Os três jovens saem com os ouvidos tampados até a esquina, onde todos corriam para chegar logo naquele lugar, a fim de acabar com esse barulho.
Dayana grita algo como "por aqui" quase inaudível, e os garotos seguem ela. Ela estava a frente e tinha visto então a corte, como se fossem reis, só que bem mais ridículos. O governador não estava ali.
O som de repente para, e então as ruas pareciam completamente vazias e silenciosas apesar de tantas pessoas.
- SOMOS A CORTE DE LEONE. - uma voz feminina anuncia. - VAMOS MANDAR A PRIMEIRA MENSAGEM AOS NÃO-DECENTES.
João e Leonard olham para Dayana, que estava com um vestido vermelho com flores amarelas por baixo do avental. Ela pensa duas vezes, e então corre do nada.
Ela ia trocar de roupa como um The Flash, esperava Leo.
- ... NÃO ESPEREM QUE PODERÃO FUGIR. - A mulher fala, vendo tantas pessoas assim como Dayana correndo. - ESTAMOS OBSERVANDO VOCÊS.
- Ah, não.- João dá um tapa na testa.
Aquele era o início de uma ditadura.

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INK
AdventureDepois que o governador havia criado novas leis de cidade "teste", os moradores de Nuvai ficaram indignados por não poderem simplesmente sair do território de lá, a única fonte de lazer que eles tinham na cidade minúscula. Leonard, trabalhando ap...