- Meu nome é Aurora. - ela diz. - Pronto. Já é o suficiente de perguntas.
O ser azul, agora denominado Aurora, estava presa nos braços de João, no colo dele, impaciente. O moreno também se esforçava muito para segura-la. Apesar de ser pequena, ela era forte e pesada o suficiente para um bom incômodo.
- Eu quero saber o que era aquele buraco na parede. - Leo ignora.
- Aquilo não é um buraco! Só por causa disso, me recuso a responder essa pergunta...- ela fala, suas pernas finas começam a adotar um tom de azul para um laranja claro, conforme a tinta caía de seus pés para o chão. Ela usava um vestido colado em seu corpo feito de pequenas pedrinhas pretas que pareciam ter se grudado nela e se formado ali mesmo. As pedrinhas iam caindo, e outras surgiam no lugar, formando um constante som delas batendo no chão.
- Então, o que é você? - ele pergunta, a olhando de cima a baixo.
- Quem sou eu. - corrige. - Eu não sou uma coisa. E eu sou uma guardiã do Salão das Memórias, um trabalho muitíssimo importante. Eu sou especial, um dos pouquíssimos fragmentos que tiveram a honra de existir para guardar algo tão essencial para a sua humanidade.
- O Salão das Memórias é o buraco?
- NÃO É UM BURACO! - ela berra e Leo sente um ligeiro incômodo em seus ouvidos. Ela era definitivamente irritante.
- Então me explique o que era aquilo de fato, se não você não sairá daqui. - ele responde, com autoridade. Parte dele estava amando aquilo (ele nunca foi bem uma definição de chefe), e outra sentia muito medo daquele desconhecido.
- Preciso que me soltem, então! - ela diz.
- E pra quê? - João pergunta, seus braços melados de tinta.
- Eu tenho que voltar pra casa... - ela fala para si mesma sem pouco se importar com a pergunta de João, ou se eles estavam a escutando. - Vocês estão vendo a pigmentação que cai dos meus membros?
Ela fala de maneira irritada, e continua:
- Eu sou feita dessa droga. Se vocês não me deixarem ir, eu morrerei. E aí não saberão de nada de todo jeito.
Os dois homens não sabiam se aquilo era verdade, mas não tinham opções.
- Então, você fale logo tudo - Leo responde - Antes que morra. Você não queria me matar? Como está pedindo isso pra mim agora?
Leo argumenta, quase rindo, mantendo os olhos fixos nos prateados dela. Eram enormes, obviamente não humanos. Sua boca era delicada, assim como seu nariz e formato do rosto. Definitivamente não era uma pessoa. Era como um elfo, um animal humanóide. E incrivelmente bonita.
- Tudo bem. - ela olha para o lado, com receio. - O Salão das Memórias é um mundo normal, diferente do seu onde todos são estranhos e não tem sanidade.
"Olha quem fala", João pensa.
- É um mundo feito do que vocês chamam de tinta. O mundo feito de suas inseguranças e segredos, das suas lembranças, das suas alegrias.
- Eu não estou entendendo absolutamente nada. - João suspira.
- Eu sei do que ela está falando. Memórias. - ele diz, lembrando-se do que viu. - Por que você complica tanto? Por que esse lugar existe?
- Como é que você se chama? - ela pergunta, desafiadora.
- Leonard. - ele responde.
- Escute, Leonard. - ela continua. - O Salão é feito da essência de vocês. De suas memórias. Esse lugar existe para guarda-las, se não elas iriam se extinguir, e sem memórias vocês não são nada nesse mundo miserável onde vivem. Infelizmente para que um mundo exista, o outro é necessário. Sem suas memórias, eu não vivo. E sem suas memórias, vocês não vivem.

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INK
AdventureDepois que o governador havia criado novas leis de cidade "teste", os moradores de Nuvai ficaram indignados por não poderem simplesmente sair do território de lá, a única fonte de lazer que eles tinham na cidade minúscula. Leonard, trabalhando ap...