O MISTÉRIO DA MAIONESE

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Leo permaneceu parado como uma estátua segurando com força a mão do seu amigo, torcendo para que nada o atinja. João começa a falar coisas sem sentido baixinho, olhando para todos os lados vendo as pessoas imobilizadas no chão, como um aviso macabro do que ainda poderia acontecer.

- Não se preocupe... - Leo fala, apertando a mão do amigo para que ele saia daquele estado. - Eles não vão se...

Em breves segundos, Leo sentiu uma dor vinda da espinha até o início da coluna. Ele revirou seus olhos com a sensação de que tinha levado um choque, e caiu no chão.

Desmaiou.

João começou a ficar mais desesperado ainda, lágrimas já começavam a brotar em seus olhos; ele não era um homem muito resistente àquele tipo de coisa. Ele segura o amigo e o suspende para coloca-lo de qualquer jeito em seu ombro, e corre. Corre com todas as suas forças até a lanchonete, onde eles poderiam saber o que é que ele tinha de "indecência".

Abre a porta de vidro de qualquer jeito causando os mesmos estragos que hoje de manhã, deixando o amigo deitado no chão do depósito que cheirava levemente a maionese. Leonard arregala os olhos instantes depois, assustado, mais desperto que nunca.

- Leo! Tudo bem? - ele pergunta se levantando para trancar a porta.

- Abre essa porta agora - ele diz, zonzo, colocando a mão direita tampando o nariz.

João o olha com um tanto de incompreensão, e ainda olhando para ele, abre a porta.

- Eu odeio maionese. - ele fala, abominando a palavra, com a voz anasalada pelo nariz estar ainda tampado. - O cheiro enjoativo me forçou a acordar.

- Você está brincando comigo, não é?

- Eu tô falando sério. - Leo responde, e em seguida tira a mão do nariz para se levantar com mais cuidado. - Vamos pra fora.

Os dois vão até ao caixa, Leo se senta na cadeira onde costuma ficar.

- Hã... Você tá bem?

- Só tonto. O que aconteceu comigo? - ele pergunta com a visão embaçada, só conseguia ver nitidamente o cabelo enorme do colega.

- Você foi atingido por um dardo, ou sei lá o que. - ele fala olhando para o braço esquerdo de Leonard, e logo faz uma careta. - Olhe.

Leo obedece e vê uma agulha azul atravessando seu braço exageradamente, e logo o retira do braço com uma pontada de dor.

- É um dardo um tanto estranho. - ele comenta, com uma careta de dor bem leve. - Você sabe onde está Dayana?

- Você não perdeu quase nada, Leo, eu só vim correndo te trazer aqui, e do nada você já acordou. Tomara que as outras pessoas também já tenham acordado.

- Não foi do nada. - Leo fala, sério, e depois abaixa sua cabeça de maneira sombria. - Foi a maionese.

João nesse momento pensa o que fez para merecer um amigo tão retardado.

O chiado da TV assusta os dois, do nada ela começa a encontrar algum sinal, ligando do nada.

- Deixa eu desligar essa porcaria. - João pega um dos banquinhos americanos da lanchonete e em cima dele alcança o botão para desligar a TV. O botão não parece responder.

O ruído continua, de vários pontos pretos e brancos aparece o padrão de cores da TV, e em seguida, ficava tudo preto. João então resolve desligar na tomada, uma péssima ideia. A televisão queima.

O cheiro começa a tomar conta da sala. João não entende o que aconteceu.

- Pelo menos esse cheiro é melhor do que o de maionese.

- Ignorando o fato da TV ter queimado do nada... - o moreno revira os olhos. - Eu só estou confuso. Por que diabos essas agulhas foram atiradas nas pessoas só por causa das roupas delas? O que é que tem em você? Tomara que Dayana esteja bem...

- Acho que deveríamos procurar. Procurar Dayana. Ela deve estar aqui por perto, escondida. - Leonard se arruma na cadeira. - Se bem que é difícil com aquele cabelo...

- E aquela maquiagem preta.

- E aquele piercing no nariz. - eles se completam, pensando em como ela ficaria se aceitasse os termos da ditadura. Não seria mais ela.

- Vamos procurar. - Leo se levanta bruscamente, e cai ajoelhado. Suas pernas estão fracas.

- Cuidado, Leo. É melhor você esperar um pouco. Daqui a pouco ela aparece.

Os dois ficam ali, se olhando, imaginando o que seria o futuro deles.

Eram de cidade pequena. Apenas João estava fazendo faculdade, Leo só queria ter dinheiro pra fazer isso fora da cidade, era praticamente impossível ele entrar numa pública. E então eles proíbem a saída das pessoas sem mais nem menos. A cidade poderia ter o tamanho de um bairro, mas ainda sim eram pessoas. E aquilo era incapaz de ser explicado.

Era como se alguém estivesse entrando na cabeça do governo para que eles mesmos fossem contra a lei.

- Finalmente encontrei vocês! - diz a mãe de Dayana, com a filha inconsciente no colo. Algo inexplicável, a mãe de Dayana era um graveto em comparação à filha.

E como uma boa mãe, Senhora Pagot derrubou a filha de qualquer jeito no chão.

- Não estava mais aguentando.

A filha parece não ter reparado o impacto, e a impressão era de que a mãe dela já havia derrubado Dayana outras vezes durante o percurso sem querer. João pega Dayana e a leva para o depósito correndo sem nenhum questionamento antes disso.

- O que está acontecendo lá fora? - Leo pergunta, percebendo que estão sozinhos.

- Nada. Quer dizer, nada agora. Todos estão carregando os corpos que foram atingidos. Uma amiga minha falou que o efeito dura 6 horas, mas ninguém sabe o que são esses dardos.

Leonard olha para o seu braço de relance, se perguntando porque teve tanta sorte do efeito ter sido curto para ele.

- Eu fui atingido. - ele responde. - E já estou acordado.

- Deve ter sido porque você é forte, meu querido. - a mãe fala, pensativa.

Neste momento, João, o rei dos estrondos com portas, abre a do depósito e sai correndo para onde Leo e Margarida Pagot estão.

- A maionese. - João fala. - A maionese cura!

- Como assim? - Leonard questiona.

-Só venham comigo. - ele fala, e os dois o seguem. Leonard no mesmo momento, tampa o nariz.

Dayana estava lá, acordada, sem entender nada do que lhe tinha acontecido.

Leo pisca os olhos, quase maravilhado.

- Eu sempre soube. - ele fala, vitorioso. - Ninguém suporta maionese.

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