— Esse garoto gosta de desmaiar, né? — Dayana resmungou, acariciando o rosto de Leo que estava no depósito, que agora tinha uma poltrona reclinável com sua frente para a parede vazia. João tinha acabado de colocar ali para que Leonard pudesse descansar, mesmo com receio de ficar ali. — Acho que ele desmaiou antes de ontem da última vez.
— Você não pode falar nada, Dayana. Se não fosse pela sorte, você teria ficado 6 horas desmaiada quando foi espetada por aquela agulha.
— Não foi sorte, foi a maionese. Você não consegue entender? São burros mesmo. — ela revirou os olhos para João. — Aquela Smurf que falou com vocês não falou que tudo que ela toca ou fica perto cura? O depósito deve ter essa magia dela aí. Ou ela disse isso, ou vocês mentiram pra mim.
— É mesmo... — João teve uma luz, colocando a mão na cabeça. Ele andava de um lado para o outro lentamente. — Você tem razão.
— Vocês precisam de uma mente pensando nesse grupo. Ai, ai. — ela suspira, convencida.
— Então acho que ele vai ficar melhor logo. — João disse. — Mesmo que não pareça. A febre só está aumentando.
— Vou pegar um termômetro pra ver mesmo como ele tá. — ela responde, se levantando do chão no mesmo instante.
— Não! — João estica o braço para alcançar Dayana, segurando sua mão, que assustada, fica corada, realçando suas maçãs do rosto bem redondas.
— O que é que foi, Jão? — ela pergunta, com o tom de voz mais baixo que o usual.
— Eu não quero ficar aqui sozinho. Eu tenho medo.
Ela começa a rir, e se aproxima dele.
— Você não está sozinho. — ela fala. — Você tem o nosso Leo, hm?
Ela fala, fingindo confortar ele com dois tapinhas no ombro.
João começa a rir falso.
— Mas tu não vai fazer isso.
— Por que não faria? — ela pergunta, passando o dedo dela pelo nariz dele.
— Porque eu sou seu chefe. Agora fica aqui que eu vou. — ele respondeu, rápido.
Dayana começou a rir de novo.
— Tudo bem, Boss. — ela diz, zombando. — Mas tu é um chato mesmo! espero que consiga tropeçar nesse caminho aí.
Até que seu comentário acabasse João já tinha revirado os olhos com um meio sorriso e batido a porta do depósito.
Leo continuava enfermo, sua febre estava horrível e o suor continuava escorrendo pela testa, mesmo que Dayana já estivesse limpando seu rosto com uma toalha mais de quatrocentas vezes.
Enquanto isso, João estava nas gavetas da caixa registradora, procurando primeiro suas chaves. Ele as encontra, e com um suspiro de alívio por estar onde havia deixado, vai até um quartinho minúsculo e sem olhar muito para o ambiente, arranja sua maleta de prontos socorros, assim como um documento que havia embaixo dele. Não deveria estar ali. Pensou também em trazer uma garrafa de água para Leo, então vai até o salão das mesas e tira do frigobar duas garrafas. A loja estava definitivamente fechada hoje, suas portas estavam fechadas e a única portinha pequena da grade pela qual podia se passar, João já tinha se encarregado de fechar, é claro, sem trancar, o que seria impossível do lado de dentro.
Mas parece que alguém tinha procurado as portas dos fundos, e com três batidas da porta no fim do corredor mal iluminado que desde então dava assombração para João, ele dá um grito com certeza não-másculo, fino e irritante.
— Quem tá aí? — ele coloca a mão nos óculos que estavam tremendo, talvez porque ele tivesse acabado de colocar suas mãos que pareciam se balançar como se tivessem levado um choque.
A pessoa não parece ter escutado, então João dá o mesmo grito, respondido por mais batidas.
Ele se aproxima da porta, receoso. João era um rapaz muito bonito, tinha seu cabelo encaracolado e Black com as pontas queimadas e mais claras. Seus olhos eram castanhos claros e expressivos. Seu maxilar era bem marcado.
Seria um galã se não fosse tão... Medroso.
No meio do corredor, com passos lentos e trêmulos, a porta escura lhe dava arrepios. Desnecessário? Talvez.
Compreensível? Talvez novamente.Quando seus olhos já estavam sem querer olhar para a porta, a batida se dá novamente três vezes, só que mais forte e mais determinado.
João pergunta de novo quem estava ali.
A porta se abre com um estrondo escandaloso. Ele grita algo como "Aaaaiiiii", fino e estridente, com as mãos na boca.
Era Dayana, que tinha aberto a porta do depósito.
E que em seguida teve um acesso incontrolável de risos.
— Você... Vo... Você... — ela começou a gargalhar ainda mais.
— Você parece um frangote! — ela fala com a voz alterada pelos risos.
João começa a rir junto com ela, sem conseguir respirar, já no chão de tanto gargalhar.
A porta bate novamente, só que agora parece só uma pessoa batendo na porta dos fundos. João tenta se levantar, mas está sem forças.
Dayana vai com um sorriso de orelha a orelha, seus cabelos curtos no rosto, até a porta.
Ao abrir, seu sorriso aos poucos se esvai.
Era um clone de Leo: a mesma poeira no rosto, os mesmos machucados (um pouco mais leves) nas pernas, o mesmo pó pelo corpo, a mesma face cansada.
Só que era uma mulher.
— Prazer, eu sou Úrsula. — ela fala, com um sorriso amarelo.
— Oi... Ursa?
— Úrsula. Bem... Acho que eu posso me apresentar. Eu sou uma rebelde. Eu sou contra o governo de Leone e... Acho que Leonard faz parte dessa aliança também. — ela fala, o mais lentamente para ser compreensível, mas o mais claro para não parecer retardada.
— Okay... Só comentando — João aparece atrás de Dayana, sem escutar o que ela tinha acabado de dizer. — Não estamos com vagas pra novos funcionários.
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INK
PertualanganDepois que o governador havia criado novas leis de cidade "teste", os moradores de Nuvai ficaram indignados por não poderem simplesmente sair do território de lá, a única fonte de lazer que eles tinham na cidade minúscula. Leonard, trabalhando ap...