Leo olha para os lados, mas tudo parece um labirinto de lustres.— Ei, você não está falando sério! Venha, vou tirar sua memória agora. Não vai querer atrapalhar a rainha, vamos. — ela fala, puxando Leo sem força alguma, porém, em desespero.
A mão que parecia ser de tinta escorrega pela mão de Leo. A tinta azul começa a ganhar vida, se espalhando pelo seu braço inteiro.
A sensação daquela tinta era de que ela queria entrar dentro da sua pele, como uma tatuagem, mas sem dor.
Aurora grita.
Leo grita.— O que aconteceu com meu braço?! — Leo exclama. — Isso não aconteceu quando eu te toquei na lanchonete!
— Eu não sei, mas nós gritamos, logo alguém virá ver o que houve. Venha comigo! — ela segura seu braço para guiá-lo e de novo, não dá certo. A tinta se espalha se intensificando mais no braço em um azul muito mais denso e indo até seu ombro e pescoço.
Leo berra, desesperado.
— Não toca em mim, idiota! — ele fala sem querer tocar no próprio braço com medo de contaminar o resto do corpo.
— Só me siga! — ela fala irritada, olhando para as suas mãos como se desconhecesse o que estava acontecendo, confusa. Ela queria apenas teletransportá-lo para outro lugar mais seguro. Depois, sai correndo pelo salão. Leo corre atrás dela e percebe o quanto era incrivelmente rápida.
O salão continuava repetitivo: Lustres flutuantes, luzes azuis e brancas, chão que parecia um espelho, refletindo mais azul ainda. Leo estava cansado daquela cor que agora infestava a si mesmo. Acima, o negro: Ele não tinha ideia de como poderia voltar pra casa agora.
No meio da correria, Leo toca em seu bolso e leva um susto. Onde estava o amuleto?
— Mulher! — ele grita para o serzinho azul.
— Eu não sou uma mulher! — ela continua correndo, e ele também, tentando alcança-la.
Depois de um instante, Leo lembrou o nome da criatura.
— Aurora! — ele grita de novo.
— Pare de gritar! — ela grita de volta sem olhar para trás. — Quer morrer?!
Leo para de correr, dá meia volta e procura pelo medalhão. Caminha rapidamente por todos os lados até, ao longe, ver a "moeda" de metal brilhando.
Ele corre até ela. Se ajoelha, segura-a com força, e fica aliviado como se tivesse escapado da morte.
Aurora nota sua ausência e vai até Leo o mais rápido que consegue.
— Vocês humanos não aprendem quando dizemos VENHA? — Ela realmente se estressa, e suas mãos se tornam alaranjadas. — Agora, CORRA, SEU VERME!
— Você vai tirar a minha memória! — Leo levanta-se, e é muito, mas muito mais alto que ela. Isso não a amedrontou. Não era ela que estava na casa dos outros agora.
Aurora encara ele, e por um instante é notável seu olhar de incompreensão. Era óbvio que ela estava sendo boa tirando suas memórias em troca de sua vida, para que ele nunca mais voltasse para o Salão. Por que humanos eram ainda, tão burros?
Leo a encara de volta, e está confuso. Não entende, e nem procura entender este olhar de Aurora. Ele passa seus olhos para o amuleto em sua mão, e consequentemente a criatura também faz isso.
Quando ela vê o medalhão na mão suja de poeira colorida (assim como o corpo inteiro) de Leonard, seus cílios grandes passam para um tom esverdeado, seus olhos amarelos e enormes que ocupavam quase o rosto inteiro, ficaram azuis de mil tons, e seu corpo foi adotando levemente um tom amarelo. Seus cabelos pretos que caíam no chão adotaram alguns fios coloridos por um instante, como se uma carga elétrica houvesse passeado neles até as pontas. Aquilo durou segundos, mas para Leo, as nuances do corpo dela duraram minutos de tanta fascinação. Suas expressões não eram apenas do rosto, como comumente é no ser humano, mas sim de todo o seu corpo.

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INK
AdventureDepois que o governador havia criado novas leis de cidade "teste", os moradores de Nuvai ficaram indignados por não poderem simplesmente sair do território de lá, a única fonte de lazer que eles tinham na cidade minúscula. Leonard, trabalhando ap...