BURACO

95 18 42
                                    

Úrsula tinha acabado de beber o suco de maçã que Leo fez com muito cuidado, apesar de estar parecendo água com açúcar.

Por isso ele trabalhava no caixa da lanchonete. Não daria muito certo na cozinha.

A menina agradece e fala que já tem que ir. Leo lhe dá um breve abraço e ela vai com um sorriso um pouco falso, distante, como se não estivesse tão feliz assim.

É, talvez fosse o suco que tivesse afetado o humor da coitada.

Leo vai tomar um banho, e quando já está apenas de cueca, recebe uma ligação desesperada.

De quem?

Do rei dos desesperos, claro. João.

- Leo, preciso que venha até a lanchonete agora.

- É sério? Porque eu vou tomar banho agora. O dia foi cheio, você sabe.

- VEM AGORA.

- Eu espero que seja importante. - ele suspira diante do grito abafado dá ligação. - Chego em meia hora, tá?

- Meia hora nada! Pegue uma moto, um táxi, qualquer coisa.

- Como você acha que eu vou achar um táxi nessa cidade? - Leo vai até seu quarto e abre o armário, procurando qualquer roupa, contanto que estivesse limpa.

- Por favor, Leo. - a voz de João está mais medrosa do que nunca. - Vem logo.

E então, acaba a ligação.

Leo pega uma camisa preta e uma bermuda branca - mais "decente" que isso, ele não iria encontrar - e depois colocou sua carteira no bolso e chinelos velhos do tio.

Trancou a porta de casa com receio, já havia escurecido até então. Começa a caminhar com passos apressados até uma rua mais movimentada e pensa se ele de fato encontraria um táxi naquele mundinho.

E ele encontrou.

O taxista estava vagando solitário e triste sem nenhum cliente. Até que Leo esticou seu braço exageradamente para que ele visse. O carro chegou perto da calçada e Leo encontrou um taxista muitíssimo feliz por ter encontrado finalmente um ser vivo querendo seus serviços numa cidade onde de pode ir ao outro lado a pé.

- Para onde...?

- Vai pra o centro. - ele responde, rápido. - Sabe o super-mercado de lá?

Deram-se as instruções, Leo liga para João. Seu contato ainda estava com uma foto de quando João ainda usava aparelho. Não ficava muito bom.

O celular chama por um minuto, até Leo desistir.

Um suspiro involuntário sai da sua boca.

Ele liga de novo. João ainda não atende. O que estava acontecendo? Leo não era desesperado, mas João nunca ligou depois do expediente naquelas situações.

O taxista chega ao destino em cinco minutos, o pagamento foi quase nada, mas o taxista já parecia ter alcançado a meta da noite e estava muito sorridente. Leo viu a lanchonete com a grade comercial trancada, daquelas quando as lojas fecham, mas com uma pequena abertura na direita. Ele se abaixa levemente e vê a lanchonete com pouca claridade, os bancos todos encima das mesas de cabeça para baixo e todas as janelas, exceto uma, fechadas. Já conhecendo o lugar, quase não tropeça. Era escuro, e a única fonte de luz era fraca, mas ainda sim ele soube reconhecer onde dava para o corredor. Antes de chamar por João, escuta curtos sons de choro trêmulo vindo do depósito da amaldiçoada maionese. Ao abrir, a porta range, Leo se impressiona ao ver o amigo em pé, estático, olhando para a única parede vazia. Em todas as outras do quarto pequeno haviam prateleiras de produtos, e ao lado da porta, duas vassouras e um rodo com a esponja já seca.

INKOnde histórias criam vida. Descubra agora