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Não demorou muito até que eu avistasse sua silhueta às margens do leito e seus cabelos flamejantes sob o sol. Aproximei-me discretamente e me posicionei a uma certa distância dela, empunhei meu arco e mirei em Tauriel, caso ela pensasse ser um inimigo com certeza tentaria me atacar e eu desviaria sua flecha.

Seu corpo ficou estático e em um átimo ela se virara já preparada para disparar contra mim, mas parou agachada com o arco à frente e pronta para se defender.

– Ingannen le Orch. [Pensei que fosse um orc.] – ela disse.

– Cí Orch im, dangen le. [Se eu fosse um orc você estaria morta.].

Nos endireitamos abaixando nossas armas.

– Tauriel – andei até ela – Não pode caçar trinta orcs sozinha.

– Mas não estou sozinha.

De forma incomum aquilo me trouxe um enorme alívio, ela sabia que eu não a deixaria, mesmo que Tauriel tenha habilidades extraordinárias eu nunca permitiria que ela enfrentasse isso ou qualquer outra sozinha.

– Você sabia que eu viria – dei um meio sorriso e Tauriel retribuiu com outro.

– O rei está furioso, Tauriel – recordei do que Thranduil havia me dito – Por seiscentos anos meu pai a protegeu, favoreceu. Você desafiou suas ordens. Traiu sua confiança. Dandolo na nin. E gohenatha. [Volte comigo. Ele perdoará você].

– Ú-'ohenathon. [Mas eu não] – objetou – Cí dadwenithon, ú-'ohenathon im. [Se eu voltar não me perdoarei.] O rei nunca permitiu orcs sujos em nossas terras. Mas deixa esse bando cruzar nossas fronteiras e matar os prisioneiros.

O anão mais uma vez, ela não citou o seu "admirador" na conversa, mas eu sinto a presença dele nas palavras de Tauriel. Bufei em reação a esse pensamento, o arrependimento me inundou completamente quando lembrei aquele dia na Floresta das Trevas, devia tê-los deixado seguir seu caminho em vez de leva-los para a Casa de Thranduil.

– Essa luta não é nossa – argumentei.

– É nossa luta – retrucou Tauriel – Não vai acabar aqui. A cada vitória esse mal crescerá. Se seu pai agir como quiser, não faremos nada. Vamos nos esconder em nossos muros, viver nossas vidas longe da luz e deixar descer a escuridão.

O rumo de meus pensamentos mudaram de sentido, o que Tauriel acabara de dizer me lembrou do que o orc que capturamos falou quando eu e Thranduil o interrogamos: "As chamas da guerra estão próximas." Era a isso que Tauriel se referia e tinha razão.

– Não fazemos parte deste mundo? – ela continuou – Diga-me, mellon [amigo]. Quando deixamos o mal ficar mais forte do que nós?

Nunca, segundo a ideologia de meu pai somos um reino forte e impenetrável. Mas da maneira como eu o vi refletindo antes de vir ao encontro de Tauriel percebe-se que a possibilidade de uma possível guerra que pode pôr à prova a resistência de nosso reino também o preocupa.

Fui tirado de meus delírios quando ouvi a voz de Tauriel.

– Devemos seguir o rastro dos orcs.

– Sim, é claro – concordei, voltei à realidade e analisei as pistas – Eles foram para Esgaroth.

– E como chegaremos lá a tempo?

– Podemos ir a maior parte do caminho em terra, mas depois precisaremos atravessar o rio. E não sei como conseguiremos fazer esta última parte.

– Isto eu resolvo – ela sorriu pretensiosamente.

Andamos em um ritmo apressado pela manhã e parte da tarde. Eu já estava com fome, sede e necessitando de um descanso.

– Tauriel – chamei-a, ela virou-se para mim – Vamos parar um pouco.

– Tudo bem – ela assentiu.

Providenciei alguns alimentos que encontrei pelo caminho, Tauriel acendeu uma fogueira para nos aquecermos e depois do pequeno banquete apreciamos o sol se pôr no horizonte. Sentamos um ao lado do outro em um tronco caído e contemplamos os últimos resquícios da luz alaranjada iluminando as nuvens.

– E lá se vai mais um dia de nossa eternidade – a voz de Tauriel soou suave, como a de um anjo.

– A eternidade só vale a pena quando se tem alguém com quem compartilhá-la.

O silêncio tomou conta do lugar assim como o crepúsculo cobriu o céu, dando brilho às primeiras estrelas que apareciam.

– Você já... – ela hesitou – Encontrou esse alguém?

– Sim – só ela parecia não perceber isso – Ela está tão perto de mim e ao mesmo tempo tão longe. Quanto a você, sei que já encontrou o seu "alguém".

– O quê? – perguntou confusa.

– O anão. – Tauriel permaneceu calada, dei uma rápida olhada em sua expressão constrangida, ela sabia que era verdade – Você não pode achar que sou tão tolo assim, Tauriel. Eu vi vocês conversando nas câmaras, ele falava com você como se fosse com a gente dele, íntimos demais para o meu gosto. Você nunca se preocupou com a segurança de nossos prisioneiros até capturarmos aqueles anões.

– Onde está querendo chegar? – sua voz soou ameaçadora.

– Que só embarcou nesta loucura e infringiu a ordem de Thranduil para salvar o seu amado anão – falei entredentes.

Tauriel levantou-se e eu também, ficamos nos encarando enquanto as narinas bufantes e os olhares furiosos exaltavam nossa ira.

– Não quero brigar com você, meu amigo – Tauriel falou com a voz calma – Pensei que depois de tantos séculos você me conhecesse o suficiente. Mas me enganei. Vou atrás do que acho certo, e o ideal agora é que acabemos com este mal que assola nossas terras e pode se tornar algo muito pior, não importa onde ou quem estiver no caminho.

Relaxei, respirei fundo e fechei os olhos por um momento. Eu tenho várias coisas entaladas na garganta a ponto de me asfixiar, e de repente fui impedido de despejar tudo isso apenas com a voz dela tentando disfarçar o que já está tão evidente para mim.

– E eu lutarei ao seu lado. Como sempre – sussurrei.

Legolas & TaurielOnde histórias criam vida. Descubra agora