Capítulo Um

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Uma ilha escondida da vista de muitos havia sido criada por puro capricho num canto remoto do mar Egeu. Todos os seres que ali habitavam eram simplesmente estonteantes. Desde os pardais, cavalos, pombos e cisnes que corriam ou voavam livres pelo lugar; até as ninfas e sereias que riam, cantavam e bebiam o mais refinado hidromel, enquanto aproveitavam o clima que era sempre agradável. Até mesmo as flores estavam em sua melhor forma no ápice do desabrochar, irradiando beleza e graça. Entretanto não era a fauna, a flora ou os seres sobrenaturais que se destacavam dentro de tão estimado recinto, mas sim, ela.

Aquela que se erguia de dentro de uma concha brilhante e de um tamanho absurdamente normal. Estava completamente nua, apenas com o longo cabelo cobrindo seus seios e sua intimidade, parada bem no meio da concha como se fosse a mais valiosa de todas as pérolas, e, de certa forma, ela era.

Afrodite, a deusa do amor, da beleza e da sexualidade, havia se cansado da vida no Olimpo e criara um paraíso pessoal, dado que ela gostava de estar cercada por coisas belas, mas sempre lembrando a todos que ela era a mais bela e sensual entre todas as criaturas.

Seu cabelo estava rosa e levemente ondulado naquele dia, uma combinação incomum mesmo que a deusa fosse uma transformista e seu senso de estética fosse tão exigente e instável quanto sua vontade, sempre procurando ser ainda mais bela, dia após dia modificando seu próprio corpo para elevar ainda mais o padrão de perfeição que todos esperavam dela.

A manhã estava bastante calma já que não era dia das famosas reuniões da deusa.

Jovens adultos de todas as raças eram atraídos de todo o mundo para a ilha, onde eles permaneciam de uma aurora até outra, talvez o horário escolhido fosse para zombar da deusa Éos, a personificação do amanhecer que já havia sofrido a sua fúria uma vez por ter dormido com Ares, deus da guerra e antigo amante de Afrodite. Os homens eram banhados em paixão e prazer providos pelas sereias e ninfas, apenas para se esquecerem de tudo quando saíssem da ilha. Contudo, aquele que se mostrasse mais viril e belo tinha o prazer de passar a noite com a deusa em sua concha, que se tornara sua moradia e provia a ela todos os objetos necessários para satisfazer seus desejos. E se tal ser acompanhasse o ritmo da deusa até o amanhecer, ele recebia a benção para encontrar seu amor verdadeiro assim que retornasse da viagem.

O soar das trombetas encantadas interrompeu o belo canto das sereias que costumavam cercar a concha da deusa e ficavam no lago, pois o mesmo tinha ligação com o mar, que era sua moradia e o local de nascimento de sua senhora.

Aquele som só podia significar que uma nova viajante havia chegado à ilha, algo que não acontecia com frequência, pois o caminho era longo e tempestuoso para aqueles que não estivessem sendo atraídos pela energia da deusa. Apesar disso, apenas seres do sexo feminino tinham permissão para entrar sem serem mortas. Qualquer ser do sexo masculino, salvo aqueles trazidos pela deusa, era morto assim que pisava na areia da praia.

Duas ninfas belíssimas como todas as outras surgiram por entre as árvores andando de forma graciosa, sem usar nenhum tipo de vestimenta. Esse era um requisito básico de Afrodite, pois de acordo com ela apenas aquelas que tivessem beleza em cada centímetro do seu corpo poderiam permanecer na sua ilha.

Um delas possuía o cabelo preto e quase tão longo quanto o da deusa e a outra tinha os fios verdes e curtos na altura do ombro.

– Ó, grande deusa! – Disseram em uníssono e se ajoelharam na beira do lago enquanto a concha de Afrodite de movia sem pressa em direção a elas.

– Minhas caras ninfas! Primeiro, deixem-me congratulá-las por chegaram até aqui e segundo, devo dizer que ambas parecem se encaixar nos meus padrões exigentes de beleza. – A expressão das duas se suavizou um pouco.

A Punição da DeusaOnde histórias criam vida. Descubra agora