Capítulo 2

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Gabriel

-Pai.

- Gabriel, você sabe que estou furioso com você...

Meu pai geralmente é muito controlado, sempre foi paciente e um pai muito amoroso e presente. Ultimamente tem reclamado que eu mal apareço em casa. O problema é que tenho muitos compromissos. Passo muito tempo viajando por causa das corridas. Cada quinze dias em um lugar diferente. Isso fez afastar-me um pouco da minha família, pois quando estou em casa meus pais estão trabalhando ou se tiram um tempo para mim sou eu que estou com algum compromisso. Acho que realmente ando em falta com eles mesmo.

- Pai, eu sinto muito.

- Sente? Você sente muito? Pois não é o que parece. Sabe o que parece, Gabriel? O que você deixa transparecer com as suas atitudes, é que não se importa com nada, não está nem aí por estar em cima de uma cama, muito menos se importa com a sua família. O que você está pensando da vida, meu filho? Não te passou pela cabeça que ficamos desesperados com seu acidente?

- Eu tenho certeza que ficaram papai, mas estou bem, não estou? Não foi nada. – digo isso mas paro um pouco para pensar no que meu pai falou. Eu me importo sim de estar em uma cama, de perder a corrida, de afligir minha família, mas não vou ficar me lamentando por isso.

- Tenho certeza que você não sabe a gravidade da situação, Gabriel. – Ele passa a mão pelo cabelo. – Acho que falhei com sua criação, olha pra você, um irresponsável que...

- Vitor, já chega. – Minha mãe intervém. – Tenho certeza que ele se importa. Isso serviu de aprendizado para que da próxima...

- Não haverá próxima vez, Karina. Estou cortando o patrocínio. Não... -Eu nunca o vi tão descontrolado em toda minha vida.

- O senhor não pode fazer isso pai. – Tento me levantar, mas acabo colocando força demais tanto no joelho quanto na mão machucada, com o movimento minhas costelas quase me matam. Tento não fazer cara de dor, mas falho. – Mal deu tempo de assimilar o que meu avô mandou fazer. Tenho certeza que o pneu estava...

- Conversa, eu estava ouvindo o tempo todo, e você disse "mais uma volta". – Ele aponta o dedo. – E isso para mim foi uma desobediência clara. Rubens mandou você parar.

- Pai, não pode estar falando sério em cortar o... não pode fazer isso. – Não consigo esconder o desespero. A corrida é minha vida.

- Posso. E vou fazer. Eu nunca tive a pretensão de montar uma equipe de Fórmula 1, fiz isso por você. Porque era o seu sonho... para tirar você do maldito buraco que estava se escondendo.

Ele acabou de tocar em uma ferida que jamais foi curada, isso me deixa com muita raiva por ele está em um momento como esse desenterrando o passado. Isso dói mais do que as fraturas que tenho no corpo.

- Deixa só eu te informar uma coisa Dr. Vitor, eu sou um piloto, um ótimo piloto, diga-se de passagem, basta fazer isso – estalo os dedos no ar sem esconder a arrogância. – e posso entrar na melhor equipe. Não sou mais criança para ter o aval do papai. - E quanto ao buraco, eu sequer saí dele, penso.

Todos ficaram em silêncio por um tempo. Minha mãe com os olhos marejados me olha suplicante, meu pai mantém seus olhos azuis iguais aos meus fixos em mim, duro e sério, desafiadores e o pior, decepcionados.

- Eu quero ver isso acontecer. – Ele cruza os braços. – Acha que alguém vai querer patrocinar um cara como você?

- Defina caras como eu, papai. – Falo irônico.

INTENSO E INESQUECÍVEL DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora