Capítulo 16 - Quando as coisas começaram a ficar estranhas?

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Eu segurava a câmera em minhas mãos, buscando por novos ângulos dos meninos remando. O time estava indo bem, mas a falta de Thomas estava deixando todos inseguros. Na noite anterior, eu havia ligado dez vezes para seu celular, mas não tive resposta, esperei por ele na varanda do meu quarto, mas também não apareceu.

As coisas estavam meio fora de controle desde o dia em que Charles se entregou. Matt, eu e Livy, estávamos buscando por mais provas contra ele, mas nada parecia dar certo, já que o menino estava bem afastado. As provas finais estavam chegando e junto com elas o frio e as comemorações de final de ano.

Me agachei perto do lago para fotografar melhor, quando senti algo viscoso se espalhando no meu lábio superior, toquei o local e quando vi o líquido vermelho, me desesperei. Olhei ao meu redor, mas o treinador e os meninos do time pareciam absortos em suas estratégias, então, me levantei e comecei a andar em direção ao banheiro mais próximo: o do ginásio.

Parei em frente ao espelho, deixando minha câmera em cima da pia, em um local mais seco e puxei rapidamente vários papéis e os coloquei no meu nariz levantando minha cabeça. Eu já sabia como lidar com aquilo, mas estava ficando um pouco fora do controle, era o terceiro dia seguido que meu nariz sangrava. Pressionei mais os papéis e me encostei na parede ao lado da pia, foi quando ouvi alguém sair de uma das cabines.

Crystal me encarou até chegar à pia.

— Problemas? — Seus olhos me olharam de cima a baixo.

— O frio.

Dei de ombros.

Não era como se a nossa relação fosse a melhor de todas. Sempre que estávamos juntas alguma faísca saía, mas naquele momento, olhando para seu corpo magro e suas mãos trêmulas lavando as mãos, a imagem de Charles apareceu.

Minha cabeça começou a pensar se ele fazia algo contra ela ou se ele já havia feito, mas ela parecia bem, apenas suas mãos indicavam algo errado.

— Problemas? — devolvi, apontando com a cabeça para suas mãos que seguravam alguns papéis.

— Não... — Sorriu sem mostrar os dentes.

—É Charles?

Merda

Meu cérebro parecia estar sem filtro.

Mais uma vez seus olhos foram de cima a baixo em mim. E eu senti que a qualquer momento ela poderia me matar apenas com eles.

Crystal caminhou até mim, quase colando seu corpo ao meu. Ela era um pouco menor do que eu, só que quando colocou uma das mãos ao lado da minha cabeça e ficou mais perto do meu rosto, senti medo.

— Cuida da sua vida, Hope. — disse entredentes. —Fica na sua ou faço esse seu nariz sangrar mais do que você já viu na sua vida. —Ela se aproximou mais e eu jurei que naquele momento eu sentiria a dor do seu punho. — Eu não sou como a Sabrina, eu não ameaço, eu faço.

Afastou-se mantendo seus olhos em mim, até que saiu do banheiro e eu fiquei a sós. Respirei fundo e tirei o papel do meu nariz, vendo que quase não tinha sangue por ali, olhei no espelho e tudo parecia normal.

Joguei tudo no lixo e peguei minha câmera.

Aquele momento havia sido completamente estranho para mim, porque Crystal não parecia ser o tipo de menina que ameaçava as pessoas por aí, nem que se irrita quando tocamos no nome do namorado.

Saí do banheiro e pensei em voltar para o treino, mas já deveria ter acabado e não estava mais com cabeça para aquilo. Meu celular vibrou no bolso do meu casaco e vi a foto do meu pai piscando na tela. Por alguns segundos desejei que fosse Thomas, mas não era. Ele estava fora do meu alcance.

As Suas Cores - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora