10- Matt

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— Acorda!
Gritou o delegado Fontana batendo na mesa de interrogatório aonde eu estava dormindo sentado.

   — Para de gritar.
Falei levando e mão até minha cabeça, foi então que percebi que estava algemado.
   —  Pra que isso?

   — Pra ter certeza que não vai a lugar algum.

   — Isso prova que você não duvida da minha capacidade de fazer você e seus policiais de idiotas.

   —  Se eu fosse você ficaria caladinho, não está em uma boa situação pra fazer piadinhas.

   —  E você é um disco arranhado?... Afinal, O que eu estou fazendo aqui? Que eu saiba não é um crime dar uma festa.

   — Quando você mora em uma casa, não em um condomínio aonde convivem outras pessoas que não são animais como você e seus amigos.

   — Nossa, animais? Estou ofendido.
Falei de modo irônico, fazendo com que ele revirasse os olhos. A maneira que eu o enxergava era mais nítida agora, diferente de quando me arrastaram pra cá. Eu não sei quanto tempo eu estou dormindo, mas essa soneca pareceu eliminar boa parte do efeito das bebidas e drogas que eu usei.

   — Mas esse não é o verdadeiro motivo de estar aqui.

   — Então para de enrolar e fala logo.

   — Rebel dogs, esse é o verdadeiro motivo.
Falou ele me fazendo soltar um sorriso sarcástico.
   — Fiquei sabendo de envolvimento seu com essa gangue que vem aterrorizando o nosso bairro a algum tempo, e adivinha só, eu não estou surpreso.

   — Você tem alguma prova?
Perguntei. É claro que eu estava na gangue já que eu ocupava um cargo muito importante nela, sair pichando as siglas dos rebel dogs em todo lugar não era uma tarefa fácil. Principalmente quando tinha que escalar prédios para fazer isso. Eu fiquei até surpreso pelo delegado que não sai do meu pé demorar para saber disso. Mas enquanto ele não tiver nenhuma prova contra mim, ele não pode me prender. Eu sei meus direitos. Eu li bastante livros de advocacia quando meu pai foi preso, porque eu acreditava que podia virar um advogado e tirá-lo de lá.

   — Isso é questão de tempo.
Falou ele me fazendo rir mais uma vez, isso só podia ser palhaçada.

   — Então porque eu estou aqui? Eu sei que não existe nada mais interessante do que eu, mas você não deveria ter outras coisas para resolver?

   — Escuta aqui garoto.
Ele bateu na mesa pela segunda vez, querendo impor algum respeito ou talvez medo em mim, mas tudo que ele conseguia era fazer eu dar risada da cara dele, de tão patético que é.
   — Você lembra que eu disse que se você aprontasse mais uma iria ser detido?

   — Eu sinto muito, seu sonho de me ver preso vai ter que esperar, porque tenho certeza que não fiz nada de mais pra estar algemado. Sobre as festa eu vou dar meu depoimento, no Máximo minha mãe vai assinar alguns papéis. Se querer dificultar as coisas pra ela, pode chamar o concelho tutelar. Sobre a gangue não tem provas contra mim, então eu imagino que não tenha motivos de eu ainda estar aqui.

Falei olhando diretamente para o Fontana que estava com olhar de quem queria me comer vivo. Eu imagino como deve ser horrível pra ele, um delegado respeitado pelo seus policiais e detetives, mas é passado pra trás pro um marginal como ele mesmo me chamar, por um marginal que tem menos que a metade da idade dele.

Fontana iria me responder algo mas na mesma hora um policial abriu a porta, impedindo que ele começasse com outras ameaças disfarçadas por sua autoridade.

   — A senhora Anderson está aí, ela já assinou os papéis para liberar o garoto.

Eu abri um sorriso na mesma hora, não apenas por minha mãe vir me buscar e me tirar logo daqui, mas sim pela cara de derrota do Fontana.

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