A Lenda das Estrelas

Capítulo 40

x Sofia x

A capital parece outro mundo. Uma mistura entre o que já fomos e a tecnologia que o mundo rejeitou. Parece o lugar perfeito para alguém como eu. Durante nossa viagem, usei meu equipamento para uma rápida pesquisa. Eles mantêm os infratores em torres de pedra. Talvez o lugar onde passarei um bom tempo, na melhor das hipóteses. Na pior, terminarei em um laboratório sendo dissecada. As palavras de Dante ficam se repetindo em minha mente.

Como seria o mundo se descobrissem o que me fez assim e usassem como uma arma?

Essas pessoas ao redor não estão preparadas para lidar com isso. As habilidades são parte delas. Mas, não posso ignorar mais o peso das vidas que tirei. Já tenho as minhas repostas, agora é o momento da minha confissão.

Laura permanece em silêncio ao meu lado. Estamos caminhando para um edifício de três andares, onde minha mãe disse ser o escritório de Malena. Não encontrei tanta informação interessante sobre a mulher. O que me chamou atenção foi o seu filho. Dante não me contou quem era sua mãe, mas pensando nossas conversas sempre eram mais direcionadas a nossa visão de mundo, gostos em comum ou sonhos distantes.

Mas, nada disso é mais importante. Agora preciso me concentrar no que irei dizer. Em como direi.

— Não fique nervosa. Malena sempre foi uma boa pessoa. E também é muito inteligente. Não é sem motivos que Tereza ainda não conseguiu derrubá-la. — Laura fala quando estamos passando pela porta principal. O prédio parece vazio. As escadas estão silenciosas.

Chegando ao terceiro andar, a recepção está vazia.

— Esperamos alguém aparecer? — Laura pergunta.

— Não podemos desperdiçar tempo. — falo já caminhando para a porta. Bato e sem esperar resposta abro já entrando. Não temos tempo para cortesia. Tereza pode estar agora mesmo posicionando aquela bomba contra qualquer comunidade. Um ataque e toda uma reação em cadeia nos levariam a uma guerra. Estamos todos em perigo.

E tudo é minha culpa. Se existe algum vilão a ser apontado, sem dúvidas eu sou a mais indicada. Fui eu que encontrei a bomba. Fui eu que iniciei essa sucessão de eventos catastróficos.

Laura se posiciona ao meu lado. Então eu reparo. Vejo a mulher alta parecida com Dante sentada de frente para Emily.

Dante está perto da janela. Está olhando com o rosto pálido. Como se eu fosse um fantasma. Como se realmente não suportasse olhar para mim.

— Desculpe a intromissão. Temos muita coisa para contar e resolver. Mas, primeiro preciso dizer que Tereza, líder de Veteris, está em poder de uma bomba poderosa. E temos certeza que a intenção dela não é fazer o que deveria e descartá-la. — falo me direcionando a Malena, mas minha atenção está divida. O que Emily está fazendo aqui? E uma parte de mim sente um profundo alívio por ver como Dante se recuperou bem, apesar de sua feição ainda estar sem cor.

— Malena, essa é minha filha, Sofia. Descobrimos recentemente muitos crimes cometidos por minha mãe. Mas, peço que você ordene a contenção dela neste momento, porque realmente acreditamos que ela fará uso dessa bomba. Depois poderemos explicar tudo. — Laura fala, segurando minha mão ao me apresentar. Não parece tão estranho quanto pensei que seria.

Por um momento todos permanecem em silêncio. Mas de repente algo parece muito, muito errado.

A primeira coisa que ouço é um grande barulho. Pela janela próxima a Dante, posso ver algo atingir uma grande torre, deixando apenas um rastro de escuridão, enquanto avança para nós.

Quando vejo isso, solto a mão de Laura e corro para Dante. Meus pensamentos não são coerentes, mas preciso alcançá-lo. Ele está no caminho do que está vindo.

Mas, não sou rápida o bastante. A escuridão está aqui. Ela entra pela janela, pelo teto. Tudo parece tomado. Não consigo ver mais ninguém. Não sei dizer onde estou e o que é chão ou teto. Só enxergo a fonte de todo o estrago. O objeto metálico se destaca.

Sinto o ar entrando nos meus pulmões, mas minha garganta parece em chamas. Meus joelhos falham, então relembro onde é o chão quando bato com a cabeça nele.

Este é o jeito que morrerei. Sei disso, como sei que depois tudo irá se acertar. Os outros vão sofrer, sem dúvidas, mas eu conheço essa escuridão. Eu li sobre ela. Os outros nessa sala possuem habilidades. Eles sobreviverão por causa da proteção natural que isso os concede.

Então Tereza vai pagar por tudo. Pelas vidas de Praetorium, e pela minha vida. Pela vida da qual fui roubada ao ser tirada de meus pais. Pela vida que sinto ser sugada pelos meus poros agora.

Mas antes de partir, me arrasto até o objeto tóxico. Sei como pará-lo. E sei que mesmo que os outros sobrevivam, os estragos na região seriam altos. A capital ficará infértil se eu não conter o material que se dissipa rapidamente.

Com muita dificuldade alcanço o mecanismo. A cada segundo minha respiração se torna mais difícil. Sou atingida por todos os lados por estar tão perto da fonte de destruição. Mas, consigo encontrar a pequena abertura. É difícil acreditar que algo de aparência tão frágil possa ser o responsável por tanta dor. Mas, por fim, consigo fechar girando a tampa na sequência correta, impendido que mais escuridão transborde.

Impedir que a bomba continue agindo não faz com que o estrago já feito seja revertido. Ainda estou morrendo, meu corpo se esparrama inerte no chão. Quando penso que meus olhos foram arrancados, que estou cega, percebo uma luz acima. Uma pequena estrela. Talvez isso seja a morte. Talvez eu me torne um pedaço incandescente de pedra. Talvez por todo o sofrimento que passei, ver toda essa vida virar apenas uma história, depois uma lenda pelos céus, seja um consolo.

Gradualmente vejo outras estrelas acedendo. Elas tomam a escuridão agora. E por um instante posso ver o rosto de Dante. Ele está caminhando até mim. Brilha como os pequenos pontos ao nosso redor.

Fico feliz por morrer vendo um rosto que despertou tantas coisas boas em meu coração. No momento mais sombrio, ele fez com que eu sorrisse. Então sorrio agora. Sorrio e não sinto medo da morte.

Então, fecho meus olhos.

xxx

Não me odeie <3