Capítulo 4

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Lucas estava terminando de arrumar a mala, quando sua mãe chegou.

— O que você está fazendo? — ela perguntou.

Respirando fundo, se preparou para o embate. Desde que o acidente tinha acontecido, Elisa estava ainda mais protetora —se é que isso era possível — e sabia que a decisão que tomou não a agradaria, mas ela não conseguiria demovê-lo.

— Para onde você vai? — insistiu.

— Vou atrás de Isabel — falou, tranquilamente.

— O que? — Elisa perguntou, surpresa. — Você não está em condições de ir a lugar algum! Acabou de sofrer um acidente, Lucas, não pode sair por aí, perambulando, à procura da sua ex-esposa! Você nem mesmo sabe onde ela está! —argumentou, esperando que assim ele tirasse aquela ideia estúpida da cabeça.

Não tinha falado que fora atrás de Isabel justamente para evitar que ele tivesse essa ideia. Apenas se limitou a contar que eles tinham se separado há quase dois anos por diferenças irreconciliáveis, e, mesmo assim, só o fez quando o filho não lhe deu mais nenhuma escolha. Ele ficava tão alterado, tentando saber a verdade que ela temeu que isso fosse pior do que descobrir sobre a separação e acabou falando, mas nada a faria dizer o real motivo do fim do casamento deles. Isso ele não conseguiria suportar.

— Sei onde ela está — falou, enquanto fechava a mala.

— Como?! — perguntou, incrédula.

— Pedi a minha secretária para que contratasse alguém para achá-la.

Droga! Como ele encontrou tempo para fazer isso?!. Desde que tinha lhe falado sobre a separação, tinha ficado atenta para o caso de Lucas tentar procurar a ex-esposa, o que ele ameaçou fazer, quando pressentiu que Elisa não estava contando toda verdade. Não podia deixar que ele encontrasse Isabel. Se o filho fosse até lá, Isabel com certeza contaria toda a verdade e, honestamente, Elisa não poderia culpá-la por fazer isso.

— Não pode sair assim, Lucas! — suplicou. — Você ainda está em recuperação, tenho certeza que os médicos não aconselhariam...

— Falei com Dr. Gilberto hoje e ele me liberou para viajar. Pode confirmar, se quiser, mãe. Além disso, faz mais de três meses que sofri o acidente. Já me recuperei totalmente — falou, sabendo que ela ligaria correndo para o médico.

— Não gosto da ideia de você sair dirigindo por aí depois...

— O acidente não foi culpa minha, mãe. — Pelo menos era o que dizia a perícia, já que não se recordava de nada do episódio. Mais uma vez se empenhou para lembrar algo, nem que fosse um flash, porém o esforço foi inútil, só servindo para aumentar a dor de cabeça irritante que sentia. 

— Mas mesmo assim...

—  Certo, mãe! — interrompeu-a mais uma vez, a paciência no limite. Estava tentando lembrar que ela estava fragilizada com tudo o que ele tinha passado e como esse episódio estava sendo desgastante para todos, mas sua mãe não estava ajudando. — Quer que eu fique? Então me diga o que aconteceu, me conte porque Isabel foi embora — deu-lhe um ultimato.

— Já lhe falei. Vocês já não se entendiam, brigavam sem parar e resolveram se separar. Algo que acontece com boa parte dos casais, nada de extraordinário.

— Ok, mãe. Sei que tem algo a mais e já que não quer me dizer, tenho certeza de que Isabel não terá nenhum problema em falar, já que nosso casamento terminou por diferenças irreconciliáveis. — Conhecia bem o gênio da sua mulher e, se pelo menos essa parte fosse verdade, ela não teria nenhum pudor em detalhar essas diferenças.

— Você poderia pelo menos levar o meu motorista — tentou, aceitando que não tinha como evitar que o filho partisse.

— Não pretendo voltar hoje, mãe. E posso ter perdido parte das minhas lembranças,mas ainda sou perfeitamente capaz de tomar conta de mim mesmo — falou, mordaz.Não queria usar aquele tom com ela, mas estava cansado de ser tratado como um inválido.

Elisa quase riu. Se dependesse da hospitalidade de Isabel, Lucas estaria de volta antes do anoitecer.

— Está bem — conformou-se. Não podia fazer mais nada a não ser rezar para que Isabel mentisse e mentisse melhor do que ela. — Ligue-me, quando chegar lá.

Saiu, prometendo tomar cuidado e avisar assim que chegasse — só sua mãe para fazê-lo se sentir uma menino de dez anos, quando já tinha mais de trinta.

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